Enciclopédia do caso Evandro

EXTRAS EPISÓDIO 07

LINHA DO TEMPO

 

06 de abril de 1992, segunda-feira
Desaparecimento de Evandro Ramos Caetano.

 

11 de abril de 1992, sábado – O corpo é encontrado
O corpo de uma criança é encontrado num matagal, a 1900 metros da casa onde morava. O corpo estava praticamente irreconhecível, estava com o ventre aberto, faltando as vísceras e, além disso, suas mãos estavam cortadas e o couro cabeludo arrancado. Ainda assim o pai de Evandro conseguiu identificá-lo como sendo de seu filho, graças as roupas que trajava, a chave da casa que estava próxima ao local do corpo e uma marca de nascença que possuía nas costas. As investigações do caso estava nas mãos do Grupo TIGRE desde 07 de abril, por conta de uma suspeita de que poderia ser um crime de sequestro. Após a confirmação de que o corpo era de Evandro o caso passou a ser uma investigação de homicídio. as investigações se arrastaram por meses e inconformado com a falta de sucesso dos policiais o engenheiro civil e ex-policial Diógenes Caeteno, parente de Evandro, acabou fazendo investigações por conta própria, a partir de informações que coletava pela cidade.

 

29 de maio de 1992

Diógenes foi até Curitiba fazer uma denúncia  sobre a suas suspeitas para o Ministério Público. Para ele a família Abagge estava muito próxima dos policiais, sendo que eles deveriam ser tratados como suspeitos.

 

Meados de junho

Uma equipe da inteligência militar, a P2, chamado de Grupo Águia, foi chamado para fazer uma investigação paralela sem o conhecimento do Grupo TIGRE.

 

02 de julho – Cinco dos sete acusados são presos.
Cinco pessoas foram presas pela PM, após terem confessado o crime em gravações que foram amplamente divulgadas pela imprensa na época. Entre eles estavam Beatriz e Celina Abagge, esposa e filha do prefeito de Guaratuba. Os acusados Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira e Davi dos Santos Soares participaram de dessa coletiva realizada na Secretaria de Segurança Pública do Paraná em Curitiba, detalhando como o crime foi cometido.  

 

Osvaldo relata que inicialmente o trabalho seria feito com um bode mas não encontraram um animal para a realização do sacrifício então a criança, no caso Evandro Caetano foi escolhida como substituta. Essa justificativa foi dada pelos três esses acusados nos seus depoimentos. Também segundo Osvaldo Marcineiro, Francisco Sérgio Cristofolini ou Airton Bardelli teriam matado a criança. Vicente de Paula Ferreira teria aberto um lado do peito da criança, já morta, e Celina com ajuda de Bardelli teria aberto o outro lado até tirar o coração da criança. Outras partes do corpo da criança teriam sido cortadas, postas em uma cumbuca de barro e levadas para uma casinha perto do portão. Davi dos Santos Soares conta que após esses acontecimentos Celina disse que qualquer um que delatasse o ocorrido teria o mesmo fim de Evandro. Ainda assim o homem considerou avisar alguma autoridade mas ficou com medo, principalmente considerando a proximidade da família Abagge com os os investigadores do caso.

 

 

02 de julho de 1992 – Confissões gravadas e prisão das Abagge

A fita cassete com as confissões das Abagge possui cerca de 20 minutos de duração e foi gravada no dia 02 de julho, dia das prisões. Além dessa fita existem mais duas confissões gravadas em fitas VHS com elas ou outros acusados e que aparentemente não foram veiculadas na imprensa na época. A primeira dessas fitas foi gravada no dia a prisão das Abagge e a segunda foi gravada no dia seguinte, dia 3 de julho, no IML de Curitiba e provavelmente  foi gravada por outros policiais. A primeira fita possui estampada a data de 2 de julho de 1992 estampada no canto inferior esquerdo da tela, nela vemos um homem barbudo na frente de uma parede branca, logo e seguida ele se identifica como Osvaldo Marcineiro. Osvaldo aparenta estar cansado, usa um suéter bege sobre uma camiseta branca e está com as mãos algemadas. A câmera dá zooms para frente e para trás, nessa fita Osvaldo relata com mais detalhes a realização do crime.

