Extras Episódio 04

A essa altura da investigação, Ivan Mizanzuk já tinha uma caixa de documentos da família de Ilo Rodrigues, um dossiê feito pelo pai do piloto, uma coleção de narrativas contadas por diversas pessoas, e um inquérito frustrante.
No esforço de tentar entender por que o registro das investigações é tão pequeno, o jornalista aceitou que precisava olhar para a figura que rondava essa história: Castorino Augusto Rodrigues, pai de Ilo.
Na caixa que Wanda, ex-esposa do piloto, entregou a Ivan, cheia de documentos acerca do desaparecimento, havia um DVD. Ao assisti-lo, o jornalista se deparou com uma homenagem que a Votorantim de Rio Branco do Sul, cidade próxima de Curitiba, fez a Castorino após a morte dele em 1993.
A imagem na tela mostra um dia ensolarado. Ali vemos uma rua com árvores, na entrada da fábrica de cimento, onde acontece a inauguração de um busto com o rosto do patriarca da família Rodrigues. Essa estátua está lá até hoje.
A audiência é composta por cerca de 200 pessoas, inclusive familiares de Castorino, como Cassiano, filho de Ilo – que nessa época era um jovem cabeludo de 19 anos. Em certo momento, um homem engravatado sobe ao púlpito e lista o nome das personalidades presentes. Entre elas, figuras políticas, diretores da Votorantim e membros da família Ermírio de Moraes; além de maçons e praticantes do radioamadorismo.
Depois do mestre de cerimônias, quem fala é José Ermírio de Moraes Filho, então presidente do Conselho de Administração do Grupo Votorantim. Ele faz um longo discurso em homenagem a Castorino e, no fim, convida Gecy, a viúva, a tirar o pano que cobre a placa abaixo do busto. Ambos fazem isso juntos, enquanto o público bate palmas. Eles se abraçam. A câmera foca na estátua, e o vídeo acaba.
Pode parecer um evento banal, mas as pessoas presentes na homenagem póstuma não eram meros mortais. Quando a família falava sobre os contatos de Castorino, esses personagens eram apenas a ponta do iceberg. Havia muito mais.
A primeira vez que Ivan ouviu falar sobre Castorino e o caso Ilo foi por meio de Vanessa Brudzinski, a designer que aparece no primeiro episódio desta temporada. À medida que o jornalista conhecia a família Rodrigues, uma história que Vanessa lhe contou ganhou ainda mais destaque. A narrativa em questão está ligada a uma série de pertences que deveriam ser divididos entre os herdeiros após a morte de Gecy, viúva de Castorino, em janeiro de 2001 – pouco antes dela completar 85 anos de idade.
Na ocasião, Vanessa lembra que foi junto com o então namorado, Cassiano, para o apartamento dos avós dele, no Centro de Curitiba. Apesar de grande, o imóvel estava meio vazio e lhe causou uma sensação de estranheza. Mas, enquanto o neto de Gecy não se interessou por nada que estava lá para levar consigo, um cômodo específico encantou Vanessa.
“Eu entrei para ver e amei. Era uma salinha de radioamador. Olha o que ficou na memória! Tinha vários cartões postais e correspondências. Depois, o Cassiano me falou que o avô dele era radioamador e se correspondia com gente do mundo inteiro. Aquilo para mim foi… Meu Deus do Céu, tem um tesouro aqui, sentimental, com muitas histórias de vida para contar”, disse ela na conversa com Ivan.
Vanessa mostrou aquilo tudo para Cassiano, mas ele não teve a mesma reação que ela. “Eu não vou lembrar se ele levou alguma coisa daquele apartamento. Mas parecia assim, do tipo: vou lá ver e ok, vou embora”, completou.
Esse pequeno evento marcou tanto a designer que, ao se deparar com outra situação parecida, uma frase surgiu na cabeça dela: “a história não é de quem fica, a história é de quem viveu”.
O segundo momento que consolidou essa ideia aconteceu um dia qualquer, no horário de almoço do trabalho, enquanto Vanessa caminhava pela Avenida Getúlio Vargas, em Curitiba. Em certo ponto, ela encontrou pilhas e pilhas de disco de vinil, jogadas do lado de fora de uma casa. Era uma ótima coleção, e a designer pegou vários exemplares, de Frank Sinatra a Cartola.
“Naquele momento, eu tive o mesmo sentimento de quando estive na salinha dos cartões postais. ‘Cara, isso daqui é uma preciosidade’. Mas ela conta a vida de alguém que viveu isso, não a de outras pessoas. Então, o filho, o parente, o sobrinho, sei lá, dessa pessoa que morreu… Isso daqui não é a história dele, é de quem se foi, né? Às vezes, a gente não tem essa percepção quando passa por isso”, afirmou Vanessa.
”A história não é de quem fica, a história é de quem viveu.” Meses após essa entrevista, a frase ainda ecoava na mente de Ivan. Ele se perguntava se isso realmente fazia sentido. Para buscar uma resposta, resolveu marcar uma conversa particular com Iná, a filha mais velha do casal Castorino e Gecy. Ela estaria disposta a mostrar o que tem dentro das gavetas da família? Expor o que se esconde ali?
INÁ, A FILHA MAIS VELHA
Em uma tarde ensolarada, Ivan foi até a casa de Iná, um sobrado típico de uma antiga classe média em Curitiba. Assim como da primeira vez que a viu, ela exibia uma postura impecável, mesmo sentada de forma casual à mesa da sala – um cômodo com poucos móveis, nada muito luxuoso. Baixinha e sempre elegante, ela vestia roupas simples.
A elegância vinha mais da postura e do jeito de falar, da maneira como ela organiza as lembranças e da habilidade em preservar a memória da família. Mesmo quando soltava um palavrão ou outro no alto dos 85 anos, essa impressão se mantinha. Nesse sentido, ficou evidente para Ivan que ela de fato é filha de Castorino.
Antes da entrevista, Ivan havia pedido que Iná lhe mostrasse todos os materiais que guardou, vindos dos Rodrigues. Aparentemente, ela não tinha os cartões postais mencionados por Vanessa. Mas a maior curiosidade do jornalista estava nas velhas cartas da família, que Iná tomou todo o cuidado de conservar. Cartas que a mãe, Gecy, costumava manter enroladas dentro de caixas e armazenadas em gavetas.
“Quando ela [Gecy] morreu, nós começamos a dividir as coisas, e deu muita encrenca, para variar, né? Eu fiquei com as coisas que ninguém queria. […] Fui na gaveta da cômoda e catei [as caixas com as cartas]. Porque isso eu queria. Eu sabia que ninguém ia cuidar. Podia herdar e deixar em um canto. Então, eu peguei. Aí, devagarinho, fui arrumando”, contou ela a Ivan.
A arrumação de Iná significa o seguinte: ela pegou uma série de lembranças familiares, dividiu em grupos, estabeleceu uma linha cronológica e, depois, encadernou tudo. Esse esforço resultou em três livros. Um deles é uma investigação da árvore genealógica da família, obra de Castorino. Com 122 páginas, ele começa no ano de 1835, a data de registro do antepassado mais antigo. Entre as linhas preenchidas, há uma série de fotos e certidões de nascimento.
