4 – O Seu Diamante

13 de dezembro de 2016

Todo herói se divide entre várias identidades. Para Denis Camargo, conciliá-las foi um desafio. Em sua história, misturam-se a maquiagem pesada de palhaço e seu uniforme de assistente de enfermagem.
Produzido por Pedro Ferrari.
Apresentado por Ivan Mizanzuk.

Transcrição

Ivan (narração): Olá, pessoal. Aqui é Ivan Mizanzuk, do Projeto Humanos, histórias reais sobre pessoas reais. Este é o quarto episódio da nossa terceira temporada, “O que faz um herói?”, composta por episódios produzidos pelos novos colaboradores do Projeto Humanos. Hoje, vocês vão conhecer mais um deles. Mas antes disso, vou lembrar vocês que estou atualmente na fase de pré-produção da quarta temporada, que vai demorar pra sair, porque ela é extremamente complexa e, pra que ela aconteça, eu vou precisar da ajuda de vocês. Então, se você puder ajudar, por favor, acesse anticast.com.br, clique no botão “Seja Patrão!”, que fica no canto superior direito, e contribua mensalmente com a quantia que você puder pelo PagSeguro ou pelo Patreon. A quantia que você contribuir vai me ajudar com custos de viagem, estadia, equipamentos, e eu garanto que vai valer a pena. É uma promessa. Recado dado, vamos para o episódio de hoje. O tema da nossa temporada, como vocês já sabem, é “O que faz um herói?” e busca explorar como esse conceito pode ser bastante flexível. E se a maior parte das histórias de heróis que conhecemos são aquelas que mostram pessoas lutando contra situações diversas, é interessante imaginarmos que, às vezes, os nossos maiores inimigos somos nós mesmos. E, também às vezes, ao invés de lutarmos contra nós mesmos, devemos apenas nos entregar, nos abrir. Essa história fala um pouco sobre isso. Ela foi produzida por Pedro Ferrari, que possui um jeito muito particular de contar histórias, o que a torna ainda mais interessante.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Pedro (narração): Estamos sempre criando cenários pra nossa atuação diária. Compomos o espaço com vários elementos e cada um deles nos ajuda a interpretar certos papéis. Vamos ao Hospital Regional da Asa Norte, o HRAN, em Brasília. Quarto 605

(EFEITOS SONOROS: PASSOS, PORTA BATENDO E VOZES AO FUNDO)

Pedro (narração): O cenário (som de maca rangendo) não é nada diferente do que se espera. As macas rangendo com os movimentos lentos e (uma pessoa tosse ao fundo) cautelosos dos pacientes. Máquinas medindo sinais vitais (som de maca rangendo). Acompanhantes silenciosos sentados em cadeiras, enquanto encaram o passar denso do tempo. Entre os suportes de soro, lençóis e saídas de oxigênio, alguns papéis são minuciosamente interpretados. Pacientes, acompanhantes, médicos e enfermeiros. Mas não se pode imaginar os (uma pessoa tosse ao fundo) pacientes como meramente passivos diante do ambiente hospitalar.

Voz: O paciente também altera o espaço.

Pedro (narração): Esse é Denis Camargo.

Denis: Acabei de completar 46 anos, sou ator, diretor, palhaço, produtor cultural e sou técnico de enfermagem também.

Pedro (narração): E ele me contou sobre como os pacientes subvertem o cenário hospitalar.

Denis: Tem uma mesinha de cabeceira que ele não gosta na cabeceira, ele deixa do lado da cama. Tem uma escada que tem algo… alguns que sobem, utilizam (som de móvel arrastando no chão), outros já não gostam da escada, então ele deixa no meio ou do lado. Ou o suporte de soro junto com outros suporte, que aí tem outra estrutura ali que é uma bomba de infusão.

Pedro (narração): Não é apenas de instrumentos hospitalares que se compõem os quartos do HRAN (sons de instrumentos ao fundo). Objetos pessoais dos pacientes surgiam como vestígios daqueles que habitavam aquele espaço, ainda que temporariamente.

Denis: Fora a mala, uma mochila (sons de instrumentos ao fundo), ou comida, muita comida que o paciente não come ou às vezes tá muito limpa ou muito suja.

Pedro (narração): É um cenário de certo equilíbrio entre os objetos pessoais e hospitalares. Cada coisa e cada papel em seu lugar. A frieza do hospital aparece da cenografia daquele quarto 605. E então, um novo objeto cênico ajuda a subverter todas essas identidades.

(EFEITO SONORO GRAVE, SEGUIDO DE BUZINAS DE PALHAÇO E A MÚSICA LA CUCARACHA INSTRUMENTAL AO FUNDO)

Pedro (narração): Os palhaços do Projeto Risadinha contribuíam para um momento de suspensão de toda a atmosfera de constante tensão do HRAN, traziam a possibilidade de uma outra cênica aquele espaço. E assim, suspendiam temporariamente a identidade melancólica dos pacientes. Provocavam uma outra prática sobre aquele espaço. Uma prática inusitada de riso e alegria. Reinventavam o cenário do hospital, longe dos suportes de soro, das bandejas abarrotadas de comida rejeitada dos pacientes. Entre os palhaços atuando no HRAN, Denis Camargo, um dos idealizadores do projeto.