 

Celina Abagge teria encomendado o trabalho realizado com Evandro e Vicente, Celina, Beatriz e Osvaldo foram os responsáveis pela realização dele. A intenção do ritual era “abrir os caminhos” para a família Abagge, melhorando sua vida financeira e política.

 

Os acusados Celina, Vicente e Osvaldo estavam junto de Beatriz Abagge dentro do seu carro quando viram Evandro na rua. Celina já conhecia o menino e por isso imaginou que seria mais fácil levá-lo e o chamou para dar um passeio. O menino foi levado para um escritório na serralheria da família Abagge, que estava parada na época, e lá foi amarrado pelas pernas, enrolado e amordaçado.

 

Osvaldo e Beatriz saíram do local para comprar um alguidar, vasilha de barro utilizada em religiões afro-brasileiras. Osvaldo não se recorda quem ficou na serralheria tomando conta da criança e só retornou no dia seguinte, por volta das 20:00 ou 21:00.

 

De Paula estrangulou a criança enquanto os demais a seguravam. Osvaldo segurou a perna, Celina e Beatriz um braço cada uma. A criança foi deitada de barriga para cima e sua barriga foi cortada e seus órgãos foram retirados.

 

Nesse momento a gravação sofre um corte, um dos muitos que o vídeo contém.

 

Após o corte Osvaldo continua descrevendo a execução do ritual, as partes retiradas do corpo de Evandro e seu sangue foram colocados no alguidar como oferenda para Exú. O alguidar foi colocado numa casinha que havia na frente do portão da serralheria. Os suspeitos jogaram água no corpo da criança e a deixaram lá.

Nesse momento da gravação percebemos barulhos de pessoas e telefones, fora da cena. O gravação sofre outro corte no momento em que o policial pergunta para Osvaldo quem tinha ficado com os objetos usados para cortar Evandro. Osvaldo prossegue, diz que foi para casa porque estava passando mal mas conta que o corpo foi jogado no mato por Celina e De Paula e as vísceras, aos mãos e o sangue ficaram no alguidar, numa casinha que tinha dentro da serraria.

 

O depoimento de Osvaldo dura cerca de 14 minutos. Em seguida aparece outro homem: Davi dos Santos Soares. Cerca de 15 minutos e 40 segundos da fita, a câmera dá um zoom em Davi e um detalhe quase passa despercebido: tinha algodão em seu ouvido. Davi prossegue descrevendo os cortes que Osvaldo e De Paula fizeram no corpo.

 

Na noite do sequestro Davi conta que ajudou a procurar por Evandro e chegou a se encontrar com a tia do menino. Aqui, mais uma vez, a gravação sofre um corte e Davi prossegue descrevendo os acontecimentos daquela noite. Davina, a tia de Evandro, queria que De Paula ajudasse na busca enquanto incorporava uma entidade, esse acontecimento foi relatado e explicado no primeiro episódio. Após essas explicações a fita sofre outro corte abrupto.

 

Em resumo no depoimento de Davi ele conta que apesar de estar junto com todos os demais acusados, ter presenciado o crime sem fazer nenhuma denúncia ele não se envolveu com o assassinato, apenas observou as coisas enquanto elas aconteciam. Seu silêncio também foi motivado pelo medo de algo acontecer com ele ou com a sua família.

 

Seu depoimento durou cerca de 10 minutos, em seguida a gravação corta para um carro, um Ford Escort com uma placa de Curitiba, localizado dentro de uma garagem que parecer ser residêncial. Esse carro foi utilizado para no sequestro e transporte de Evandro. O vídeo corta novamente, a cena agora é dentro de um carro seguindo outro carro. Alguns cortes depois eles chegam na serralheria dos Abagge, onde segundo Osvaldo seria o local onde estavam escondidas as vísceras e partes do corpo de Evandro. Os policiais aparecem trajando roupas civis, deixando difícil identificar cada um.

