Enciclopédia do caso Evandro

Extras Episódio 06

A OSSADA
Surge um novo fato em torno do caso Leandro Bossi. O delegado Luiz Carlos de Oliveira, em depoimento prestado em 2005 no julgamento de Airton Bardelli e Francisco Sérgio Cristofolli, relata que durante o período que os sete acusados estavam presos apareceu em Guaratuba outro cadáver, no mesmo matagal onde a suposta ossada de Evandro Ramos Caetano foi encontrada, vestido com a roupa de Leandro Bossi. Junto dessa ossada estava jogado a cueca de Leandro Bossi, chinelo e uma mecha de cabelo. O corpo foi reconhecido pela mãe de Leandro mas após o exame de DNA, foi constatado que se tratava do corpo de uma menina.

 

A ossada foi encontrada em 05 de Março de 1993. O resultado do exame de DNA, realizado pelo Instituto Gene, de Sérgio Danilo Pena, em Minas Gerais, ficou pronto apenas em 17 de Janeiro de 1994. Mas só foi anexado ao inquérito de Leandro Bossi no dia 16 de junho de 1995.

 

DOWNLOAD LAUDO DNA OSSADA

 

No dia 2 de Novembro de 1993, dia de Finados, João Bossi foi rezar para essa ossada, fosse ela de quem fosse. Segundo ele, neste dia, alguém teria atirado nele. Para ele, isso ocorreu porque “alguém não queria que ele descobrisse a verdade”. João questiona que havia uma residência nas proximidades: se o corpo tivesse apodrecido ali, ele teria sido detectado mais rapidamente. Reforça assim a hipótese de que o corpo pode ter sido plantado ali. As suspeitas de João também estão voltadas para a possibilidade de que Diógenes Caetano dos Santos Filho tenha feito essa armação.

 

Em uma matéria da semana de 24 de Junho de 1996, do jornal Hora H, João Bossi dizia que ouviu falar que a ossada teria vindo do IML da cidade de Joinville-SC e que Diógenes Caetano dos Santos Filho havia trabalhado naquele IML. A jornalista Vânia Mara Welte, autora da série de reportagens “As Bruxas de Guaratuba”, investigou essa afirmação e descobriu que os funcionários do IML negavam que um corpo havia desaparecido de lá, assim como afirmaram que Diógenes nunca foi funcionário de lá.

 

DOWNLOAD MATÉRIAS DE VÂNIA MARA WELTE PARA O JORNAL HORA H

(agradecimentos ao jornalista Luis Izalberti, que compilou as matérias e fez esse relatório)

 

 

LINHA DO TEMPO MENCIONADA NO EPISÓDIO

  • 6 de Abril de 1992 – Evandro some

 

  • 11 de Abril de 1992 – o corpo que é identificado como sendo o dele aparece num matagal a 1900 metros da sua casa. Errata: no primeiro episódio do Caso Evandro, mencionamos que a distância era de 800 metros. Essa informação estava em algumas matérias de jornal da época. Olhando o mapa do inquérito policial original, lá aparece bem evidente: 1900 metros.

 

Mapa que demonstra o local onde o corpo foi encontrado

 

 

  • 02 de Julho de 1992

 

  • MANHÃ

Foram presos Vicente de Paula Ferreira (que estava em Curitiba e foi trazido para Guaratuba), Beatriz Abagge e Celina Abagge (que estavam em Guaratuba).

 

Há uma fita cassete com confissões de Beatriz Abagge e Celina Abagge, relatando terem matado o menino Evandro. Essa fita foi gravada  pelo grupo ÁGUIA, da Polícia Militar, que realizava uma investigação paralela, sem o conhecimento da polícia civil (no caso, o Grupo TIGRE). Essa fita provavelmente foi gravada na manhã do dia 02 de Julho

 

 

  • NOITE

As Abagge prestam depoimentos formais no quartel de Matinhos, município próximo a Guaratuba, com advogados acompanhando. Já naquele depoimento formal, elas negam tudo e dizem que foram forçadas a confessar. Seus advogados assinam os depoimentos sob protesto, alegando que o escrivão não estava escrevendo com detalhes o que elas relatavam.