O segundo livro é uma espécie de biografia de Castorino, feita com a ajuda de documentos, materiais do trabalho dele na Votorantim e papeis relacionados a algumas das paixões que possuía – tais como aviação, rádio amador e escotismo. Esse documento possui quase 300 páginas. Ali, logo no início, há uma carta de Gecy, datada de setembro de 1993, meses após a morte do marido, ocorrida em 30 de maio. Nela, a viúva agradece a um vereador de Curitiba por uma pergunta que ele a fez pouco tempo antes: se ela aceitaria que uma rua da cidade recebesse o nome do falecido esposo. Ao respondê-lo, ela diz que se sentiria muito honrada com a homenagem.
O final do livro, com materiais juntados anos após o falecimento dos pais, Iná preencheu com cartas, postais, bilhetes e e-mails que trocou com a filha Isinha e os netos.
No meio disso tudo, existem ainda diversas cartas espíritas. Uma boa parte da família segue essa religião, e Iná preservou várias mensagens que recebeu via médiuns, especialmente na década de 1990, quando os pais ficaram doentes.
Por fim, o terceiro livro tem pouco mais de 100 páginas, e esse era o mais interessante para Ivan. Entre uma matéria de jornal e outra em que Castorino e Gecy são mencionados – seja pelos interesses em rádio amador ou pela Votorantim – vemos uma série de cartas pessoais.
Entre elas, mensagens que o casal trocou durante os períodos em que Castorino mudava de cidade, a trabalho, e preparava tudo para que a família pudesse se juntar a ele mais tarde. Eram correspondências trocadas entre 1922 e 1941, que viajavam de Sorocaba à Recife, e vice-versa. Posteriormente, entre 1941 e 1954, novas cartas, desta vez cruzando o espaço entre a capital de Pernambuco e Rio Branco do Sul, no Paraná; além de escritos datados do final dos anos 1990 e início dos 2000.
No fim do livro, encontramos uma caderneta dedicada à Iná, feita pelos pais logo após ela nascer, em fevereiro de 1939. No meio dela, um pequeno envelope com uma mecha de cabelo, cortada quando ela tinha apenas um ano de idade.
Como Iná disse para Ivan inúmeras vezes, esses eram os tesouros que outrora estavam enterrados nas gavetas da mãe.
Naquela tarde, durante a conversa, o jornalista percebeu que olhava através do buraco de uma fechadura que não era dele. Por isso, precisou fazer uma pergunta específica para Iná antes de avançar: será que ele poderia ter acesso a todo esse conteúdo e digitalizá-lo?
A primeira resposta dela foi incisiva: de jeito nenhum. “Eu não quero o nome deles aparecendo. Não é só eu. A família não quer. Eu não sei o Cassiano e a Wanda. Mas, da minha parte, a minha família, nós não queremos que apareça nada”, falou.
Ao questionar o motivo, Iná disse suspeitar que Ilo pode sim ter se metido em encrenca e, por isso, ela tem medo que alguma revelação manche o nome da família.
Esses foram os primeiros minutos de uma conversa que durou quase três horas. Ivan entende que mexer nas gavetas da nossa família é um exercício difícil e muitas vezes dolorido, mas foi essa fala de Iná que o fez questionar se Castorino seria capaz de abafar crimes que o filho teria cometido – ou até mesmo se teria poder para isso.
Ilo desapareceu fazendo aquilo que mais amava: pilotar avião. A aviação, com tantos desafios e belezas, sempre exigiu dos pilotos uma orientação constante, uma ligação íntima com o céu e a terra. Antigamente, os aviadores confiavam não apenas em instrumentos como a bússola, mas também nas estrelas para guiar as jornadas.
A busca de Ivan por respostas agora seguia por caminhos diferentes. Não era só uma investigação sobre o presente, mas uma exploração do passado, onde cada detalhe, cada memória, poderia ajudar a solucionar esse mistério. A orientação aqui não será pelas estrelas, mas pelas pessoas. Principalmente pela história de Castorino.
CASTORINO, O “RASPA DE TACHO”
Então, comecemos do início. Castorino Augusto Rodrigues nasceu em 29 de novembro de 1913, em Sorocaba, São Paulo. Ao que tudo indica, ele era o caçula de 13 filhos – a incerteza aqui tem como motivo o desencontro de informações presente nos documentos.
Um momento da conversa com Iná ajuda a elucidar esse contexto. Acompanhe abaixo:
Iná: […] Por exemplo, uma dessas perguntas… Por que tratavam a gente assim? Ele tinha muita mágoa. “Ilo, nós somos a migalha que caiu da mesa deles. Nós não fomos esperados, sonhados e amados. Nós nascemos porque eles treparam. Só!”. Eles também já nasceram assim, tanto meu pai como a minha mãe. Não eram filhos amados, esperados e sonhados. Ela [Gecy] foi a penúltima de oito, de um casal que brigava de faca, que se xingava de “maledetto” e “maledetta”. Quer dizer, falta amor. O básico ali, falta amor. Ele [Castorino] foi o caçula, bem raspa de tacho. A irmã dele tinha 17 anos quando ele nasceu. Ela que cuidou dele. Ele foi… Como é que a gente chama quando a mulher deixa de… Ai, faltou a palavra… Quando a mulher deixa de menstruar? Tem um nome…
Ivan: Na menopausa?
Iná: Menopausa. Ele foi filho da menopausa. Da vó Augusta. Não foi ela que cuidou dele.
Ivan: Quantos irmãos ele tinha?
Iná: Seis ou oito também. Foi a tia Olinda que criou ele. Até casar, né? E a vó Augusta era carola. O negócio dela era a igreja e o padre. O resto… Então, eles não foram amados. Como é que eles iam dar amor que não tinham? Que não tinham recebido?
O próprio Castorino construiu a árvore genealógica da família, descrita no primeiro dos três livros mencionados anteriormente. Mais do que nomes e datas, no entanto, ali estão fragmentos de vida. Ao folhear o documento, Ivan vê a árvore de Castorino e também de Gecy, cujas raízes vêm da Itália. Cada filho tem um espaço reservado: as páginas registram de aniversários, crismas, comunhões, a cirurgias e cursos. No caso de Ilo, até mesmo as datas de quando teve catapora e sarampo estão anotadas.
Entre as folhas, há fotos, coladas como marcadores de tempo. Castorino aparece em várias delas, sempre com um semblante sério, quase impenetrável. Mas uma imagem em particular chama a atenção. Nela, o patriarca está sentado em uma poltrona, o olhar voltado para o lado, enquanto Gecy, de pé, apoia as mãos na cabeça dele, sorrindo. Ali, nesse pequeno instante capturado, o pai de Ilo deixa escapar um esboço de sorriso. Como se, por um breve momento, a seriedade tivesse cedido.
Com esse tesouro em mãos, Ivan ficou imaginando o trabalho que Iná teve para organizar tudo aquilo. “Eu sabia o que era [os documentos], mas nunca tinha lido. Aí eu tive que ler cada coisa. Chorei um monte, claro. Li cada coisa. E tentei botar em ordem. Como é que eu vou guardar isso? Esse papel fininho, um papiro, assim. Eu não sei se fiz o melhor, mas achei que, colando, mantinha mais. Aí, mandei encadernar depois”, explicou.
Em meio aos documentos que o próprio Castorino redigiu, há uma passagem que diz:
Quando jovem, trabalhou em posto de gasolina, como frentista, e em lojas de peças de automóveis. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, alistou-se e serviu como voluntário em São Paulo.