 

Em determinado momento Osvaldo aparece de costas para a câmera com um capuz que cobre a sua cabeça inteira, em seguida vemos um homem pegando uma pedra para quebrar um cadeado numa casinha de alvenaria que existe na serraria. A casinha não devia ter mais de um metro de altura e possui uma portinha de madeira com uma tranca bem simples. De acordo com as confissões seria ali que as vísceras de Evandro teriam ficado após o ritual. Após diversas tentativas de tentar quebrar a tranca os policiais se dão conta que estão tentando arrombar uma propriedade privada e resolvem chamar duas testemunha, a cena é cortada e aparece um homem, que provavelmente é um funcionário do local. Perguntam ao homem de quem é aquela serralheria, ele responder que é do prefeito Aldo Abagge e também se identifica.

Os policiais conseguem abrir a porta e não encontram nenhum alguidar lá dentro, apenas uma vela grande como uma vela de sete dias na cor vermelha. Em seguida a câmera mostra uma mancha no chão que também parece ser vermelha, apesar da má qualidade do vídeo. A mancha pode ser sangue ou a cera da vela, não é possível definir ao certo pelas imagens. Os funcionários afirmam que ela foi construída fazia dois ou três meses. Como as gravações foram feitas em julho a data da construção bate com a data do desaparecimento do Evandro, o que foi uma confirmação para a polícia. Osvaldo confirma que as vísceras de Evandro foram levadas para lá e a polícia chega na conclusão que a casinha foi construída para a realização do ritual.

 

Ao entrar na casinha os policiais pedem para que Osvaldo descreva o que aconteceu no dia do ritual, pedindo até para que ele reencene como o menino foi asfixiado mas eles não obtêm sucesso. Um funcionário é chamado para ajudar na reconstituição do crime, o rapaz fica imóvel no chão, não compreendendo direito o que estava acontecendo, enquanto Osvaldo usa um objeto qualquer na mão descrevendo e reencenando como foram feitos os cortes. Todo esse trecho dentro da serraria dura cerca de oito minutos e depois há um novo corte na fita.

Aos 33 minutos do VHS vemos Celina e Beatriz sentadas num sofá, atrás dela há uma janela com uma cortina fechada e um sol forte batendo nela. Esse local seria o Fórum de Guaratuba. Beatriz parece estar praticamente catatônica. As duas não conversam entre si e apenas aparecem quietas de mãos dadas. A cena é cortada novamente e Celina aparece com o braço direito ao redor de Beatriz, a câmera desce e mostra o colo de Celina, mostrando um casaco nas coxas, sob a sua mão esquerda. Novo corte um homem aparece ao lado das duas segurando um papel enquanto Beatriz segura outro. O homem entrega o papel que segurava para Celina, que põe seus óculos, começa a ler e pergunta se pode assinar o papel. O homem responde que sim, ela poderia assinar sem nenhum advogado, o papel era o mandato de prisão. Beatriz assina enquanto Celina lê os dois lados do papel que tem em mãos e em seguida Beatriz dá a caneta para Celina.   

 

A cena corta e aparece outro homem do lado delas, as duas não estão mais com o papel na mão. Beatriz parece estar mais atenta mas Celina só olha para baixo. Outro corte, a câmera foca nas duas em silêncio, alguém fora do campo de visão da câmera pergunta o estado emocional delas após o ritual, Beatriz e Celina respondem que se sentiram normal, sem nenhum mal estar após o ritual. Mais um corte, a câmera próxima ao rosto de Beatriz que o esconde com a mão direita. O homem que está segurando a câmera começa a fazer perguntas para Beatriz e puxa a mão que ela usava para esconder o rosto. O carro se está na travessia do ferry boat, saindo da cidade e indo em direção a Matinhos, município vizinho. Beatriz passa o tempo inteiro de olhos fechados e parece bastante abatida. O homem pergunta de quem foi a ideia de fazer o ritual e ela responde que a ideia veio do De Paula. Beatriz chora muito, apoia a cabeça e os braços no banco da frente. Ela se recusa a falar mais sem a presença do advogado.

 

A cena corta mostrando a parte de fora do carro. Aparecem muitos homens e policiais fardados e poucos carros. Pelo que sabemos esse ferry boat foi exclusivo para os policiais e as Abagge. Numa das últimas cenas surge um close no carro onde estava Celina Abagge com um homem ao seu lado e outros ao redor do carro.