 

Nessa mesma noite, Vicente de Paula Ferreira, Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos Soares, sem advogados, confirmam que participaram do sequestro e assassinato do menino Evandro

 

 

 

 

  • 12 de Julho de 1992 – o delegado Luiz Carlos de Oliveira Oliveira foi interrogá-los. Na ocasião, Osvaldo teria mencionado pela primeira vez que estava sendo coagido a confessar a participação no caso Leandro, assim como no caso Evandro

 

  • 13 de julho de 1992 – em acareações dos três primeiros presos com as Abagge, Osvaldo passou a negar sua participação e afirmar oficialmente que estava sendo coagido. Davi e Vicente continuam afirmando tudo o que já haviam relatado. As Abagge continuaram negando.

 

  • 14 de Julho de 1992 – é aberto um inquérito policial para investigar maus tratos e espancamentos que os três homens estariam sofrendo no presídio do Ahú. Vicente e Osvaldo relatam que estão apanhando, enquanto Davi nega que isso esteja acontecendo.

 

  • 16 de Julho de 1992 – Davi e Vicente continuavam afirmando que sabiam ou participaram do rapto de Leandro Bossi. Osvaldo negou tudo.

 

  • 28 de Julho de 1992 – em audiência com a juíza Anésia Edith Kowalski, os sete passaram a negar as participações e afirmarem que estavam sendo coagidos.

 

 

“Senhor Diretor,

 

De acordo com telefonemas anônimos recebidos por esta autoridade, colocando dúvidas sobre o desaparecimento de Leandro Bossi, e o encontro do cadáver de Evandro Caetano, sendo possível, requeiro dentro das possibilidades, exame de DNA na colheita do sangue dos pais de Leandro Bossi, para dirimir as dúvidas ora existentes.”

 

DOWNLOAD PEDIDO DE OLIVEIRA POR EXAME DE DNA

 

  • 24 de Agosto de 1992 – o Instituto Gene, do Dr. Sérgio Danilo Pena, em Belo Horizonte, recebe o material para análise do DNA do corpo identificado como sendo o do menor Evandro Ramos Caetano. A maneira como a coleta do material foi feita pelo então delegado João Ricardo Kepes Noronha não é deixada clara nos autos – e isso é algo que as defesas vão se atentar em todas as oportunidades para criticar o laudo do DNA.

 

  • 28 de Setembro de 1992 – o delegado Luiz Carlos de Oliveira pede desligamento do caso Leandro, alegando que entrou em divergências com o promotor designado, Antônio Cesar Cioffi de Moura.

 

  • 7 de Novembro de 1992 – sai o primeiro laudo de DNA do Instituto Gene, dando como inconclusivo

 

  • 9 de Dezembro de 1992 – sai o segundo laudo, que já aponta que o cadáver era realmente de Evandro Ramos Caetano. As defesas alegam que o segundo laudo não era conclusivo

 

  • 05 de Março de 1993 – é encontrada a ossada com as roupas de Leandro Bossi, perto do local onde foi encontrado o corpo identificado como sendo o de Evandro Ramos Caetano

 

  • 21 de Março de 1993 – sai o terceiro e último laudo do Instituto Gene, afirmando que o corpo encontrado em 11 de Abril de 92 era mesmo o de Evandro Ramos Caetano

 

DOWNLOAD DOS TRÊS LAUDOS DE DNA DE EVANDRO

 

 

  • 14 de Abril de 1993 – é concluído um laudo de exame da ossada humana encontrada com as roupas de Leandro Bossi

 

  • 7 de Maio de 1993Paulina Bossi e João Bossi, os pais de Leandro, tem seus sangues colhidos para o exame de DNA da ossada

 

  • 10 de Maio de 1993 – o Instituto Gene recebe o material para análise de DNA da ossada encontrada com as roupas de Leandro Bossi

 

  • 10 de Junho de 1993 – o jornal Folha de Londrina publica uma entrevista exclusiva com Celina e Beatriz Abagge, na qual elas revelam pela primeira vez ao grande público os detalhes de como teriam sido as torturas que sofreram para confessar. A matéria foi escrita pela jornalista Monica Santanna

 

  • 02 de Novembro de 1993 – numa terça-feira de finados, João Bossi teria ido fazer uma reza no local em que foi encontrada a ossada com as roupas de seu filho. Segundo ele, enquanto estava lá, alguém teria tentado atirar nele

 