O texto, que flutua entre o formato de um currículo formal e uma autobiografia íntima, revela os primeiros encontros de Castorino com Gecy no final de 1933. Foi o início de um namoro e noivado que se estenderiam por quatro anos.
Gecy, três anos mais jovem, nasceu em 21 de fevereiro de 1916. Eles se casaram em 28 de junho de 1938, quando ela tinha 22 anos e Castorino, 25. Mas, antes mesmo da união ser oficializada, ele deixou em seus diários uma mensagem especial para a futura esposa: um poema.
Leia na íntegra abaixo:
A você
Eu te amo muito; Sabes?
Quero que tenhas, Tudo…
Que te faça lembrar, Em mim.
E que me ames, Muito!!!
E com loucuras Tantas;
Como eu amo A ti.
E que me queiras,
Como eu te quero:
Que vivas para mim
Como julgo viver?
Somente para ti,
E somente assim
Serei feliz, G…
CA.R/37
Segundo a filha Iná, Castorino só estudou até o terceiro ano do primário. Depois, pulou de emprego em emprego, até finalmente encontrar uma oportunidade na fábrica de cimento onde faria carreira e trabalharia para o resto da vida. Na época, a empresa ficava na região de Sorocaba.
Castorino só retornou aos livros depois que casou, quando fez um curso de Química por correspondência – o que equivale ao ensino à distância de hoje. No horário de almoço, enquanto os colegas paravam para comer, ele ia escondido até o laboratório para praticar o que tinha estudado. Certo dia, porém, errou a fórmula e um tubo de ensaio estourou. A peripécia o fez ser chamado para a sala do chefe, um dinamarquês chamado Dalsborg. Em vez de demitir o empregado, Dalsborg elogiou a iniciativa do empregado e conseguiu para ele uma vaga na área de química. “Você errou, rapaz. Mas é interessado, então vai para o laboratório”, teria dito o supervisor, em meio a gargalhadas.
Em 1941, Castorino foi transferido para Recife, Pernambuco, para ajudar a reerguer a fábrica de lá, que estava prestes a falir. “Perguntaram se ele topava ir. Ele sempre topou tudo. Foi de navio, e começou a correspondência com a minha mãe, porque nós teríamos que ir em seguida. É muito bonitinho de ver”, afirmou Iná.
RUMO A RECIFE
Esta é a primeira carta encontrada no livro da família:
Santos, 23 de agosto de 1941
Querida Gecy, estou em Santos há dois dias. Achei prudente escrever para te avisar que, logo que seja possível, deve procurar o Dr. Fernando para vacinar você, Iná e Ivo, pedindo a ele o atestado dos três. É bom você perguntar a ele se são três atestados ou se pode ser em um só.
Espero, Gecy, que você e as crianças estejam mais conformadas. Eu estou fazendo força para me conformar. A vida é assim. Logo que eu chegue ao meu destino, te comunicarei.
Lembranças às pessoas que perguntarem por mim. Um beijo para Iná e o Ivo.
Você, Gecy, aceite esse forte abraço e beijo do teu esposo que tanto te adora: Castorino.
Imagine um homem embarcando em um navio rumo a Pernambuco em 1941 e uma mulher com dois filhos à espera de instruções, quando o único meio de comunicação eram as cartas.
Castorino partiu sozinho para explorar um novo território, com a missão de preparar o caminho antes de levar a família. Era uma jornada de 12 dias em um navio, carregada de incertezas. Por isso, cada palavra escrita no papel se tornava um fio de ligação entre ele e aqueles que ficaram para trás, aguardando o momento de se reunirem em um lugar desconhecido.
Ao mesmo tempo que as cartas contêm orientações detalhadas, quase burocráticas, elas também escondem mensagens íntimas e carinhosas. Em uma delas, por exemplo, Castorino chama Gecy de “japonesa”.
Gecy era filha de italianos que vieram para o Brasil. Não era japonesa, mas, por algum motivo, nessa época, Castorino deu esse apelido à esposa. Nem Iná, a filha mais velha do casal, soube dizer qual a origem disso. Ela especula que talvez o adjetivo tenha vindo de uma música que eles cantavam juntos, sobre uma japonesa. Esse é um daqueles detalhes que só um deles poderia explicar.
Após semanas sem dar notícias, a 2,5 mil quilômetros de distância, Gecy também escreveu ao marido. De Sorocaba, ela o atualizava sobre a saúde da mãe, que não ia muito bem, e falava como estavam as crianças, os afazeres da casa e a arrumação para a mudança.
Os dias passavam e as correspondências continuavam. Em uma das mensagens, Castorino diz para Gecy não dar confiança a ninguém no navio ao embarcar com as crianças. Esta foi a resposta dela:
Sorocaba, 16 de Setembro de 1941
Negrinho, quanto a tua recomendação, sobre eu não dar confiança a ninguém, sabes muito bem a mulher que tens, eu não sou nenhuma criança. Você aí sozinho é que me dá cuidado. Cuidado que, quando eu chegar, descobrirei tudo. Negrinho, faça força para que essa casa fique para nós, tenho muita pressa em ir.
Sobre a forma como Gecy chama o marido, “negrinho”, Iná tem uma explicação. “Para a família da minha mãe – composta por italianos para lá de preconceituosos, imigrantes pobres, mas julgando muito a vida dos outros – o meu pai era negro. Na verdade, ele tinha cor de ‘índio’. Cabelo bem preto e bem liso. Então, ele era negro. Aí, ela chamava ele de ‘negrinho’, carinhosamente”, disse a Ivan.
À família e amigos, Castorino sempre falou que era descendente de indígenas, e isso o levou a desenvolver interesse pela cultura de povos originários. Na homenagem póstuma citada no início do episódio, esse detalhe chegou a ser mencionado. Segundo o discurso lido na ocasião, Castorino mantinha contatos sistemáticos com os Caingangues – ou Kaingang -, da reserva de Laranjeiras do Sul, no Paraná.
Como Ivan aprenderia mais tarde, essa seria mais uma das inúmeras contradições que rodeavam a vida do patriarca da família Rodrigues.
Outra particularidade surge em uma das correspondências seguintes de Castorino para a esposa. Nela, há este pequeno trecho:
Gecy, não esqueças de assinar [o nome] com C. Nesta última carta, você assinou com SS.
Como resposta, ela promete seguir as instruções do marido, o que de fato faz nas próximas cartas. Ao ler tudo isso, Ivan ficou intrigado, sobretudo porque Iná já havia dito que o pai tinha um temperamento autoritário. Será, então, que ele tentou controlar até mesmo o nome da esposa?
Na certidão de nascimento, “Gecy” está escrito com “C” e “Y”. Mas, ao longo do tempo, parecia que ela queria mudar a grafia para “Gessy”, com dois “S”.
Acerca do assunto, Iná traz outra revelação que ninguém esperava: o nome de batismo de Castorino não era esse. Na verdade, ele se chamava Asquetríades. “Você imagina! Até oito ou nove anos, ele tinha esse nome. Depois que alguém foi ao cartório e mudou. Já ela, eu não sei se foi batizada com ‘C’ ou ‘SS’. Eu sei que o nono, pai dela, colocou os nomes dos filhos baseado em alguma coisa que ele lia. O meu pai dizia que ele era muito culto. Esse nome, Gessy, era de uma marca famosa de sabonete que existe até hoje. Hoje, é um sabonete vagabundo, mas na época, pelo jeito, era famoso”.
