Extra – Sobre Lili Jaffe

8 de setembro de 2015

– Noemi, Lili e Leda Jaffe (JL/Folha)

Eu conheci Noemi Jaffe (escritora, professora e pesquisadora da USP) em 2013, por conta do lançamento de seu livro A Verdadeira História do Alfabeto. A proposta do livro me parecia fascinante: inventar biografias para todas as letras do alfabeto. Entrei em contato com a autora e marquei uma entrevista, que virou o AntiCast 72 – A Invenção do Alfabeto, com Noemi Jaffe.

Pesquisando mais a fundo, acabei descobrindo que em 2012 ela tinha lançado um livro chamado O Que Os Cegos Estão Sonhando? Era o diário de sua mãe após ter sido libertada de Auschwitz.

Em 1944, Lili Jaffe tinha 17 anos e morava na antiga Iugoslávia. Quando os nazistas chegaram, levaram ela, seus pais e irmão para Auschwitz, o campo de extermínio mais emblemático da II Guerra Mundial. Somente ela e o irmão sobreviveram.

Há anos eu tinha a vontade de conversar com um sobrevivente do Holocausto. Seria uma maneira de eu ter contato com alguém que é prova viva de um dos eventos mais cruéis da história. Uma sobrevivente que havia escrito um diário então parecia a oportunidade ideal para documentar de uma forma especial. Foi a motivação necessária para a criação do Projeto Humanos.

Marquei uma entrevista no início de 2015, quando até então havia apenas um episódio piloto produzido (O Bom de Briga, uma história do meu pai),  para testar o formato storytelling em podcasts. A entrevista durou uma tarde inteira, na qual eu pude entrevistar Lili Jaffe e suas filhas, Noemi e Stela.

O plano original era que a história da Lili fosse apenas um episódio, dentro de uma primeira temporada com várias histórias diferentes. Mas em Julho de 2015, durante as minhas férias, eu comecei as edições. Um episódio virou dois, depois três e, quando vi, já tinha uma temporada inteira, dedicada apenas à história dessa sobrevivente. Todos permeados pelas preciosas informações fornecidas por Carlos Reiss, do Museu do Holocausto de Curitiba e, mais adiante, Filipe Figueiredo, do podcast Xadrez Verbal.

Até hoje eu não consigo acreditar que consegui ter essa oportunidade, de conversar com uma sobrevivente. De conversar com Lili. De ouvir sua voz, ler seu diário, ver os números tatuados em seu braço. E não consigo deixar de pensar nas milhões de vozes, livros e histórias que perdemos no Holocausto.

É difícil passar por uma experiência dessas e não perceber como nossas vidas são frágeis. E como só nos resta torcer, e lutar, o tanto quanto nos for possível, para que isso não ocorra novamente.


Shoah Foundation – fundação de Steven Spielberg que se dedica em registrar relatos de sobreviventes do Holocausto, onde Lili contribuiu com seu testemunho. Você pode acessar a ficha dela aqui (em sérvio – site exige cadastro).

Agradecimentos especiais à jornalista Gabriela Giannini, que me ajudou nas transcrições dos áudios originais, o que foi fundamental na etapa de edição.


Ivan Mizanzuk é professor universitário de Curitiba-PR. É co-autor do livro Existe Design?, autor do romance de terror Até o Fim da Queda, idealizador dos podcasts AntiCast e Projeto Humanos. Já publicou alguns textos no portal B9, dá cursos de storytelling, já foi designer e hoje acha que é mais fácil ser chamado de jornalista (pelo menos até as pessoas saberem o que é um podcaster).