  • A ossada teve seu DNA examinado também no Instituto Gene. Não é possível dizer com exatidão quando foi que João Bossi ficou sabendo do resultado. Na entrevista que realizamos, ele informou que demorou muito tempo, a ponto de ele achar que tinham esquecido disso. O laudo conclusivo do Instituto Gene, no qual ele indica que o DNA da ossada não possui parentesco com a família Bossi e indica ser de uma menina, data do dia 17 de Janeiro de 1994. Contudo, o ofício da Polícia Civil que atesta essa informação data apenas do dia 16 de Junho de 1995. Eu não sei dizer se houve laudos preliminares a esse. Ao menos não parecem constar nos autos do caso Evandro. 

 

DOWNLOAD DNA OSSADA

 

  • 15 de Outubro de 1995 – o delegado Luiz Carlos de Oliveira e o advogado de defesa Antonio Augusto Figueiredo Basto, vão ao programa de televisão “Jogo Limpo”, da TV Independência, e revelam que a ossada encontrada era de uma menina e que dos três laudos de DNA de Evandro, dois teriam sido inconclusivos – argumento que é questionado pela promotoria, que por sua vez aponta que o segundo laudo já era conclusivo

 

 

 

A MARCA NAS COSTAS

Existe uma fita VHS da necrópsia do corpo encontrado no dia 11 de Abril de 92. Nela, não há um momento em que o corpo é colocado de costas.

 

A foto que mostra as costas do corpo identificado como sendo o de Evandro vem de um documento datado do dia 6 de Setembro de 1993 – ou seja, quase seis meses após o resultado final do exame de DNA.

 

Este documento é intitulado “Trabalho Pericial”, assinado pelo perito Arlindo Blume – que, como se auto define no próprio documento, era “perito criminal aposentado e ex-diretor do então Instituto de Polícia Técnica do Estado, cargo esse que o infra-assinado exerceu por longo tempo, paralelamente aos cargos de professor de Medicina Legal e de Técnica Criminal, na Universidade Federal do Paraná, na Faculdade Evangélica de Medicina deste Estado e na extinta Escola de Oficiais Especialistas da Aeronáutica”.

 

Este laudo foi feito a pedido dos então advogados de defesa de Beatriz e Celina Abagge, Moacyr Corrêa Filho e Ronaldo Albizú Drummond de Carvalho. O documento é bem longo, mas basicamente ele diz que houve erros nos procedimentos de reconhecimento do cadáver.

 

Ao final deste documento, há uma série de fotos, entre elas as fotos do corpo encontrado em Abril de 92. Na legenda da figura nº 2, lê-se, “Fotografia do cadáver em decúbito prono [ou seja, de costas] (já no interior da urna), mostrando o estado geral da face posterior do tronco e dos membros inferiores.

 

Cobrindo as nádegas, vê-se a bermuda de algodão com desenhos estampados, a que se faz menção no laudo de exame e levantamento do local.”  

 

Além dos laudos de DNA, há dois laudos principais referentes à análise do corpo, que são inclusive os primeiros: no caso, o laudo de levantamento de local de achado do cadáver e o exame de necrópsia. Em nenhum desses laudos há essa foto que o perito Arlindo Blume usa em seu documento.

 

Não há dizer como que ele teve acesso a essa foto. Olhando para ela, parece verídica, quando comparada com as outras fotos tiradas no dia. A qualidade da cópia que temos não é boa o suficiente para verificar se existe essa marquinha nas costas ou não. Vocês terão que confiar (ou não) nas palavras de Luiz Carlos de Oliveira.

 

De qualquer forma, supomos com certa segurança que o Dr. Arlindo Blume tinha acesso às fotos do Instituto de Criminalística do Departamento de Polícia Civil do Paraná – afinal, ele foi diretor do Instituto de Polícia Técnica do Estado por muitos anos. E daí, a pergunta que parece ser mais interessante é: por que essa foto das costas do corpo não foi colocada nos primeiros laudos?

 

No programa Jogo Limpo de outubro de 95, Antonio Augusto Figueiredo Basto mostra essa foto, justamente mostrando o trabalho de Arlindo Blume. E esse vídeo foi mostrado no júri. Logo, todos os presentes (inclusive os promotores) viram que existia uma foto das costas do cadáver.