Denis: Então, eu entro numa enfermaria com mais um, um ou dois colegas, que era um trio… ou como dupla, a gente entra pra reconhecer esse espaço.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Pedro (narração): Aos objetos cênicos do hospital, se unem outros: a maquiagem forte, a roupa colorida, o nariz vermelho. O figurino de palhaço, ainda assim, precisa dialogar com um outro, do técnico de enfermagem. A subversão do espaço hospitalar precisava ser limitada pelas preocupações próprias da área da saúde. Entre essas preocupações, o receio com o toque, podendo facilitar infecções, deveria ser evitado. Por outro lado, há o afeto próprio ao palhaço, que clama por essa aproximação. Uma contradição entre o espetáculo e o hospital. E é com essa contradição que os componentes do Projeto Risadinha precisavam lidar.

Denis: E… e a gente chegava em algumas situações muito constrangedoras, mesmo de não conseguir fugir. Era limítrofe. Tinha uma senhorinha no 605, que a primeira reação dela era… era sentar, abrir o braço e pedir um abraço.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA, MÚSICA AGITADA)

Denis: Eu respirava, fechava o olho e ia, do tipo (ele fala rindo), quebrei a regra número um. Mas eu também não posso fazer isso com essa senhora, tipo…

Pedro (narração): Denis havia entrado primeiro no quarto 605, para reconhecer o espaço e checar se todos os palhaços poderiam entrar. Logo após ele (ele fala rindo), apareceu à porta outro palhaço, o Hugo.

Denis: Ele tinha acabado de sair do abraço (ele fala rindo) e eu tava todo assim, meio que ruborizado, do tipo… Aí, ela fez a mesma coisa pra ele, ele me olhou, olhou pra ela, e eu peguei e fiz bem assim (ele assopra o ar preso das bochechas), “Vai!” (ele ri). Aí, ele foi, né, “Aaah!”, abraçou…

Pedro (narração): Enquanto Fabio abraçava a senhora, a terceira integrante do grupo, a Ludimila, chegava à porta do quarto.

Denis: E aí, ela entrou e a mulher fez assim pra ela, ela olhou pra gente, a gente… “Vai!” (ele ri forte).

Pedro (narração): É dessa tentativa de subverter o espaço do hospital que surge uma outra tensão, a de sua própria identidade entre o técnico de enfermagem e o artista.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Pedro (narração): Pois essa duplicidade de identidade já era experimentada por Denis Camargo há anos, antes do abraço no quarto 605.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA, MÚSICA LENTA)

Pedro (narração): Quando terminava o curso de artes cênicas na Universidade de Brasília, Denis já trabalhava como técnico de enfermagem no HRAN. Dividia a sua vida entre os dois mundos e seus espaços. No mundo do teatro, havia sido demitido, junto com alguns colegas, de uma companhia teatral. Tentou argumentar com o grupo sobre como havia se dedicado ao projeto.

Denis: E isso foi colocado, mas mesmo assim, a decisão já tava tomada e isso acabou… fazendo também que como mergulhasse nessa reflexão, acho que… numa coisa bem negativa mesmo, de doença, assim, de depressão mesmo. Porque a… quando explode em choro, você vê, tem algum coisa errada, né. Quando acordei um dia, eu já tava chorando.

Pedro (narração): Uma das colegas que também havia sido demitida, escreveu uma carta de desabafo. Não foi Denis quem escreveu, mas, ainda assim, soava como uma explosão dos sentimentos que ele mesmo vivenciava. E a partir daquela correspondência, que ele começou a trilhar seu caminho de reconstrução.

Denis: A carta chegou na minha casa, eu li, chorei durante três dias (ele ri), porque eu falei, nossa, ela conseguiu dizer, metaforicamente, através de uma carta, o que ela…o que ela sentiu, o impacto da demissão.

Pedro (narração): Decide, então, adaptar a carta como forma de resposta. O texto seria parte de um espetáculo chamado “Aqui ninguém paga meia”. Já falamos dessa peça quando tratamos de Ana Paula Barrenechea, que acabou integrando o projeto algum tempo depois. A ideia de Denis era criar uma personagem feminina, composta por várias cenas escritas por diferentes atores.

Denis: E quando eu propus fazer o “Aqui ninguém paga meia”, eu falava, “Não, o espectador, ele é convidado a entrar dentro… na cabeça, dentro desse ser, e olhar como estão as feridas desse ser”. Num é pra mostrar a beleza, é pra mostrar as feridas, é pra mostrar o desajuste. É pra mostrar as consequências de relações frustradas, de relação no trabalho, de relação amorosa… Uma série de questões que, que essa pessoa passou, que de fato (ele fala rindo) era uma reflexão sobre a minha própria vida. Isso também eu questionei um pouco na minha personalidade, né. Você acaba querendo mostrar pras pessoas que você tá bem, você sorri, você tá… bem vestido, tá com cabelo bem cortado. Só que por dentro você tá destruído. E ninguém vê porque é uma fachada, né.

