Enciclopédia do caso Evandro

EXTRAS EPISÓDIO 23

JANEIRO DE 1993

Arildo da Silva (conhecido como “Toco”), o primeiro denunciado e primo de Edésio, foi até a casa de Edésio dizendo ser intermediário de outra pessoa e que estava ali para oferecer dinheiro caso ele mudasse seu depoimento perante a justiça e, caso ele não aceitasse, arrumaram um flagrante falso para ele, uma vez que eram ordem de pessoas poderosas. Edésio marca um novo encontro com seu primo e leva um gravador, pretendendo gravar a ameaça e descobrir quem é a pessoa que mandou Toco até ele. Na gravação Edésio tenta argumentar com o primo que a vida dos dois estava em jogo nessa chantagem e que seria muito mais vantajoso para os dois protegerem um ao outro e suas famílias do que um estranho. Arildo, no entanto, se recusa a revelar quem a pessoa é, porque sabe que Edésio iria atrás dela.

 

16 DE MARÇO DE 1993

Edésio se encontrou novamente com Arildo e também com João Batista Pessoa dos Santos Filho (conhecido como “Joca”), que estava presente. Joca é ameaçador e diz que trabalha para os Abagge e que se Edésio não mudar seu depoimento as coisas iam ficar complicadas para ele.

Edésio e Joca falam sobre Edílio da Silva, irmão de Edésio, que é o mesmo Edílio que dizia que estava na casa da família Abagge na noite do dia sete de abril e disse que viu Beatriz e Celina em casa e que depois teria encontrado o casal Abagge na festa de Nelson Bode.

Inclusive, no depoimento prestado dia 10 de setembro de 1992, Edílio respondia ao advogado de Celina sobre seu irmão, afirmando que Edésio fuma maconha e que seu contato com ele é raro, pois viviam em casas diferentes. Mais adiante no depoimento o promotor faz outras perguntas e Edílio afirma que Edésio é super trabalhador, que não é acostumado a contar mentiras mas que não confia nele pois não confia em ninguém e que seu irmão nunca foi internado para tratamento psiquiátrico ou por uso de drogas mas que quando fuma o agride moralmente. Ele não tem conhecimento de nenhuma inimizade entre Edésio e a família Abagge, inclusive ele e Beatriz foram colegas e escola porém não tem certeza desse detalhe.

Edílio também era cliente de Osvaldo Marcineiro, conforme o próprio Osvaldo afirmava no seu júri de 2004. O nome de Edílio estava no caderno de Osvaldo, constando que ele foi atendido no dia 7 de abril de 1992.

Na conversa gravada por Edésio o homem chamado Joca aparentava ser seu amigo mas apesar disso Joca dizia que “pagando matava qualquer um” e que Edílio não prestava mas que se preocupava com o irmão.

No seu depoimento feito em agosto Edésio diz que viu Evandro ser raptado quando foi até uma loja de materiais de construção. Joca fala para ele que já está tudo armado para cima dele e que ele tinha até mesmo declaração de funcionários da loja afirmando que Edésio não esteve lá naquele dia.

Joca dá a entender que trabalha para Aldo Abagge, chegando inclusive a falar que estava trabalhando na reforma da casa dele. Durante toda a conversa Joca tenta convencer Edésio que foi Diógenes quem fez ele dar o depoimento da forma como ele deu e que foi ele quem colocou Edésio naquela situação desnecessária. A todo momento ele tenta fazer com que Edésio aceite ir mudar seu depoimento.

Joca, Arildo e Edésio se encontram com João Carlos Anderson, primo de Beatriz e sobrinho de Celina. O parente das Abagge é ainda mais ameaçador e confiante do que Joca e reforça que ele já possuía as declarações dos funcionários da loja afirmando que Edésio não esteve lá naquele dia.

Ele pressiona Edésio, inclusive o convida pra ir naquele momento até Curitiba para prestar novo depoimento, Edésio recusa apesar da insistência de João Anderson para levá-lo até Curitiba.

 

ÁUDIO DA FITA

 

[DOWNLOAD] Degravação da fita escondida de Edésio

 

 

ARILDO, JOCA E JOÃO CARLOS ANDERSON SÃO PRESOS

Matéria da Folha de Londrina, de 24 de Março de 1993, noticiando a prisão dos três homens que teriam ameaçado Edésio da Silva

 

Essa gravação feita por Edésio foi entregue ao Ministério Público e gerou uma denúncia contra Arildo, Joca e João Carlos Anderson, que foram presos no curso do processo. Durante o interrogatório os três homens puderam ouvir a gravação feita por Edésio. Quando interrogado Arildo diz ser primo de Edésio e que o próprio, com medo, foi ao encontro dele e nisso eles foram procurar pelo Joca. Após ouvir a gravação ele muda a sua versão e diz que aceitou apenas pelo dinheiro e que quando se deu conta estava no meio de uma máfia.

Arildo foi interrogado três vezes: na fase policial, em juízo e novamente em juízo. Nessa última vez ele entrega o jogo e diz que ficou sabendo da história de Edésio e que ofereceram para ele dinheiro para mudar a cabeça do primo.

No momento inicial do seu interrogatório, Joca num diz que já conhecia o Arildo e que ele falou que Edésio tinha feito seu depoimento errado e primeiramente não quis se envolver, mas mudou de ideia por estar trabalhando para os Abagge e saber que eles estavam sofrendo uma injustiça e resolveu interceder. Depois de ouvir a gravação ele afirma que no começo estava falando sério mas que depois ele estava passando mal e não sabe porque falou todas aquelas besteiras.