 

DOWNLOAD LAUDO LEVANTAMENTO DE CADÁVER

DOWNLOAD LAUDO NECRÓPSIA

DOWNLOAD LAUDOS DNA EVANDRO

DOWNLOAD LAUDO ARLINDO BLUME – TRABALHO PERICIAL

 

 

ARUBA?

Nos júris de 2004 e 2005, o delegado Luiz Carlos de Oliveira relatou uma viagem que chegou a ir para Aruba, no Caribe, por achar que encontraria Evandro Ramos Caetano lá, vivo. Ele teria tido essa suspeita após analisar estranhas atividades telefônicas dos avós de Evandro, que teriam recebido longas ligações de Aruba. De acordo com seu depoimento, ele teve acesso a esses registros telefônicos mesmo sem autorização judicial.

 

Luiz Carlos de Oliveira é uma dessas figuras ambíguas em que você nunca sabe direito no que acreditar. Aliás, esse caso é cheio dessas figuras, como vocês podem ter notado. Dependendo de que lado você está, ele pode ser o grande salvador de uma grande injustiça, pois foi o primeiro a dar ouvidos aos apelos de Osvaldo Marcineiro. Ou ele pode ser um agente enviado por algum poderoso para atrapalhar todo o caso e safar os sete acusados. Ou pode ser nada disso.

 

De tudo isso que envolve Oliveira e principalmente o caso Leandro Bossi, o que mais nos intriga é a ossada da menina. Até hoje, ela se mantém um mistério. Nos materiais extras do episódio anterior, nós colocamos uma matéria do Jornal Folha de Londrina, do dia 6 de Março de 1993. Nela, aparece uma foto da cueca que foi encontrada junto com a ossada.

 

Por que uma cueca estaria numa ossada de uma menina?

 

O que diabos estava acontecendo em Guaratuba?

 

 

QUESTIONAMENTOS DE OLIVEIRA

O delegado Luiz Carlos de Oliveira não permaneceu por muito tempo investigando o caso de Leandro Bossi, o qual ele acreditava que podia ter relações com o caso do Evandro. No depoimento prestado em 2004, em resposta ao juiz Rogério Etzel ele comenta sobre isso. Oliveira não acreditava que os suspeitos que estavam presos eram culpados, essa linha de investigação divergia do que o promotor da época, Antonio Cesar Cioffi de Moura, e foi esse desentendimento entre os dois a razão do seu desligamento do caso. Apesar disso ele continuou investigando, de forma independente, mas nunca chegou a um indício sobre a inocência ou culpa dos suspeitos. Nesse julgamento o juiz questiona porque Oliveira prosseguiu com a investigação, mesmo depois de afastado e além disso começou a investigar também o Caso Evandro, que nunca foi sua responsabilidade.  

 

Também neste julgamento o promotor Paulo Sérgio Markowicz de Lima questiona como resultaram as investigações do desaparecimento do Leandro Bossi. Oliveira relata que João Bossi, pai do menino Leandro, virou outra pessoa após se aproximar de Diógenes Caetano dos Santos Filho. De uma pessoa simples que queria saber sobre o desaparecimento do seu filho, ele passou a ser uma pessoa arrogante. Paulo faz perguntas sobre a ossada, se houve ou não laudos preliminares de DNA. No julgamento de 2005, Paulo Markowicz novamente faz perguntas sobre os laudos feitos relativo a ossada e porquê Oliveira não se interessou em correr atrás disso, uma vez que o laudo apontava que o corpo era de uma menina. Sem contar que na época Oliveira foi uma das vozes mais atuantes na mídia em questionar se o corpo encontrado no matagal era mesmo de Evandro, chegando a pôr em dúvida a idoneidade dos laudos de DNA feitos na época. Contudo ele não fez o mesmo com essa segunda ossada encontrada.

 

Oliveira afirma que na época que a ossada da menina foi encontrada ele não presidia mais a investigação do caso do desaparecimento de Leandro Bossi. Por outro lado ele também nunca presidiu o de Evandro mas isso não o impediu de fazer os questionamentos que fez por tanto tempo.