Pedro (narração): A essa forma de se expressar intimamente, unia-se a dificuldade de conseguir um espaço viável pra apresentação. Decide, então, fazer o espetáculo na casa em que morava.

Denis: A oportunidade de fazer o “Aqui ninguém paga meia” dentro da minha casa, na casa que ainda era alugada, na 706 Norte, foi chocante pra maioria das pessoas. Que, pra eles, isso era muito interessante, entrar numa casa real, que não era uma casa cenográfica, uma casa onde de fato as pessoas moravam e poder assistir um espetáculo performático.

Pedro (narração): E, perambulando pelos cômodos, os espectadores viam diferentes cenas nas quais os atores expunham suas feridas, suas dores. Abriam as portas de si mesmos, assim como a da casa de Denis. Nela, vestígios daqueles que ali moravam. Vestígios entre objetos cênicos e fragmentos desse “eu” que Denis tentava expor. E essa exposição de si mesmo se estendia à sua casa e a seus objetos espalhados pelos cômodos.

Denis: Usava cama, banheiro, guarda-roupa, geladeira, fogão, usava na função real do material.

Pedro (narração): E eram remexidos, tocados pelos espectadores.

Denis: Então, assim, pro público, ele tinha duas experiências. Experiência estética e ao mesmo tempo, uma experiência de invasão de intimidade de alguém. Por mais que eu não soubesse quem morava… quem morasse ali, ele tinha certeza de que aquela era de alguém. Então, ele tava invadindo uma privacidade alheia e, ao mesmo tempo, desfrutando de uma estética cênica preparada pra essa invasão.

Pedro (narração): Mas, talvez, mesmo sem perceberem, os espectadores não invadiam apenas o espaço, mas os medos e frustrações de cada qual dos atores que atuavam em cada qual dos cômodos.

Pedro: E cada um trazia as suas próprias evidências…

Denis: Trazia…

Pedro: … e os seus próprios exorcismos pessoais, também.

Denis: Isso! Era uma questão que eu coloquei. Eu preciso disso pra você dar a verdade que eu quero. Pra você… tocar o dedo na ferida também, né. Pra você também não ficar protegido com isso. Porque também não existia muita proteção, o espectador tá em contato direto contigo, é um espetáculo performático, né, é um teatro performático. Você tá contracenando, você tá tocando, você… às vezes você… o espectador vai sentir seu cheiro, ele vai sentir seu hálito, ele pode esbarrar em você. Então, você não tem uma barreira. E eu preciso que você se exponha mesmo, pra que você se sinta forte e poder controlar a situação. Então, de alguma forma, cada atriz e cada autor, ele colocou questões pessoais ali dentro do seu espaço de cena, aí.

Pedro: Era terapia em grupo, né?

Denis: Terapia conectiva (ele fala rindo).

Pedro: Que loucura! (ambos riem)

Denis: Porque também era muito louco, porque, quando a sala… liberava a sala, liberava o espectador pra visitar todos os cômodos, todas as cenas começavam ao mesmo tempo, então, tinha um tempo dele, do espectador fazer o roteiro livre, circular por todas as cenas, assistir às vezes uma ou duas… duas vezes e depois ser expulso. Então, a partir desse momento, toda a casa falava.

(CLIPE DE ÁUDIO: GRAVAÇÃO EM QUE VÁRIAS VOZES SE SOBREPÕEM, GRITANDO, CHORANDO E RINDO)

Denis: E aí, ficavam com todas as vozes na cabeça (vozes ao fundo). Eu mesmo, ao mesmo tempo que eu tô fazendo a minha cena, da… da cozinha, eu fico ouvindo a cena do quarto, ouvindo a cena do guarda-roupa, ouvindo a cena do banheiro, “Tá ocupado, porra”, e a porta batendo, ouvindo um garoto em cima da caixa d’água gritando, gritando…

(CLIPE DE ÁUDIO: MAIS UM TRECHO DA GRAVAÇÃO)

Denis: E aquilo tudo, até eu como espec… como ator, eu também ficava muito, muito cheio, impregnado dessas questões, e imagino o espectador. Porque, como nunca fui espectador, eu não sei. Eu acho que pra ele, acho que isso atingia muito mais, né, potencializava essas questões. Porque ele via uma cena, ele, depois, ele tava na outra, ele tava reouvindo a cena que ele tinha ouvido, já tinha visto. Ouvindo a minha, vai pruma terceira, aí, assiste um nova cena, escuta ainda gritos da primeira, revelações da segunda, aquela lá, chega na quarta ou na quinta, ele já não sabe o que fazer, entende, ele já tá muito mexido. E tá sempre mexendo, sempre mexendo… Então, essa coisa cíclica, de alguma forma, ela… ela… como se ela fosse um vulcão, assim, ponto pra explodir, pronto pra… jorrar essa lava toda.