João Carlos Anderson diz que estava tomando banho quando foi procurado por Joca, Arildo e Edésio. Edésio estaria arrependido e queria prestar novo depoimento mas não tinha roupas limpas para tal e depois de ouvir a gravação ele ainda nega mas continua firme ao dizer que foi ele quem contratou o Joca, assumindo toda a responsabilidade pelas ameaças, e que embora tivesse autorização do Aldo, foi ele quem contratou o Joca.

[DOWNLOAD] Processo Edésio x Arildo, Joca e João Carlos Anderson*

*O processo de Edésio contra Arildo, Joca e João Carlos Anderson é um processo paralelo ao Caso Evandro. Por causa disso, apenas algumas páginas foram anexadas ao processo das Abagge. Há páginas faltando, outras fora de ordem.

 

 

JÚRI DE 2005

Paulo Sérgio Markowicz de Lima pergunta para Diógenes Caetano dos Santos Filho sobre a sua relação com Edésio. Diógenes conta que quando soube que Edésio era o Cheiro verdadeiro, e não o homem apontado pelo Grupo TIGRE, ele e mais alguns parentes foram até a casa de Edésio mas não o encontraram. Eles falaram com a cunhada dele que contou que Edésio viu o sequestro do menino mas não viu a placa ou quem estava dentro e só deu importância depois, quando o Grupo Águia entrou no caso e foi levado por Diógenes até a casa de Edésio. Ele teve medo uma vez que o Grupo TIGRE estava fazendo as investigações com o carro de Celina Abagge, que foi o mesmo que ele viu no dia do sequestro.

 

JÚRI DE 2004

Haroldo Cesar Nater, um dos advogados de defesa, pergunta para Diógenes se ele foi responsável por usar um carro de som para estimular a população a pedir a renúncia de Aldo Abagge. Diógenes afirma que chegou a usar o carro numa ocasião quando Arildo, Joca e João Carlos Anderson foram presos por tentar coagir Edésio.

Diógenes também diz que nessa época havia uma articulação muito grande da polícia civil para que todos os envolvidos com o lado dos Abagge fosse muito bem tratado, que os três homens ficaram livres andando pelo corredor da delegacia e que isso teria causado revolta na população. Isso teria feito com que ele colocasse auto-falantes no seu carro e convocasse a população para a frente de delegacia para exigir que os três fossem realmente presos. Após essa pressão popular isso realmente aconteceu.

Haroldo confronta Diógenes dizendo que pela Constituição eles tinham direito de serem tratados daquela forma, Diógenes rebate lembrando que a prisão deles já havia sido decretada e que tratá-los com regalias poderia trazer riscos para as pessoas que foram ameaçadas.

 

EDÉSIO DA SILVA É CONSIDERADO MENTIROSO NO JÚRI DE 1998

No Brasil um tribunal do júri ocorre apenas em crimes dolosos contra a vida como, por exemplo, homicídios, infanticídios e até mesmo aborto ou participação de suicídios. em todos esses casos deve-se sempre ser denunciado uma intenção para matar. Homicídios culposos não vão a júri, exceto que em determinado caso fique comprovado que a pessoa tinha intenção de matar.

Ao invés de 12 jurados como nos EUA no Brasil são 7 jurados e eles não conversam entre si, ao final são feitas as perguntas para os jurados, que votam individualmente de acordo com as suas consciências e ganha a maioria, e não a unanimidade. O Código Processual Penal brasileiro foi reformado em 2008 e 2009, antes disso contava-se todos os votos mas hoje em dia conta até termos uma maioria. Se, por exemplo, todos os jurados votarem pela inocência de alguém. na teoria teríamos sete votos contra zero porém ao anunciar o resultado o juíz contaria até chegar na maioria, ou seja, quatro e descartaria os restos, anunciando quatro votos contra três. Dessa forma é preservado o anonimato das decisões dos jurados.

Contudo em 1998 contava-se todos os votos e não apenas isso naquela época após a votação dos jurados sob a absolvição ou condenação dos réus havia uma outra rodada de pergunta ao jurados que permitia a eles dizerem se achavam se alguma das testemunhas ou informantes haviam mentido em seus depoimentos. Treze testemunhas foram submetidas a esse julgamento pelos jurados no júri de 1998, apenas uma foi considerada mentirosa: Edésio da Silva.

Celso Ribas, promotor responsável pela acusação no júri de 1998, foi no programa policial Grito da Cidade após o julgamento defender Edésio e acusar a família Abagge de tentar corrompê-lo para mudar sua versão.

[DOWNLOAD] Depoimento de Edésio no júri de 1998

 

Resultado da votação dos jurados no júri de 1998, em São José dos Pinhais-PR, quando Beatriz e Celina Abagge foram absolvidas. Na época, os jurados também julgavam se as testemunhas teriam prestado falso testemunho.

 

 

1º DE OUTUBRO DE 1997 – SURGE UMA NOVA TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO

Entre 1992, ano das prisões, e 1998, ano que o júri das Abagge ocorreu, Irineu e Edésio eram considerados as principais testemunhas de acusação e, conforme vimos ambas foram desconstruídas de formas diferentes ao longo do processo. Porém antes do júri de 1998, mais precisamente dia 1º de outubro de 1997, uma nova testemunha de acusação apareceu.