 

 

1996
No dia 2 de março, Beatriz e Celina obtiveram o direito de cumprir pena em prisão domiciliar, após terem passado um pouco mais de dois anos e meio em regime fechado. Em junho a história de Leandro Bossi ganha um novo capítulo: a polícia entra em contato com João Bossi, que foi levado até Curitiba, para descobrir que o menino teria aparecido em Manaus. João foi até Manaus ver a criança e ao chegar lá o menino o reconheceu como sendo o seu pai e João também não teve dúvidas de que aquele era seu filho. O menino encontrado estava registrado com o nome de Diogo Rodrigo Moreira e morava com a vendedora Socorro Auxiliadora Araújo Costa que diz tê-lo encontrado na rua. Socorro entrou em contato com a PM de Manaus quando viu a foto de Leandro num cartaz de crianças desaparecidas e achou parecido com o menino que ela cuidava, que havia sido encontrado na rua.

 

16 DE AGOSTO DE 1996

O menino foi levado de Manaus para Curitiba. Antonio RIbas, da 5ª sessão da PM, disse que as semelhanças entre o menino encontrado em Manaus e a foto do cartaz são grandes: ambos são loiros, de olhos claros e se parecem fisicamente com João Bossi. O menino afirmou que passou por duas famílias antes de ser acolhido por Socorro e mostrou marcas das agressões passadas.

Matéria da Gazeta do Povo, do dia 16 de agosto de 1996

 

Matéria do jornal Folha de São Paulo, de 17 de agosto de 1996

 

O advogado de defesa Antonio Augusto Figueiredo Basto exigiu explicações do Comando Geral da PM e da Secretaria de Segurança sobre a acusação de assassinato feita a seus clientes  Osvaldo, Vicente e Davi. Os três disseram que fizeram essas confissões porque foram torturados e agora Leandro havia reaparecido com vida. Ele pretendia entrar na justiça com um novo pedido de habeas corpus em favor dos três. Eles estavam presos a quase quatro anos na Penitenciária Central do Estado, localizada em Piraquara.

 

Em uma edição do jornal Hora H da semana do dia 19 a 25 de agosto de 1996 é publicada uma matéria onde Diogenes Caetano continuava afirmando que o corpo de Leandro estaria no fundo da baía de Guaratuba. O engenheiro afirmava que tanto ele quanto toda a família Bossi sabiam que isso tudo não passava de uma farsa. Nessa entrevista ele prometeu ir juntos com os pais de Evandro ao cartório de Guaratuba apostar que aquele menino não era Leandro Bossi e advertiu que faria isso na presença de advogados. Diógenes também acusou João Bossi de explorar o desaparecimento do filho e da sua própria desgraça, arrecadando dinheiro de doação com isso.

 

Foi feita uma medição óssea da criança e constatou-se que havia uma diferença de dois anos de idade entre o menino e a idade que Leandro deveria ter. Foi o primeiro indício de que algo estava errado. Depois um instituto particular de DNA fez uma doação para que o exame fosse feito no menino. No dia em que saiu o resultado desse exame Monica Santanna estava por perto do Laboratório Genética e viu Salmo Raskin trazendo o exame, ela correu atrás para entrar em contato com ele para tentar conseguir um furo de reportagem. Foi revelado a ela que de fato o menino encontrado em Manaus não era o Leandro Bossi.

 

Capa do jornal Folha de Sao Paulo de 3 de Setembro de 1996. Embaixo, a chamada para a matéria de Monica Santanna

 

 

Matéria da jornalista Monica Santanna no jornal Folha de São Paulo, em 3 de Setembro de 1996. A foto é de outra matéria, não relacionada com a do “falso” Leandro.

 