(CLIPE DE ÁUDIO: CONTINUA A GRAVAÇÃO, ELA SE ENCERRA COM ALGUÉM RINDO)

Pedro (narração): O espetáculo é, então, selecionado para um festival em Curitiba. Lá, aluga uma casa pra apresentação. A recepção foi excelente, os espectadores interagiam, invadiam, ocupavam a casa.

Denis: Que várias pessoas gritavam, “Ah! Isso é sensacional!”. Pegavam o pão, comiam o pão, abriam a geladeira, mexiam nas coisas, abriam (ele ri) portas de armário e abria quarto… Foi… foi até complicado pra mim, porque era uma casa de uma pessoa que eu… que… cedeu, né, alugou pra gente durante o período do festival também e, ao mesmo tempo, eu tentei priv… manter a privacidade dessa senhora e da família dela. Mas foi bem difícil de conter essa empolgação da plateia, porque era justamente isso que mais fascinava, poder invadir a pri… a vida alheia e conhecer, ter essa chance, né, um convite.

Pedro (narração): Esse remexer na casa era também uma invasão da intimidade dos atores. Tantas experiências expostas ali entre os cômodos, as tantas vozes tomando o espaço simultaneamente, deixava os espectadores repletos de sons, vivências, desabafos de cada qual dos artistas. No outro espaço no qual atuava, o Hospital Regional da Asa Norte, Denis via no Projeto Risadinha uma invasão inversa. Lá, era ele quem invadia o espaço do outro.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Pedro (narração): Macas, bandejas de comida, suportes de soro, mochilas dos pacientes. Naquele quarto hospitalar que era alterado pela paciente para emular uma casa, Denis era o invasor. A senhora do quarto 605, aguardando o abraço dos palhaços.

Denis: Ela ficava assim, ó, vibrando, né, toda trêmula, doida pra receber o abraço.

Pedro (narração): E era essa invasão do palhaço, tanto do hospital quanto do quarto da paciente, que surge a preocupação com o risco de infecção.

Denis: Depois, eu falava com o filho dela, falava, “Ai, me desculpa, mas… não tem como. A sua mãe pede um abraço”. E fui lá e dei um abraço na mãe. Ele falava, “Não me importa, não importo, abraça a minha mãe, ela fica mega feliz com a presença de vocês”. Eu falei, “Tá, mas é o medo que a gente tem de… de controle de infecção”. Ele falou, “Não tem problema, abrace minha mãe. Eu prefiro que vocês (ele fala rindo) abracem minha mãe do que deixar ela ali”.

Pedro (narração): O figurino colorido, o nariz vermelho, a maquiagem forte. Tudo aquilo ajudava a transformar o ambiente hospitalar. Mas ainda assim, era uma invasão. Ao contrário dos espectadores que no “Aqui ninguém paga meia” reviravam a casa de Denis, invadindo sua privacidade, no HRAN, os palhaços do Projeto Risadinha precisavam de cautela, estavam no cruzamento de dois horizontes cênicos; um, artístico, com sua fanfarra e perucas, outro, hospitalar, com seus cenários de bombas de infusão e cateteres.

Denis: Porque o ambiente hospitalar, o que ele traz pro paciente que tá lá dentro, mesmo que ele tenha uma unha encravada, é que é um espaço onde as pessoas morrem. Tá ali, próximo da morte. E quando morre alguém, todo mundo fica muito tenso.

Pedro (narração): Quando há alguma morte recente no hospital, o luto parece vencer o riso inspirado pelos palhaços. A tristeza e a melancolia, supostas na identidade dos pacientes, nesses momentos, tornam-se mais fortes.

Denis: Eles também se sentem ofendidos, porque não é um momento de comemoração. Pra nossa cultura não é… Se a gente tivesse no México, seria perfeito, mas a gente tá no Brasil, onde tem uma cultura que… que a questão do rito da morte, ela é muito sutil, muito delicada, tem que ser respeitosa.

Pedro (narração): Denis estava, afinal, entre dois espaços diferentes, cada qual com seus papéis pressupostos e limitados. Em grupo, os artistas buscavam traçar estratégias de aproximação e o reconhecimento desses limites.

Denis: O maior de todos, foi o respeito. O maior que eu te digo. A… a gente tá ali pra fazer o trabalho, mas, se alguém disse não, ou se disseram não, a gente sai. E aí… e aí, não tem… não tem! Tipo, cê treinou a semana inteira pra tá lá, pra fazer. Disse não, você volta pra casa, com aquele não, e tentar transformar um não, que poderia ser algo hipernegativo, de você… tomar de novo, tomar duas garrafas de vinho e chorar. Cê vai falar, “não”. E é um “não” que também não é um “não” definidor, né, não é um “não” que nunca mais volta aqui. Da semana que… seguinte, já tinha que tá lá. E vendo, assim, esse “não” continuava “não”.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Pedro (narração): Às vezes, tratava-se de testar novas formas de vencer o “não”.