Entre as demais cartas trocadas entre o casal, há a notícia da morte da mãe de Gecy e pedidos para que Castorino mande mais dinheiro à família para custear os preparativos da viagem.
No final de 1941, ela finalmente embarcou rumo ao encontro do amado, em uma trajetória que também duraria 12 dias, de São Paulo a Pernambuco. Consigo, estavam os dois filhos pequenos, Iná e Ivo. A primogênita nasceu em 27 de fevereiro de 1939, e o menino veio ao mundo um ano depois, em 29 de fevereiro de 1940. Ambos compartilham o mesmo mês de aniversário da mãe, um detalhe que amarra as datas de forma curiosa.
A travessia de navio marcava o início de uma nova etapa na vida dos Rodrigues, deixando para trás o que lhes era familiar e enfrentando o desconhecido em busca de um futuro que Castorino havia começado a desbravar.
Entre as cartas dentro da caixa, havia uma de Dalsborg, chefe de Castorino, enviada quando o pai de Iná já trabalhava em Pernambuco há pouco mais de dois anos. Nela, notamos que Castorino não parecia estar tão satisfeito com a promoção que recebeu, como era de se imaginar. Um trecho dela diz o seguinte:
[…] Já sei que não estava 100% entusiasmado com Recife e, como antes de mais nada considerava aquilo um intervalo, infelizmente necessário para formar a sua carreira, o que me parece ter conseguido muitíssimo bem, tão bem que seria quase criminoso interromper agora. Citando o Dr. Moraes: “aquele rapaz estava com jeito de ir longe. O que precisamos em Recife é mais dois ou três do mesmo jeito.”
Em outra passagem, a carta faz referência a uma mensagem recebida de um homem chamado Christensen, provavelmente outro dinamarquês, que afirmava:
“Tudo aqui não vai muito bem. Castorino briga com todo mundo por causa do serviço e agora temos política feia aqui também”. Não sei o que ele quis dizer sobre isso, mas talvez tenha alguma conexão com o seu desgosto geral.
Apesar das insatisfações que os colegas de Castorino percebiam, em algum momento, ele aparentemente se encontrou e cresceu dentro da empresa. Além disso, achou um jeito de aproveitar a vida.
Iná conta que a família morava na praia, a 32 quilômetros da capital de Pernambuco. Uma vez por semana, o casal ia à Recife desfrutar dos serviços que a cidade oferecia, enquanto as crianças ficavam com as empregadas. “Ela ia ao salão, e ele ao escritório. Depois, saíam juntos ao cinema e voltavam para casa só à noite, trazendo para nós chocolate e revista em quadrinhos. Meu pai levava a minha mãe na melhor loja de roupas que tinha lá, e comprava calcinha, sutiã, camisola, vestidos. Depois, entrava em outra loja, era sapato, bolsa… Ela se vestia como uma princesa. Ele comprava de tudo para os dois. Mas não para nós [os filhos]. Nós andávamos que nem bichinho”.
Foi nesse contexto que Castorino conseguiu comprar um avião. Como gerente da fábrica, ele tinha um bom salário e não precisava pagar moradia, água, luz ou telefone, pois a empresa cobria os gastos.
Somado a isso, os custos com a educação dos filhos só tiveram início quando Iná tinha 10 anos de idade, e Ivo, nove – época em que foram mandados para um internato. Antes disso, ambos estudavam em uma escola simples, perto de casa, que só ia até o terceiro ano do primário.
Enquanto isso, na fábrica, Castorino mostrava serviço. De acordo com Iná, ele transformou uma empresa decadente em um lugar bem sucedido tanto profissional quanto socialmente. Ele construiu em Recife uma comunidade para os funcionários, uma espécie de vila operária, com direito à moradia, escola e até cinema. Sim, cinema.
Como Iná disse tantas vezes, o pai era curioso por natureza, ia atrás de qualquer novidade. Além da aviação e do rádio amador, ele amava fotografia e cinema.
No DVD mencionado no início deste episódio, com a homenagem a Castorino, havia uma série de outros vídeos. Através deles, Ivan pôde conhecer o lado mais artístico do pai de Ilo.
Uma dessas gravações tem imagens bem antigas, em preto e branco. No início, aparecem os dizeres: “Álbum da Família Rodrigues, dezembro de 1951. Produção de Castorino. Praia da Conceição”.
É um vídeo capturado em algum tipo de filmadora antiga, praticamente inexistente no Brasil na década de 1950. Não é Super 8, pois esta só foi inventada pela Kodak na década de 1960. Mas, assim como as primeiras câmeras Super 8, a que Castorino usava só capturava imagens, nenhum som.
No início do vídeo, vemos uma enorme praia com poucas casas e muitos coqueiros. Parece um paraíso deserto. Esse era o lugar onde a família Rodrigues morava já há 10 anos, com todas as despesas pagas pela Votorantim.
Mais adiante, somos apresentados aos membros da família. Castorino é intitulado “Papai”, e Gecy, “Mamãe”. Em seguida, vemos os filhos: Iná, com 12 anos de idade, Ivo com 11, um pequeno Ilo Rodrigues com cinco anos, e Isa com quatro.
No decorrer do filme, há dois mini documentários produzidos por Castorino, todos dessa mesma época. Um deles sobre a aurora na Praia da Conceição e outro sobre o dia 7 de Setembro de 1952, com imagens de desfiles patrióticos.
Não é preciso dizer quão raro esse tipo de material é, em termos de Brasil. E essa é só mais uma amostra do quanto Castorino investia nas paixões pessoais.
De certa forma, o período em Pernambuco estabeleceu as bases da família Rodrigues. E, logo, ela passaria por uma nova fase.
EM CURITIBA
Castorino passou 13 anos em Recife, de 1941 a 1954. Durante esse período, começou a estudar aviação, ingressou na Maçonaria e desenvolveu uma paixão pelo radioamadorismo. Entre histórias envolvendo abortos, mais dois filhos nasceriam em Pernambuco: Ilo Rodrigues, em 11 de abril de 1946, e Isa, um ano depois, em 28 de junho de 1947.
Em 1954, Castorino deixou a família no Nordeste para assumir uma nova missão: impulsionar a Companhia Rio Branco, localizada em Rio Branco do Sul, a 30 quilômetros de Curitiba.
Apesar do trabalho na região metropolitana, a família planejava se estabelecer na capital paranaense. Novamente na espera do marido organizar a mudança, Gecy escreveu novas cartas para ele. Nelas, já aparecem termos específicos do radioamadorismo.
As correspondências seguintes contam com novas instruções de Castorino, que pede à Gecy para vender os pertences deles, mas que não feche negócio sem consultá-lo primeiro. Ele também revela à esposa a pretensão de negociar um avião modelo 170, com quatro lugares, que poderia usar em viagens entre Paraná e Santa Catarina, ou para levar a família à Sorocaba.
Meses depois, com os preparativos já resolvidos, Gecy e os caçulas, Ilo e Isa, chegaram em terras paranaenses. Os últimos a se juntar à família foram Iná e Ivo, os filhos mais velhos, agora adolescentes, que precisaram terminar o ano letivo no internato antes de retornar ao Sul.