A Agência Folha apurou o material genético encontrado no sangue do menino é 100% diferente do sangue de João e de Paulina Bossi, os pais de Leandro. Foram analisados pelo menos 7 pontos do material colhido do menino e do casal, em nenhum deles houve coincidência do código genético, o que exclui a possibilidade dele ser filho do casal. O menino estava registrado como Diogo Rodrigo Moreira, e teria 10 anos, ficou 17 dias morando com João e sua família. Angela Regina Moreira, mãe de Diogo, saiu de Itacoatiara, no Amazonas, até Curitiba acompanhada do detetive Walmir Battu, presidente da Inter Bureau. Angela fez exame de sangue no IML para que fosse realizado estudo do seu DNA, o resultado comprovaria que ela é a mãe biológica do menino. Angela ficou sabendo que seu filho estava no Paraná graças a Battu e criticou bastante as autoridades que permitiram que o menino fosse levado tão facilmente para outro estado. A mulher havia deixado Diogo com o pai Agnaldo José Santana, que não constava na certidão de nascimento do menino porque não queria a criança. Ela havia abandonado o marido a cinco anos e deixado a criança com ele porque não tinha condições de criá-lo. Ela foi para Curitiba com suas filhas Letícia e Amanda, com 5 e 2 anos, respectivamente. Quando foi levado de Manaus o menino estava morando com Socorro Auxiliadora que pretendia adotá-lo. João até hoje acredita na possibilidade do menino ser de fato seu filho Leandro. Ele relembra que o menino lembrava de coisas que apenas Leandro poderia lembrar. Diogo e sua mãe teriam se mudado para Santa Catarina anos atrás. O caso de Leandro Bossi continua em aberto até hoje no SICRIDE. Se você tiver qualquer informação, entre em contato com o SICRIDE.

 

O SICRIDE foi pioneiro no desenvolvimento da tecnologia de envelhecimento de fotos, que auxilia a ter uma ideia de como uma criança desaparecida poderia estar anos depois do seu desaparecimento. A imagem acima é uma simulação de como estaria Leandro Bossi crescido.

 

 

DOWNLOAD LIVRO “SICRIDE – Um Retrato das Ações Contra o Desaparecimento de Crianças no Paraná”, de Ana Luiza Verzola e Cléber Gonçalves

 

PÁGINA DO SICRIDE COM FICHAS DE CRIANÇAS DESAPARECIDAS

 

 

JOÃO BOSSI E DIÓGENES

Logo após a prisão dos cinco acusados João Bossi realmente se aproximou de Diógenes e trabalhou como guarda-costas para ele. Em algum momento eles se desentendem e passam a se odiar, João passa a acreditar que Diógenes é o grande culpado por tudo que aconteceu em Guaratuba. Já Diógenes acredita que João acabou sendo tragado para um esquema muito maior do que ele mesmo poderia compreender.  

 

De acordo com Diógenes em seu livro ele conheceu  João Bossi na noite de sete de abril de 1992 quando rompeu o bloqueio feito por Paulo Brasil. Enquanto os repórteres tomavam as entrevistas João apareceu e deu seu primeiro depoimento, já revelando seu lado arrogante, perguntando porque na casa do Ademir tinha tanta gente e na dele ninguém. quando os sete acusados foram presos João passou a procurar por Diógenes, ele queria saber como chegaram à conclusão sobre os culpados. Diógenes colocou à sua disposição todas as informações que poderia e se se prontificou a levá-lo a encontrar quem ele desejasse. Mais tarde, quando João mudou de lado, ele utilizou toda a ajuda prestada para dizer à imprensa que Diógenes havia ensaiado as mentiras que teria dito em relação aos Abagge. Diógenes também acusa João Bossi de se vitimizar para obter benefícios.

 

Diógenes sempre defendeu que a confissão feita pelos presos era verdadeira e que o delegado Luiz Carlos de Oliveira fazia parte de um esquema para desvirtuar as investigações. Logo ele achava estranho a resistência que João passou a ter em relação a culpa dos sete acusados. em 1996, antes do falso Leandro aparecer a jornalista Vania Mara Welte produziu para o jornal curitibano Hora H uma série de matérias investigativas sobre o caso das “Bruxas de Guaratuba”. Foram nessas matérias que João acusou Diógenes de ensaiar mentiras e Diógenes afirmou que Leandro estava morto e seu corpo jogado na Baía de Guaratuba.

 

Até hoje, João Bossi aguarda notícias sobre seu filho Leandro.

 

Nota do Ivan: “quando fui visitar João Bossi, ele me disse que não tinha mais nenhum recorte de jornal que falasse sobre o desaparecimento de seu filho. Essa era a única notícia que havia sobrado em sua casa.”

 

Ao longo dos anos as defesas de todos os réus sempre se basearam em quatro argumentos: Diógenes denunciou as Abagge por vingança conta Celina Abagge e também  tinha interesses políticos e via em Aldo Abagge um rival, as prisões do Grupo Águia foram feitas de modo ilegal, as confissões gravadas foram obtidas sob tortura e por fim de que o corpo de Evandro não era dele, contestando inclusive os laudos de DNA produzidos.