Ao todo o VHS possui em torno de 45 minutos. A segunda fita foi gravada no dia 3 de julho, dia seguinte das prisões, no Instituto Médico Legal de Curitiba, na seção de identificação. Essa fita tem cerca de 36 minutos com cenas onde os cinco presos aparecem. Pela primeira vez vemos Vicente de Paula, o outro homem preso no dia 2 de julho. Durante toda a fita Celina e Beatriz não se pronunciam. Há novos depoimentos de Davi e Osvaldo, que repetem basicamente as mesmas coisas do dia anterior de forma mais detalhada, apenas Vicente de Paula trás novas informações.

 

Ele conta que é de Curitiba mas conta que foi até Guaratuba levar uns materiais e lá foi convidado para um ritual onde haveria o sacrifício de um bode mas ao chegar no local havia uma criança no lugar. Ele explica mais detalhes sobre como o ritual foi realizado.

 

Durante todos os anos que o processo ocorreu na justiça muitos advogados alegaram o quando a imprensa teve sua parcela de culpa em toda a forma como o caso foi construído. Moacir Favetti, numa declaração, rebate que em determinadas situações o próprio Osvaldo estava calmo e pedia para a imprensa se organizar para poder responder melhor as perguntas e relatar o ocorrido. Para ele esse comportamento indica que Osvaldo não poderia estar pressionado para confessar o crime.

 

A partir dessas revelações outros casos também foram se desenrolando. Em uma matéria de capa do jornal Tribuna do paraná do dia 7 de julho de 1992 é descrito que os retratos-falados dos homens que raptaram Guilherme Tiburtius e Everton Gonçalves correspondem com as características de Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos Soares. A matéria não explica se os retratos-falados são referentes ao caso do desaparecimento de Guilherme em 1991 ou de Everton em 1988, pode ser que cada retrato falado é de um caso isolado ou que eles tenham aparecido nos dois casos.

 

 

Detalhe da capa de 07 de Julho de 1992 do jornal Tribuna do Paraná

 

 

 

Capa completa da edição do dia 7 de Julho de 1992 do jornal Tribuna do Paraná

 

Página 6 da edição de 7 de Julho de 1992 da Tribuna do Paraná. Menção a um caso de Goiás.

 

Nessa mesma edição há uma outra notícia sobre um caso idêntico ao do Evandro que ocorreu em Goiás, envolvendo o sacrifício de um menino chamado Michel Mendes. Na edição do dia anterior, dia 6 de julho de 1992, matéria do jornal Tribuna do Paraná também há uma menção ao caso sobre o menino Evandro e todo o misticismo em torno do número sete envolvido no caso.

 

 

Ainda assim as confissões carregam uma série de estranhezas. Por exemplo, ao serem perguntados quem e como Evandro foi morto, Osvaldo, Beatriz e De Paula contam histórias diferentes. Osvaldo e Beatriz, por exemplo, citam De Paula como o responsável por ter asfixiado a criança. No dia seguinte, De Paula diz que a criança já estava morta quando ele chegou e que quem asfixiou a criança foi provavelmente Celina, Beatriz ou Bardelli. 

 

Quando perguntado quem participou do ritual Osvaldo responde que foi ele, De Paula, Celina e Beatriz. Dos sete indicados estão faltando De Paula, Bardelli e Sérgio Cristofolini. No dia seguinte, dia 3 de julho, durante a coletiva de imprensa, Osvaldo aponta Bardelli ou Sérgio como responsável por ter matado Evandro enquanto De Paula foi quem abriu o corpo. Osvaldo não só menciona pela primeira vez os outros acusados pela mas também chega a confundir o nome de Airton. Osvaldo confunde e esquece de muitos outros detalhes sobre o ritual e todos esses detalhes tornam as confissões ainda mais estranhas.

 

Essas não são as únicas coisas estranhas das confissões, as confissões são essenciais para a montagem da acusação então vamos citar quais são elas exatamente. Foram quatro confissões gravadas: a primeira seria a fita VHS gravada pelo Grupo Águia no dia dois de julho, contendo as confissões de Osvaldo, Davi e brevemente a de Celina e Beatriz. A segunda seria a fita cassete gravada também pelo Grupo Águia, é a fita cujos trechos circularam pela imprensa da época com as confissões das Abagge. A terceira gravação seria a fita VHS gravada por policiais no IML de Curitiba no dia três de julho com depoimentos de Davi, Vicente e Osvaldo. A quarta fita seria a coletiva de imprensa que ocorreu na Secretaria de Segurança Pública do Paraná no dia três de julho com declarações de Osvaldo, Davi e Vicente.