Curitiba, então, foi o destino final para Castorino e Gecy, o lugar onde escolheram se estabelecer e encerrar o ciclo de mudanças. Em meio aos documentos encontrados na caixa, Ivan se deparou com uma matéria da revista IstoÉ, datada de 1985, que explora o estilo de vida do casal, principalmente em relação ao radioamadorismo.
Veja um trecho abaixo:
O radioamadorismo é um “hobby” que reúne cerca de 70 mil pessoas apenas no Brasil
[…] como é o caso do casal Castorino Augusto Rodrigues, 72 anos, e Gecy Martins Rodrigues, 69 anos. Dona Gecy começou no radioamadorismo em 1945 e chegou a ser conhecida em Curitiba como “Dama do Rádio”, tal o número de vezes que usou o aparelho do casal para ajudar acidentados ou para localizar desaparecidos.
Castorino iniciou-se nos mistérios do hobby em 1936, quando comprou o equipamento e começou a montá-lo, seguindo as instruções publicadas na revista carioca Noite Ilustrada. Atualmente, o casal Rodrigues usa um equipamento importado, capaz de estabelecer comunicação com qualquer parte do mundo, e recorda com saudade os tempos pioneiros, em que não existia a televisão, e o radioamadorismo era uma grande forma de lazer e de prazer.
Isso era o que os jornais publicavam, mas muito mais poderia ser revelado além das manchetes. Dentro das gavetas e entre as paredes da casa, escondiam-se aspectos mais íntimos e complexos da vida de Castorino.
“Agora, também teve outra coisa que eu acho que influenciou nessa rigidez dele. Ele cresceu na vida. Muito. Ele saiu de um rapazinho pobre de Sorocaba, chegou a ser frentista de posto. […] Então, ele cresceu muito na vida, aí ficou autoritário. Ele dizia assim: ‘primeiro eu, segundo eu, terceiro eu e sempre eu’. Era absolutamente egoísta. […] Ele era mais autêntico, ela [Gecy] era sonsa. Eu sempre digo que, quando ele morreu, ela desceu do palco. Ela era sonsa, ela era fingidinha. Ela falava uma coisa na frente dele e outra coisa por trás dele. Mas ele era autêntico. O que ele tinha que dizer, dizia. O que ele tinha que gritar, gritava”, revelou Iná.
Um exemplo disso, gravado na memória dela, aconteceu quando Iná tinha cerca de 16 anos. Na época, a família já morava no bairro Juvevê, em Curitiba. Um dia, um rapaz, que estaria interessado nela, começou a passar de carro na frente da casa da família. Isso foi o suficiente para enfurecer Castorino, que saiu com um revólver em mãos e ameaçou matar o jovem.
Ao ouvir essa história, Ivan perguntou o quão ciumento era o pai de Iná. Acompanhe abaixo o diálogo que se seguiu:
Iná: Era possessivo. O que eu desconfio, depois de velha? Ele e a mãe transaram antes do casamento. Inclusive, as minhas contas do meu nascimento não batem. É, eles transaram antes do casamento. Aí, ele tinha medo que acontecesse comigo. Porque quem usa, cuida. Ele tinha medo que acontecesse comigo. Eu casei virgem. Deus me livre, Ivan, se eu não casasse virgem! O medo que eu tinha. Eu tinha pavor. Ele nunca chegou à agressão física, mas ameaçava mesmo.
Ivan: A senhora tinha medo?
Iná: Tinha. Todos nós tínhamos medo dele. Menos o Ilo. O Ilo aprendeu a viver.
Durante a conversa, Iná ainda relatou que não pôde fazer faculdade porque o pai não permitiu.
Iná: Meus irmãos todos fizeram, menos eu. “Porque filha minha não vai para a faculdade, porque faculdade é lugar de comunista. Filha minha não vai para a faculdade”. Só que tem oito anos entre eu e a Isa. Quando chegou a vez da Isa, ela foi. Eu não fui. Não deixou. Fiquei em casa bordando enxoval.
Aqui é importante lembrar que esta é uma história iniciada no século passado, sobre papeis de gênero que ainda respingam nos dias atuais.
Iná conta que só conseguiu se libertar das amarras do pai depois de se casar com Fred, um paraibano que conheceu em 1958, quando ela tinha 19 anos. Dois anos depois, em 1960, eles oficializaram a união.
Em 1974, porém, Fred faleceu, ainda muito jovem. Aos 35 anos de idade, Iná viu-se viúva e sem experiência profissional. Para sustentar os filhos, começou a trabalhar, estudar e a construir uma carreira. Ela se estabeleceu no Sesc, o primeiro e único emprego, onde ficou até se aposentar.
Essa história deixou claro que, pelo fato de ser mulher, mesmo com a boa condição financeira dos pais, Iná enfrentou barreiras que nem todos os filhos viveram. E, enquanto Ivan a ouvia, ficava impressionado com a consciência crítica que ela tinha sobre tudo o que vivenciou. Uma espécie de espírito rebelde que a gente não espera encontrar tão fácil numa senhora de mais de 80 anos.
“Para mim, os homens podem fazer o que quiserem. Porque quem manda é a mulher. Meu pai dizia uma coisa, coitadinho, lá do jeito dele: ‘atrás de um grande homem sempre tem uma mulher’. Mamãe dizia: ‘é verdade’. Acho que não. A mulher é que empurra”, disse ela.
No início da conversa com Ivan, Iná relutou em permitir que todas essas informações sobre a família fossem usadas na divulgação do caso Ilo. No entanto, ao longo da entrevista, depois do jornalista explicar o trabalho do Projeto Humanos, ela acabou cedendo.
Para Ivan, era importante entender essa família, especialmente Castorino, para que pudesse avaliar até que ponto ele poderia ter ditado os rumos da investigação sobre o filho desaparecido.
Já para Iná, o que aconteceu com Ilo sempre foi uma incógnita. Apesar de tudo, ela ainda sente que o irmão está vivo em algum lugar, talvez sem nem saber quem é.
Iná: Sabe Deus o que fizeram com ele. Por isso que, na minha cabeça louca, às vezes eu acho que fizeram alguma coisa com ele, que ele está vivo, imprestável…
Ivan: Sim. Pode estar em algum lugar.
Iná: Sonhei muito com ele me chamando: “Magra, Magra, Magra”.
“Magra” é o apelido pelo qual Ilo chamava a irmã.
Ivan: É sempre o mesmo sonho?
Iná: É. Faz tempo que eu não tenho mais. Mas, primeiro, eu sonhava com ele numa selva, ferido, com a perna quebrada, jogado. Isso eu sonhei várias noites. Logo naquele tumulto, naquele começo. Depois, mais adiante, eu sonhava com ele só me chamando: “Magra, Magra”.
Ivan: O que a senhora acha que significa?
Iná: Eu ainda acho que ele está vivo.
O SOBRENOME GATTO
Quando Cassiano nasceu em 1974, Ilo Rodrigues teve uma ideia. Ele decidiu registrar o primeiro filho com o sobrenome do pai de Castorino, seu avô: Gatto, com dois “Ts”.
“Nós somos descendentes de Borba Gato. Da família Borba Gato, não do Borba Gato bandeirante. De um irmão dele. Eu me lembro que eu ainda debochava e dizia: ‘ah, um matador de ‘índios’! Do que a gente vai ter orgulho?’. E aí ele foi atrás de fazer a árvore genealógica da família. […] E o Ilo era ligado nisso aí”, explicou Iná.