Denis: Teve uma senhora do sétimo andar que esse “não” foram… três, quatro nãos, assim.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA, MÚSICA LA CUCARACHA)

Denis: Entrava, “Sai daqui! Não quero vocês, seus… Ah! Sai!” (a música para). Aí, falava, “Tá bom”. Volta, volta. Três. Eram três, parece, saí. Semana seguinte, esquecia que essa mulher tava lá, entrava lá (música La cucaracha começa novamente) maior empolgação, “Sai!” (a música para). Eu falei (ele fala rindo), “Puxa! Nem falei bom dia”, tal, não, “Sai! Sai”, saí. Terceira semana… Aí, na quarta, eu lembrei, eu falei, “Não, xi! Vamo mudar a tática de entrada, gente. Pode ser a mulher da… aquela mulher que expulsa.” Aí, a gente entrou calado (efeito de porta se abrindo lentamente). Aí, entrei, chamei o outro, aí o outro chamou o outro (efeito de porta fechando), aí ela começou a rir e falou assim, “Finalmente vocês entraram sem cantar essa música do La cucaracha no meu quarto, que eu odeio essa coisa em espanhol!” (ele solta uma gargalhada). Aí, eu pensei… falei, “Gente, eu saí daqui mal durante três semanas, achando que era o nosso trabalho, era só uma questão da abordagem”. Aí, eu perguntei, “Então, do que você gosta?”, ela, “Eu gosto de música francesa! (inicia uma música típica francesa) Porque a cultura france…”. Aí, começou a falar da coisa francesa (ele solta uma gargalhada). Aí, a gente começou a cantar umas coisas mais francesas, ela adoro. E foi isso, assim, o que mudou a nossa recepção com ela foi a… a forma, né.

Pedro (narração): Ainda quando os pacientes aceitavam a cênica dos palhaços, persistiam os limites próprios à realidade hospitalar.

Denis: Queimados era a ala mais complicada por conta da questão do controle de infecção. Muitos pacientes fazem enxerto, enxerto, curativos que são muito abertos, e são janelas, né, pra entrar infecção no corpo. Então, assim, o enfermeiro já fala, “Não entre no quarto X, nem no quarto X. Mas que bom que vocês vieram e façam o melhor possível, porque eles precisam de vocês”.

Pedro (narração): E é na ala de queimados que a inserção de todos aqueles elementos estranhos à cênica hospitalar, os narizes vermelhos, as cores vibrantes das roupas e a maquiagem, deveria ser ainda mais cautelosa.

Denis: Então, assim, é uma ala complexa, bem complicada pro nosso trabalho, mas que o pessoal, tanto a enfermagem quanto o pessoal dos médicos, sabiam que a gente tinha um certo efeito sobre o paciente. Tirar ele do momento ali de tensão, sei lá, transportar ele prum momento mais de ludicidade. Tirar ele de cinco, cinco minutinhos, já era suficiente.

Pedro (narração): Nessa ala, outras tantas histórias compunham a vivência dos artistas.

Denis: E tinha um garoto do… 310, um homem que eu nunca cheguei a ver, e nunca vou ver, porque ele chegou a falecer depois, a gente não podia entrar, mas a gente perguntava na porta se a gente podia fazer. E acho que ele conseguia ver o reflexo da janela e a mãe sempre ficava na ponte, no entre, ali, a gente e… éramos três, o trio, né, eu, o Leonardo e a Ludimila Valejo. Então, a gente fazia para esse garoto e ele ria lá dentro. E aí, ele identificava a gente pela voz também. Sempre, ele… era tanto… acho que foram quatro meses e cada semana que a gente voltava a gente fazia uma coisa diferente pra ele, já sabia que era especial, então, tinha que ser algo cantado, algo que a voz chegasse lá, né. Então, já que não tinha a questão visual, do corpo, onde não podia fazer nada de pantomima, nada disso, então a gente fazia sempre cantado. Ou contava piada também, envolvia mais uma memória sobre de onde ele veio, do que ele gostava, tipo de música, alguma coisa nesse nível.

Pedro (narração): E é entre os adultos que o trabalho de palhaçaria parecia fazer mais sentido.