 

Ao contrário do esperado essas gravações acabaram não desempenhando um papel tão central na montagem da acusação como o esperado. ao que tudo indica, pelo menos oficialmente, o Ministério Público entendia que tais declarações não haviam sido prestadas em juízo, se caracterizando mais como confissões informais. Dessa forma a acusação acabou montando o caso baseada em confissões prestadas oficialmente, realizadas na presença de promotores.

 

Sendo assim o primeiro depoimento oficial ocorreu na noite do dia dois de julho de 1992 no Quartel da Polícia Militar de Matinhos. Os cinco primeiros presos depuseram naquela noite: Beatriz, Celina, Osvaldo, Davi e Vicente. Beatriz e Celina estavam acompanhadas de advogados e já naquela noite afirmavam que não teriam feito nada e que foram forçadas a confessar. Já os outros três, que estavam sem advogados, prestaram longos depoimentos naquela madrugada de dois para três de julho, dando longos detalhes de como o crime ocorreu. Esse é o primeiro depoimento realmente relevante para o Ministério Público, que monta sua acusação com base nas delações dos três homens.

 

03 de julho de 1992 – Coletiva de imprensa com Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula e Davi dos Santos Soares.

Dia seguinte da prisão dos primeiros cinco acusados, mais duas pessoas foram presas, totalizando sete acusados. Diferente dos outros cinco esses dois últimos nunca confessaram. Nessa coletiva de imprensa o Governo do Estado do Paraná apresentava publicamente a resolução do caso. Lá estavam não apenas jornalistas de todo o Brasil mas também pais de crianças desaparecidas do Paraná. Os três homens respondiam pacientemente as perguntas dos jornalistas.

 

Celina e Beatriz também estavam nesse dia na Secretaria de Segurança Pública mas por orientação dos seus advogados não foram obrigadas a participar da coletiva, fato que foi notado por Osvaldo Marcineiro na ocasião. O vídeo abaixo é um compilado de várias matérias da época. Em certo trecho, é possível ver a coletiva de imprensa do dia 3 de Julho de 92. 

Durante o exame de lesões corporais de  Osvaldo, Davi e Vicente no IML de Curitiba eles reforçam suas confissões. Essas confissões foram a segunda vez que eles confessaram o crime. Ainda nesse dia, Airton e Sérgio foram presos em Guaratuba mas jamais confessaram suas participações.

 

11 de julho – Acareação dos fatos entre os cinco homens acusados

 

Tendo em vista que o depoimento dos três primeiros homens que confessaram não estavam condizente com os depoimentos de Sérgio e Airton que negavam tudo os cinco homens passaram por acareação entre si. Eles foram colocados um de frente para o outro, sempre em pares, no qual um dizia sua versão e o outro falaria a sua, esperando que assim se chegasse a uma versão final dos fatos. Isso aconteceu dentro do Presídio do Ahú, em Curitiba. Tudo se manteve da mesma forma: Davi, Osvaldo e Vicente continuaram afirmando suas participações no crime enquanto Sérgio e Airton negaram tudo. Foi também neste depoimento que os três homens teriam confessado envolvimento no caso Leandro Bossi. Essa foi a terceira vez que confessaram em depoimentos formais.

 

12 de julho

 

Por conta a menção a Leandro Bossi o delegado Luiz Carlos de Oliveira foi visitá-los no Presídio do Ahú, em Curitiba. Nesta ocasião Osvaldo teria relatado para ela que estava sendo torturado.

 

13 de julho

 

Os três homens que confessaram foram acareados com Celina e Beatriz. Elas continuaram negando e, naquela ocasião, Osvaldo passou a negar também, dizendo que estava sendo torturado. Davi e Vicente continuavam confessando. Essa seria a quarta confissão oficial mas apenas com esses dois.