Castorino tinha orgulho da descendência Gatto, que vinha do pai. Por preferir nomes curtos aos filhos, sequer pensou em registrá-los com mais de um sobrenome. Foi com o nascimento de Cassiano que Gatto voltou à família.
Em certa ocasião, Ivan perguntou à Wanda se essa poderia ser uma forma do piloto tentar agradar o pai. Segundo ela, na verdade, o ex-esposo era chamado de Gatto pelos amigos. “Eles sabiam do sobrenome porque o Ilo falava. Não sei por que não colocaram [o nome] quando ele nasceu. Mas ele gostava, sabe? Tanto que era conhecido assim”, explicou.
Tudo isso mostra como as pessoas são complexas. Descendente de indígenas, o patriarca da família Rodrigues adorava o nome Gatto, assim como o filho Ilo, que também tinha interesse pela cultura dos povos originários. Na terceira geração, Cassiano, que trabalha com os Yanomami no Norte do país, foi o primeiro a ter o sobrenome na certidão de nascimento – seguido do irmão mais novo, Luciano.
Não é possível saber se Ilo escolheu registrar os filhos dessa forma para agradar o pai. Mas fato é que Castorino ficou muito feliz com a iniciativa. Tanto que escreveu um poema usando a marca registrada dele: o desenho da silhueta de um gato, que adorna o texto.
Leia a poesia abaixo:
Meu filho nº 3 deu ao filho
O nome de família de meu pai
Que, sendo de bicho
Nenhum dos manos meus
Nem eu o traz.
Num preito espontâneo
Mas simples, tocante até
E mesmo poético,
No futuro O velho Gatto se fará lembrar
É necessário
Que os filhos fiquem pais
Para que aflorem
Sentimentos paternais
E assim transmitam
Sentimentos magistrais
De amor
E de respeito
Aos ancestrais
Curitiba – 23 de Julho de 1974
ISA, A CAÇULA
A cada frase revelada ou gaveta aberta, novas camadas dessa história se desdobram. Camadas que mostram como relações familiares são complexas, únicas e contraditórias.
Durante o primeiro encontro de Ivan com os Rodrigues, dos irmãos de Ilo, apenas Iná e Ivo estavam presentes. Mas ainda faltava uma conversa com Isa, a filha mais nova e a irmã mais próxima do piloto.
Afinal, Iná e Ivo nasceram em 1939 e 1940, respectivamente. Já Ilo é de 1946, e Isa, de 1947. Por essa proximidade, eles conviveram muito mais juntos do que com os outros irmãos.
Por isso, Ivan entrou em contato com a caçula da família para uma entrevista. Afinal, ele sabia que o casal Castorino e Gecy tinha sido bastante brando na criação de Ilo. Será que Isa também teria passado por isso? Ou teria ela a mesma visão de Iná sobre os pais?
A primeira conversa de Ivan com Isa foi por telefone. De acordo com ela, por ser a primeira filha, Iná sofreu muito mais com o choque da imaturidade dos pais. “Foi ela quem pegou as maiores dores, aquelas coisas de família que dizem que causam mágoas”, afirmou ela ao podcast.
Após as histórias dos abortos e o nascimento de Ilo, Isa veio ao mundo, quando a mãe já havia abandonado as tentativas de interromper eventuais gestações. Até cerca de um ou dois anos de idade, ela foi criada por uma babá, enquanto Gecy se concentrou em cuidar de Ilo, que nasceu muito doente e precisou passar meses em tratamento no hospital de Recife.
“O Ilo sempre teve os cuidados deles [dos pais], em todos os sentidos. Mesmo eu sendo a última, eu não tive esses cuidados. Ele que tinha, por ser sempre tão doente. Nós três temos um tipo de comportamento mais sério, mais obediente. Já o Ilo fazia coisas que o Ivo jamais faria, como homem e como jovem. O Ilo fez tudo e mais um pouco”, completou.
Isa era a caçula e, como tal, seria normal que tivesse mais atenção dos pais. Mas os cuidados que Ilo exigia acabaram por ofuscá-la. E, mesmo que ela e Iná pensem tão diferente sobre outros assuntos familiares, as duas concordam em uma coisa: Ilo era o filho aventureiro que desafiava o pai. Os demais irmãos se tornaram pessoas mais sérias e comportadas, e o piloto era o oposto.
Pelas histórias compartilhadas com Ivan, o segundo filho do casal, Ivo, seria o mais reservado de todos. Como já citado no podcast, tanto ele quanto Ilo foram incentivados pelo pai a tirar o brevê, para que não precisassem servir ao Exército como soldados. “Essa é outra coisa que não combina com o pensamento do meu pai, porque ele fazia parte do Serviço Secreto do Exército”, disse Isa.
Essa informação também aparece no discurso em homenagem a Castorino, mostrado no início do episódio. “[Ele] enfrentou com firmeza e determinação, mediante auxílio requisitado ao Exército, as intensas agitações comunistas do período de 1946 a 1949, movimentos estes que pretendiam paralisar todo o setor industrial do país”, afirma o mestre de cerimônias.
“O que ele sabia do golpe [de 1964]? Eu não sei o que ele sabia, mas sabia bastante. Então, ele falava para a minha mãe que, enquanto o comunismo tentava entrar no Brasil, ele tinha que nos levar para outro lugar. E isso a Iná não sabe porque ela já estava casada, já não estava mais em casa”, relatou Isa.
Apesar de ter acompanhado nessa época o cotidiano de Castorino, a caçula foi provavelmente a filha que mais se afastou dos pais após sair de casa. Isso porque, no início da década de 1980, ela se mudou de Curitiba e nunca mais voltou à capital. De certa maneira, até o modo como ela acompanhou o desaparecimento de Ilo foi diferente dos demais membros da família.
Por exemplo, quando Ivan perguntou se Isa sabia do tal conselho de Romeu Tuma a Castorino sobre as investigações acerca de Ilo, ela respondeu que não. Nunca tinha ouvido falar, e só soube de tudo agora, com as pesquisas e entrevistas feitas pelo Projeto Humanos. “Eu percebo que a Iná e o Ivo me escondem tudo e mais um pouco, falam só o que acham que têm que falar. Essa história, eu nunca soube. Descobri agora com você, isso que a Isinha contou”.
Ao ouvir a caçula, algumas coisas ficaram claras para Ivan. Ela e Iná possuem posturas bem diferentes sobre as lembranças de infância. A primogênita, por exemplo, é mais reativa. Por outro lado, para Isa, é compreensível que, aos olhos da irmã, Castorino tenha sido menos rigoroso com ela. Em certa medida, até concorda com isso. No entanto, a caçula sempre teve plena consciência de que não devia desafiar o pai. O único que se atrevia a fazer isso era Ilo.
Por mais que as irmãs tenham desavenças, e que Isa se sinta excluída dos assuntos da família, para Ivan, elas parecem concordar em muitos pontos. Especialmente no que diz respeito à investigação sobre o sumiço de Ilo e à forma como Castorino lidou com tudo – solitário, sem compartilhar nada com ninguém.
“O meu pai não admitia nada. Ele era o dono da verdade. […] Como eu sou a última, sou a mais obediente. Eu percebo, pela Iná e pelo Ivo, que eles se revoltam mais. A vida inteira se revoltaram. Mas eu nunca me revoltei porque via que não tinha jeito. Ele nunca ia admitir que os filhos metessem o bedelho nos assuntos dele. […] Nós estávamos completamente no escuro, se você quer saber”, desabafou Isa.