Denis: Apesar do palhaço e o HRAN ter pediatria, a gente sentia melhor fazendo pro adulto do que pra criança. Porque a criança, ela já é um palhaço, assim, um palhaço no sentido de que ela é… ela é ingênua, ela não pensa sobre o futuro dela, ela vive o aqui agora, ela tá mais preocupada com o aqui agora. Então, se você dá um brinquedo pra ela, ela começa a brincar com aquilo, ela esquece que tá… ela até esquece que tá com soro no braço, né. O adulto não. Ele fica preso ali nas… no problema, ele fica preso no passado, ele fica preocupado com o futuro. Ele nunca tá no aqui agora e tranquilo no aqui agora. Então, quando a gente ia como palhaço pra esse adulto, parece que ele desligava (som de estralo com os dedos) do seu problema e esquecia que tava ali com a gente… tava ali com a gente. Quando você sai do sexto andar ou do quinto andar, que é clínica médica, você olha pra trás e você vê um jardim de infância de adultos, assim. Eles rindo, conversando. O ambiente altera, né. E essa sensação é muito boa, de você falar, “Que bom que hoje a gente conseguiu fazer com que esse ambiente fosse alterado”.

Pedro (narração): Na clínica médica, o jardim de infância de adultos. Na ala de queimados, o garoto do quarto 310, que ouviu os palhaços sem nunca ver seus rostos. Não é apenas o espaço que é alterado pela ação dos palhaços. Eles, a cada visita e a cada quarto, também eram alterados pela cênica hospitalar. Da ala de queimados, seguiam para o sexto andar.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Denis: Só que a gente já tava baqueado do terceiro andar, da ala de queimados, a gente já tava baqueado de algumas… de algumas outras… situações, assim… difíceis dentro do ambiente.

Pedro (narração): A cada quarto, oscilavam entre diferentes experiências de internação. No sexto andar, encontrava a senhora que sempre aguardava os abraços dos palhaços.

Denis: Teve uma vez, no sexto, depois dela, quando eu cheguei no 610, tinha uma mulher com… com uma máscara de oxigênio. E aí, eu fiz o número e… ela olhava assim, no olho dela, e fazendo e tal, e ela não tirava o olho de mim. Éramos três, mas ela não tirava o olho.

Pedro (narração): O olhar fixo parecia resumir toda experiência daquela paciente, calada pela máscara de oxigênio.

Denis: Então, eu fiquei mantendo, né, o olhar com ela e fazendo… Quando eu saí, eu virei pros meninos e falei assim, “Eu tô indo em… vou descer pro repouso, eu não dou conta”. Fui, tipo, totalmente sugado, assim… tipo, não tinha mais energia, né.

Pedro (narração): De tanto afetar o espaço hospitalar, Denis é também afetado por ele. Um emaranhado de vivências em cada qual dos quartos pelos quais passou o esgota. Segue para a sala de repouso do hospital. Lá, fechando-se da cênica hospitalar, tenta retomar o fôlego. Apesar do cuidado com o toque, Denis é infectado pelas vivências dos pacientes.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Denis: Eu já tava no meu limite, e você tem que entender qual é o seu limite também. Eu falei, “Se eu fizer mais um quarto, eu desmaio. Eu não tenho mais energia no meu corpo. Não tenho”. E o Hugo e a Ludimila falaram, “Não, vai que a gente dá conta de chegar até o final”. Tirei a roupa, tirei a maquiagem…

Pedro (narração): Desfazendo-se das roupas de cores vibrantes e removendo a maquiagem, dilui a identidade do palhaço. Ao desfazer-se dos elementos cênicos, busca uma outra identidade. Tratava-se de se resguardar de todas as experiências que testemunhava entre os quartos do HRAN. Junto com a ação no hospital, a exaustão.

Denis: E isso era… era muito… concreto pra gente. A gente entrava bem cheio e saia muito esvaziado. Mas, ao mesmo tempo, o… a forma de refletir sobre o trabalho era muito positiva, mas o corpo era extenuado. Parte muscular, o coração, também, assim, às vezes saía muito arrasado.

Pedro (narração): Tentava voltar para o jogo cênico de si mesmo, Denis.

Denis: Aí, chegava em casa, tomava um banho e comia, já começava a recuperar novamente. E aí, à noite já era… tava gratificante, porque você começava a reme… a fazer a rememoração da… do trabalho.

Pedro (narração): E aprende a interpretar a si mesmo, sua casa, suas roupas, seus amigos.

Denis: No dia seguinte, você liga pro colega, fala de algum evento, do outro, começa a rir e aí… depois esquece (ele ri).

Pedro (narração): Em casa, seu próprio cenário, que o lembrava de sua identidade. Assim como aqueles, que anos antes, visitavam o espetáculo “Aqui ninguém paga meia”, transcorridos nos cômodos de sua casa, Denis inundava-se com os tantos quartos e experiências do hospital que testemunhava. Mas, no HRAN, era ele quem invadia tantas privacidades e espaços particulares. Os pacientes, expondo seus medos e receios, deixavam-se invadir. A carência do abraço, o isolamento da ala de queimados, o olhar fixo, calado pela máscara de oxigênio. Cada um deles ressoava em Denis.

Denis: Teve uma… uma parte do grupo que falava assim, “A gente precisa de terapeutas (ele fala rindo) pra trabalhar com a gente”, falava, “Se a gente colocar um terapeuta, ele vai botar a gente pra pensar e, aí, a gente não faz mais nada, porque a gente for pensar sobre o que a gente faz aqui, a gente não faz esse trabalho”.