 

28 de julho

 

Em audiência com a juíza Anésia Edith Kowalski, em Curitiba, após uma abertura de inquérito para a investigação de maus tratos que estariam ocorrendo no presídio, inquérito que foi aberto após auxílio do delegado Luiz Carlos de Oliveira, todos os sete acusados passaram a negar envolvimento com o caso Evandro, assim como alegaram que estavam sendo torturados para confessar. E pela primeira vez no processo Davi, Osvaldo e Vicente, os três homens cujas confissões foram a base para a montagem da acusação, tinham advogados.

 

COISAS ESTRANHAS

 

Se estamos buscando alguma lógica nas confissões dos acusados faria sentido o Ministério Público se focar mais nos depoimentos formais, já que eles são mais coerentes entre si. Afinal quando colocamos eles em comparação com as fitas VHS parece que algumas coisas não se encaixam. Na fita Osvaldo diz que quem participou do ritual foi ele, De Paula, Celina e Beatriz, quatro pessoas. Esse depoimento em VHS foi provavelmente gravado na manhã do dia dois. Na madrugada do dia dois para o dia três, quando Osvaldo presta depoimento formal no quartel de Matinhos, ele cita novamente essas quatro pessoas e inclui Davi, Sérgio e Airton. Literalmente do dia para a noite quatro pessoas viraram sete. No dia seguinte, na coletiva de imprensa, enquanto Sérgio e Airton eram presos em Guaratuba, Osvaldo e Vicente citavam pela pela primeira vez em gravação esses outros dois homens.

 

Quando comparamos as gravações com os depoimentos formais podemos notar muitos detalhes estranhos e há duas forma de interpretação para elas. Na versão da defesa eles foram torturados para montar essas versões, que tinha que ser sete pessoas no total e que só no dia três de julho é que Francisco Sérigio Cristofolini e Airton Bardelli teriam sido inseridos nessa narrativa. No depoimento formal do dia dois de julho, o nome dos dois homens acusados por último já constavam nas confissões. Para a defesa, esse depoimento pode ter sido forjado ou escrito depois.

 

Uma das pessoas que se aprofundou nas acusações de tortura foi a advogada Isabel Kugler Mendes. Ao registrar todos os relatos de tortura, ela acabou produzindo dois dossiês: o primeiro foi feito no dia 23 de Novembro de 92 e chama-se “Caso Evandro de Guaratuba”; o segundo, mais completo, data do dia 23 de junho de 93, e chama-se “Tortura Nunca Mais?”.

 

Num depoimento prestado no júri de 2004, quando foram julgados Davi, Vicente e Osvaldo, a Dra Isabel comentava como se envolveu no caso e o que acreditava ser um indício de que os depoimentos no quartel de Matinhos teriam sido forjados: nas confissões reduzidas a termo, havia termos técnicos que seriam difíceis de pessoas de baixa instrução conhecerem.

 

Já para Leila Bertolini, a delegada do Grupo TIGRE, chamava a atenção o fato das confissões a termo serem “limpas demais”, ou seja, com a ausência de termos como “digo”, que são comuns em depoimentos orais reduzidos a termo.

 

DOWNLOAD Depoimentos 2 e 3 de julho de 1992

 

As confissões completas de Vicente de Paula e Osvaldo Marcineiro foram publicadas na íntegra em 09 de Julho de 1992, no jornal Diário Popular. Como se nota, nada disso foi questionado pela imprensa da época.

 

Primeira página do Jornal Diário Popular, anunciando “A Confissão dos Satânicos” e apedrejamento da casa dos Abagge

 

 

Na página 6 daquela edição, as confissões completas

 

 

Além disso, de acordo com depoimento de um dos médicos que assinaram o laudo de necrópsia no IML de Curitiba, o Dr. Francisco Moraes Silva, muitas das mutilações descritas na confissão não conferem com as lesões que foram encontradas no corpo.

 

Esses fatores, junto com os relatos de torturas dos acusados, acabaram chamando a atenção de grandes figuras da Igreja Católica na época, tais como Frei Miguel e Dom Pedro Fedalto, o arcebispo de Curitiba. Ambos passaram a se pronunciar publicamente a favor da inocência dos acusados.

 

Jornal Gazeta do Povo de Agosto de 1994

 

Para Diógenes Caetano dos Santos Filho, essas pessoas estariam mentindo ou sendo manipuladas pelo poder de influência política que a família Abagge possuía.