Ivan, então, revelou à caçula da família tudo o que já tinha levantado de hipóteses sobre o desaparecimento de Ilo, mencionadas no episódio passado: a queda de avião, o sequestro e as fugas, uma devido à falsificação de adubo e a outra ao golpe do Banestado. Assim como os irmãos, Isa sabia pouco sobre isso. A história do gerente Rubens Rodrigues, por exemplo, era novidade para ela.
Segundo Isa, a vida que Ilo levava em Foz do Iguaçu era segredo para a família inteira, que morava longe dali. Nesse período, era raro até mesmo o contato entre irmãos. Mas uma situação específica ficou gravada na memória da caçula. Dias antes do desaparecimento, o piloto ligou para ela, com o objetivo de conversar sobre questões familiares mais profundas. Justamente como havia feito com Iná, com quem compartilhou que estava em processo de terapia, em busca de respostas sobre si mesmo.
“Ele estava se buscando, buscando a vida dele e a história dele. E, como a Iná é a mais velha e sabe tudo da família, ele estava buscando a Iná e fazendo perguntas sobre a infância dele. […] Aí passou o tempo. Um pouco antes do Natal, ele ligou para mim. Nessa época, eu morava em Guarapuava [cidade que fica a 385 quilômetros de distância de Foz]”, explicou Isa.
Por telefone, Ilo lhe disse que iria à Curitiba pegar os filhos para que celebrassem juntos o Natal. E completou que poderia descer em Guarapuava, a fim de passar um dia com ela.
Como Isa sabia que ele queria falar sobre o passado, respondeu que não havia problema em recebê-lo, e que ele poderia ficar mais tempo na casa dela. Só tinha um porém: ela não gostaria de tocar nos assuntos familiares levantados por ele. O piloto replicou que tudo bem, e que iria mesmo assim. “Então, nós estávamos combinados que, na volta de Curitiba, ele desceria em Guarapuava”, completou Isa.
A caçula não tem ideia, no entanto, do que exatamente Ilo procurava. “A Iná diz que explicava como foi a infância dele. Então, ele estava buscando alguma coisa que nós não sabemos. […] Eu não faço a mínima ideia de qual era o objetivo dele, o que queria descobrir. Porque todos nós sabemos que a mãe tentou tirá-lo. Ele também sabia. Nós sabemos essa história toda que perpassa cada um de nós. A Iná e o Ivo não, que foram os primeiros. Mas perpassa ele e eu. Mais do que isso, eu não sei o que ele queria saber. […] Ele era diferente do nosso padrão, do padrão que meu pai impôs. Ele era diferente. Talvez isso? Não sei”.
FAMÍLIA E RELIGIÃO
Durante a conversa com Ivan, Isa revelou um incômodo que sente em relação à Iná e Ivo e, por conta disso, também entrou na temática da religião. Ela expôs o lado espiritualista de Castorino, assunto já abordado pela família, mas que agora ganhava maior profundidade.
O jornalista sabia que o pai de Ilo se tornou maçom em Pernambuco e continuou a trajetória na organização ao longo dos anos, chegando até a fundar uma loja maçônica em Rio Branco do Sul.
Na caixa de Iná, Ivan já havia encontrado diplomas que indicavam esse caminho. Em 1968, ele se tornou Cavaleiro Rosacruz, seguido pelos títulos de Cavaleiro de Águia Branca e Negra no mesmo ano. Em 1969, foi elevado a Sublime Príncipe do Real e, mais tarde, recebeu o título de Grande Inspetor-Geral. O jornalista também descobriu o nome de maçom dado a ele: MURIAÉ. Já para o fim da vida, Castorino passou a se interessar por Cabala.
O entusiasmo pela espiritualidade parece se alastrar por toda a família, mas de formas diferentes. Enquanto o pai seguia uma abordagem mais esotérica, cada filha foi para um lado: Isa se encontrou na Igreja Católica, e Iná no espiritismo.
Ainda no baú de memórias de Iná, além de cartas, há desenhos, cartões, diplomas, bilhetes, convites de aniversário e formatura, tudo cuidadosamente guardado. Cada item conta uma parte da história, fragmentos de uma vida que aos poucos começavam a se encaixar no quebra-cabeça que Ivan montava.
Havia também na caixa algumas cartas espíritas. A primeira a saltar aos olhos foi uma escrita em 3 de maio de 1993 – época marcante para a família, já que Castorino estava muito doente. E, para a surpresa de Ivan, essa mensagem teria sido ditada por Ilo.
Leia abaixo:
Liberem-no. Ele quer partir. Ele precisa vir. Deixem o velho descansar. Não se preocupem tanto com “vechia”. Ela colhe feliz os espinhos que plantou. Para nós são espinhos, para ela não. Lembram-se das mamonas espinhosas? Não eram melhor para brincar do que nossos brinquedos importados caríssimos? Quantas vezes nos queimamos no leite do mamão e sofremos de dor de barriga das mangas verdosas? E gostávamos, não trocávamos por nenhum dos pastéis e roscas de mamãe. Deixem que eles passem pelo que precisam. Acalmem-se e deixem de ser tão responsáveis. Relaxem e larguem, deixem. Amem sem angústia. A vida é boa e linda, não é mesmo? (Piscou). Curtam um pouquinho.
Amo vocês.
Ilo, jovem, de óculos de aro preto. Os cabelos rebeldes, os olhos bem verdes. Descalço, de calça comprida e sem camisa. Sentado em um tapete redondo, encostado em uma poltrona verde, de chenille, de braços arredondados. Nas mãos um chaveiro de metal, uma bola prateada, fazendo barulho com as chaves, brincando com o ritmo.
As Quatro Estações, de Vivaldi – Escuta, Magra.
Mensagem recebida em reunião mediúnica do Grupo Espírita Eurípedes Barsanulfo, em 03/05/93.
As cartas seguintes, igualmente espíritas, eram sempre dirigidas a algum membro da família Rodrigues, como sussurros vindos de outra dimensão, reverberando entre os vivos e os mortos e tecendo uma rede de significados que, por vezes, traziam incômodos.
De acordo com Iná, quem recebeu grande parte dessas mensagens teria sido a filha, Isinha. Espírita kardecista, desde jovem ela frequenta o centro e é considerada médium. “Acho que foi a Isinha, porque ela é espírita e acredita. Assim, eu acredito até certo ponto. Tenho minhas dúvidas, principalmente em relação às coisas de família, porque eu imagino que às vezes pode ter influência emocional aí. A pessoa está com o emocional abalado por causa de um ente querido que faleceu ou que está muito mal, e imagina…”, falou ela.
Alguns dias após receber essas cartas, Castorino Augusto Rodrigues faleceu, em 30 de maio de 1993. Ele tinha 79 anos de idade.
A BUSCA INCANSÁVEL
Este episódio começou com uma dúvida: teria Castorino poderes de interromper uma investigação sobre o filho, caso descobrisse que ele tinha fugido por ter feito algo errado? Para a família, não há dúvidas que sim, que ele seria capaz disso. E o fato de nunca ter dividido informações com a família servia para aumentar essa desconfiança.
Ao considerarmos tudo o que aprendemos sobre ele, sobre o rigor, a forma como buscava controlar a tudo e todos, e o poder que adquiriu, essa poderia sim ser uma hipótese válida.