Pedro (narração): Se o espaço do HRAN, com a presença dos palhaços, se tornava ambíguo, dividido entre a maquiagem subversiva e o equipamento hospitalar, ao qual os pacientes eram submetidos, o mesmo acontecia com Denis. Dividia-se na contradição entre o técnico de enfermagem e o artista. Mesmo o curso de artes cênicas havia surgido anos antes da frustração com a área da saúde.

Denis: E… e eu acho que foi uma válvula de escape também, porque a área de saúde já tinha me frustrado algumas… algumas experiências bem negativas na rela… nas inter-relações profissionais, dentro do hospital, né. Como técnico de enfermagem, lidando com médicos ou… ou dentro de um ambiente onde tinha muita perda de vida por erros de procedimentos, né, tanto da área de enfermagem quanto da área dos médicos. Aí, fiz o curso de teatro e o curso de teatro me deu um up, assim, tipo… Você pode falar daquilo que você deseja, você pode abordar questões que você gostaria de falar… você pode mostrar pras pessoas outras possibilidades. Isso, isso foi me encantando.

Pedro (narração): Mas ambas identidades acabaram convivendo. Com o Projeto Risadinha, houve uma tentativa de conciliá-las.

Denis: (ele ri) E era engraçado, os palhaços me chamavam de Denis, eu, de técnico de enfermagem, me chamavam de palhaço, assim. No começo, isso começou a me incomodar, mas depois isso pra mim já virou uma fusão. E um dia, eu tava medicando uma criança, e o menino falou, “Ó, palhaço! Por que cê… cê vem em mim amanhã de novo?”, aí a mãe dele falou assim, “Não chama o… o enfermeiro de palhaço, porque ele é o enfermeiro!” (ele ri). Aí eu ri, né. Aí, ele falou, “Mãe, mas ele é o palhaço”, aí ela me olhou assim, “É, eu sou palhaço também, pode deixar, não me importo, não (ele ri). Isso pra mim não é palavrão”. Ela, “Ai, desculpa” (ele dá uma gargalhada).

Pedro (narração): O palhaço, contudo, aos poucos, pareceu se emancipar do técnico de enfermagem. Ao deixar o Projeto Risadinha, passou a explorar a palhaçaria fora do ambiente hospitalar. Nesse sentido, em janeiro de 2015, esteve no Canadá fazendo o curso “Clown through the mask”.

Denis: O “palhaço através da máscara”, da Sue Morrison, que é uma… canadense que pesquisa o palhaço xamânico, que é um palhaço mais primitivo, né, mais tribal, no sentido de que ele é… ele é mais sensorial. Não é esse palhaço refinado, europeu, que tem uma habilidade musical, uma habilidade com vestimenta, não tem nada disso.

Pedro (narração): Aqui, um palhaço diferente aquele do Projeto Risadinha, que se voltava, antes de tudo, para o afeto do outro. No curso da Sue Morrison, o palhaço como expressão de si e de suas próprias dores e medos.

Denis: Ela… ela conseguiu me colocar em um… em uns lugares que outras pessoas nunca conseguiram. Que é o da fragilidade humana mesmo, assim. De você simplesmente entrar em cena e… (ele suspira). E chorar, porque você não é nada, tipo… E ao mesmo tempo, esse nada é super rico pra quem tá vendo. E… e aí, você fala, “Puta que pariu, a minha ferida é o seu diamante. Tá, então usa”.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Pedro (narração): De alguma forma, retorna ao abrir da própria casa que propunha no “Aqui ninguém paga meia”. Expunha-se através do palhaço. À época, terminava seu doutorado em artes cênicas, enquanto ainda trabalhava como técnico de enfermagem no HRAN.

Denis: Então, eu preferi manter uma estrutura como… como funcionário público e trabalhar, paralelamente, com o teatro e isso me desgastava… me desgasta até hoje, sempre me desgastou. Mas eu preferi manter assim.

Pedro: Quando… cê tava comentando, quando estava agindo como palhaço, né, atuando, às vezes tinha essa preocupação da… da contaminação do abraço, do chão…

Denis: É…

Pedro: Que é o… é o técnico de enfermagem surgindo no palhaço…

Denis: Isso! Atrapalhando o palhaço (ele ri).

Pedro: E agora que o Risadinha não… não tá acontecendo, tem algo do olhar do palhaço no técnico de enfermagem?

Denis: Tem, porque… é… eu trabalho agora na creche, né. E às vezes as minhas amigas ficam falando assim, “Ah, você é muito bobo”. Eu fico brincando com a criança (ele ri), fazendo vozes, às vezes a criança… ela é de zero… ela é de seis meses a quase dois anos, ela sai da creche com dois anos. Então, ela tá ainda aprendendo a falar, tá na blablação. Então, quando a criança tá muito na blablação, eu falo com ela em francês, ou falo na língua inglesa, ela fica falando comigo (ele fala rindo) e eu fico falando (ele dá uma gargalhada). E às vezes eu morro de rir, as meninas ficavam falando, “Você é um louco! Você é um palhaço mesmo! A criança mal consegue falar e você falando em inglês com ela!”. Eu falo, “Gente, mas essa língua que ela fala… até falo, assim, mas não tô te entendendo” (ele dá uma gargalhada). O palhaço querendo voltar à ativa de novo (ele ri).