Seja como for, ambas as irmãs confirmam: o desaparecimento de Ilo destruiu Castorino por dentro. Como um típico homem das antigas, ele se fechava. Não falava sobre o que sentia. Tentou resolver as coisas sozinho. E, talvez, pela primeira vez na vida, não conseguiu ter controle em uma situação.
Iná comentou que o pai cuidava mais de Ilo por puro remorso, já que o casal tentou abortá-lo, sem sucesso, e o menino nasceu doente. Não seria amor de verdade, seria culpa. Nesse contexto, talvez Castorino sofresse não pela falta do filho, mas por não conseguir encontrá-lo. Um misto de culpa e sensação de fracasso.
Mas existe outro lado de Castorino, que Ivan encontrou no final daquele DVD com a homenagem da Votorantim. Após os vídeos de família e da inauguração do busto em frente à fábrica, havia uma reportagem de TV.
A matéria mostra Castorino, então com 79 anos, e a esposa, Gecy, à procura de um homem visto por algumas pessoas no meio do mato, na cidade de Itápolis, em São Paulo. Segundo as testemunhas, o rapaz teria hábitos estranhos e vivia se escondendo no matagal. Com a desconfiança de que poderia se tratar de Ilo, o casal saiu em busca do indivíduo misterioso.
Em certo momento, a repórter pergunta a Castorino se ele tinha esperanças de finalmente achar o filho desaparecido. Ele não responde, apenas esboça um sorriso amarelo. Em seguida, vira a cabeça e dá de ombros, tentando parecer comedido. É um senhor de idade, respeitado em vários círculos de poder. Mas agora ele só parece frágil.
Em seguida, Gecy aparece. Uma senhora pequena, de cabelos brancos, usando um casaco. “Ele vai aparecer para mim, que sou a mãe”, ela se limita a dizer.
Pelas características, porém, ao ver o rapaz cara a cara, o casal tem a certeza: não é Ilo. Gecy é enfática e diz que ele não tem nenhuma semelhança com o filho dela. Já Castorino olha para o homem, aperta a mão dele e afirma: “eu pensei que fosse um filho meu. Deve ser filho de alguém”.
A reportagem, então, termina com a informação de que o indivíduo, identificado como Cipriano, optou por voltar para a mata, onde passaria a viver em uma casa de alvenaria cedida por um fazendeiro.
Este é o último vídeo do DVD. Como a matéria afirma que Ilo estaria desaparecido há seis anos, é de se supor que ela tenha sido gravada em 1992, um ano antes da morte de Castorino.
Ivan sabia que essa não foi a primeira vez que ele viajou em busca do filho. Conforme a família relatou, em uma dessas ocasiões, Castorino sofreu um acidente e quebrou o fêmur. E os familiares só descobriram que ele havia saído à procura de Ilo justamente por causa do imprevisto.
Questionado por um familiar sobre quando pararia com as buscas tão sofridas, após tantos anos, Castorino teria respondido: “se você tivesse um filho desaparecido, o que faria?”
Olhando de fora, fica claro que nem o conselho de Romeu Tuma e nem um fêmur quebrado foram capazes de pará-lo. Seria culpa? Remorso? Sensação de fracasso? Ou algum tipo de amor?
Entre as palavras de Iná, as confidências de Isa, e as cartas desenterradas, Ivan percebeu que a história nunca pertence apenas a quem viveu, como Vanessa dizia, nem somente a quem ficou para contar. Cada história guarda em si múltiplas facetas: as compreendidas por quem enfrentou a situação, as divididas por aqueles que compartilharam o momento e, ainda, as interpretadas por quem ouviu os ecos desses eventos.
Pensando nisso, ficou cada vez mais claro que nem sempre nossas memórias de adulto sobre a infância são totalmente confiáveis – justamente porque foram contadas por alguém. Uma vida tem milhões de horas, minutos e segundos, mas, em uma história, buscamos evidências que nem mesmo as pessoas envolvidas conseguiram perceber porque estavam mergulhadas em dores particulares.
Ivan entenderá um pouco mais disso no futuro, quando tiver que fazer uma viagem. Por enquanto, ele precisa se perguntar: será que Ilo fugiu após se meter em uma atividade ilegal? E Castorino, ao descobrir tudo, usou da influência para interromper as investigações? Sim, isso é possível. Mas, honestamente, Ivan acha pouco provável. Muitas pessoas teriam que aceitar uma ordem dessas. Se o jornalista tivesse que apostar, diria que o inquérito de Ilo é pequeno porque houve displicência policial.
E, ao ver o dossiê que Castorino fez e a matéria de TV na qual apareceu, Ivan acredita que os sentimentos dele são sim genuínos. Afinal, seria muito esforço apenas para fingir que não sabia de nada errado sobre o filho.
Existe também a possibilidade de Castorino ter recebido informações sobre atividades ilegais de Ilo e, em seguida, ter simplesmente escolhido ignorá-las. Porém, de novo, o que se vê é um pai, no final da vida, que está realmente em busca de uma resposta – fosse ela qual fosse.
Então, qual é a hipótese de Castorino para o desaparecimento de Ilo? Bem, ele podia não falar com a família. Mas falou com a imprensa, como mostra uma matéria do Jornal Oeste, de Cascavel, escrita dois anos após o sumiço do piloto:
O piloto iguaçuense llo Rodrigues, que desapareceu há dois anos quando decolava com seu Beechcraft de um campo clandestino em Santa Terezinha de Itaipu, foi sequestrado por piratas a soldo da máfia boliviana da cocaína. A conclusão é do pai do piloto, Castorino Rodrigues, após dois anos de intensas buscas.
O pai de Ilo passou os últimos dois anos levantando dados sobre o desaparecimento de aviões monomotor e chegou à conclusão, depois de conversar até com o delegado Romeu Tuma, que essa onda de roubos verificada de lá para cá tem muito a ver com a ação dos comandos norte-americanos na Amazônia boliviana, cujas operações redundaram na destruição de inúmeras aeronaves utilizadas no transporte da cocaína. A reposição, segundo conseguiu levantar, vem sendo feita através da pirataria aérea, da qual foram alvo, supõe, há dois anos, o PT-IVO de seu filho e mais 21 aviões iguais ao dele, que sumiram com os respectivos pilotos em todo esse período no Brasil.
Aqui, Ivan entrava em um território completamente novo. Se o próprio Castorino acreditava nisso – ou pelo menos dizia acreditar – parecia importante seguir essa linha. O jornalista não tinha a menor ideia de que muitos aviões teriam sido roubados e pilotos sequestrados no final dos anos 1980 no Brasil, tudo por conta do narcotráfico. E esse é o tema do próximo episódio: teria sido esse o destino de Ilo?
CRÉDITOS EXTRAS
Abaixo você encontra o nome de todos os atores e atrizes que gentilmente cederam suas vozes e interpretações para que este episódio fosse feito:
As cartas e poemas de Castorino foram lidos por Otávio Linhares.
As de Gecy, por Valentina Bulc.
A carta de Dalsborg foi lida por Gustavo Muller.
A carta escrita pela pequena Isa foi lida por Lia Santos.
Luiz Felipe Leprevost interpretou a carta espírita ditada por Ilo.
E Luiz Felipe Amadeu leu a carta espírita de Renato Marchiori.