Pedro: E acha uma brecha…

Denis: Acha uma brecha!

Pedro (narração): Nessa ambiguidade de sua identidade, Denis segue uma carreira acadêmica estudando a palhaçaria. Surge com um plano de fuga da identidade do técnico de enfermagem rumo à docência. Em setembro de 2015, defendeu seu doutorado em artes cênicas pela UnB. Em seu projeto final, fez uma adaptação do Édipo Rei, de Sófocles, interpretado sob o prisma de palhaços.

Denis: Chama “Um espetáculo de palhaço para adultos: Édipo Rei, rei dos bobos”. E… e de fato, era  pra adulto. Eu não fiz ele com uma estética pra criança.

Pedro (narração): Ao pensar a ação do palhaço para adultos, permanece algo de sua atuação no hospital da Asa Norte.

Denis: Apesar de algumas crianças terem ido e terem adorado e entendido toda a história grega do mito do Édipo e tudo, mas ele foi feito pro adulto. Foi incrível. A gente fez lá no Parque da Cidade, 15 atores e 6 músicos. E… e aconteceu, assim, o espetáculo aconteceu, as pessoas ficaram encantadas. Incrível fazer palhaço com alguns amigos do próprio Projeto Risadinha, em cena, colaborando, outros atores que não tinham experiência, mas querendo passar pela experiência de palhaço também, querendo passar por esse momento do erro. Então, vamo… vamo correr o risco. E, graças a Deus (ele ri), durante a temporada, o público adorou. Então, assim, tipo (ele fala rindo), a gente teve uma mãozinha de… de algum deus do teatro, do Dionísio, do Apolo ou alguma… ou do palhaço mór (Pedro ri ao fundo).

Pedro (narração): Dessa compreensão sobre si, Denis retoma as rédeas de sua própria identidade. Redescobre um caminho a partir da palhaçaria e o sonho de futuramente, voltando-se à docência universitária, organizar grupos de estudo sobre a atuação de palhaços em hospitais. Pelo doutorado, descobre lugares nos quais localizar sua própria identidade.

Denis: Mas ao mesmo tempo, eu saio do… da temporada feliz, realizado…Eu levei três semanas pra recuperar o corpo, entende? Quase que eu falei, “Cara, da próxima vez que eu fizer isso, eu acho que eu vou tá internado (ele fala rindo) durante umas duas semanas, sob medicação”, falando, “Ah, pode tratar, porque esse mau não tem cura (ele ri)!”

Pedro: E um palhaço te visitando.

Denis: É! (ambos riem) Eu faria os meus amigos visitando, chorando de alegria (ambos riem).

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

(EFEITO SONORO: BUZINA DE PALHAÇO)

Ivan (narração): Pedro Ferrari é doutor em história, pela Universidade de Brasília, e um apaixonado pela micro-história e podcasts, inclusive ele já participou de um, chamado Visão Histórica, que hoje já encerrou suas atividades. Como professor, gosta de garimpar histórias e criar formas de contá-las. E também é um orgulhoso patrão do Anticast. Por sinal, obrigado, Pedro, mas agora você faz parte do time, não precisa mais. Um beijo.

(BREVE SILÊNCIO)

Ivan (narração): No próximo episódio…

Voz 1: Se lembra, vó, última coisa que cê falou com o vô, antes dele ir embora?

Voz 2: Fale… eu lembro, eu falei com ele, “Não vai lá fora! Eh, isso aí é cachorro que deve tá acontecendo nas criança…” Inda seg… a Ana tinha quatro ano, ela inda puxou o pijama dele, pra ele não ir. E eu falei, “Não vai”, e ele falou assim, “Não, eu vou só ver o que tá acontecendo”. Ah… ele foi pra ficar… ele foi pra ficar mesmo…

Ivan (narração): Aqui, no Projeto Humanos, “O que faz um herói?”.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

Ivan (narração): O Projeto Humanos é um podcast que visa apresentar histórias íntimas de pessoas anônimas. Ele tornou-se possível graças à ajuda dos patrões do Anticast, que contribuem mensalmente para que nossos programas continuem acontecendo. Se você gosta do nosso trabalho e gostaria que ele continuasse, você pode contribuir acessando o site do Anticast, anticast.com.br, e clicando na seção “Seja Patrão”, ali no topo. Nos vemos na semana que vem.

(FADE IN E FADE OUT DE TRILHA SONORA)

FIM

Transcrição por Zé Roberto. Edição por Sidney Andrade. Revisão por Marcela Brasil