Enciclopédia do caso Evandro

EXTRAS EPISÓDIO 18

Uma das principais divergências sobre a ida do grupo de pessoas até a casa da família Caetano é o dia quando isso teria ocorrido.

Os acusados e testemunhas de defesa dizem que foram até lá no dia seis de abril de 1992, o mesmo dia do desaparecimento de Evandro. Davina e Diógenes afirmam que o grupo foi lá no dia sete de abril e que Davina teria rodado por Guaratuba na madrugada do dia sete para oito de abril.

 

PRIMEIRO DEPOIMENTO DE DIÓGENES – 29 DE MAIO DE 1992

Nos primeiros depoimentos de Diógenes e Davina a data chama atenção pois no seu depoimento Diógenes ele afirmava que às 22:00 do dia oito de abril conseguiu levar dois repórteres para fazer uma reportagem sobre o desaparecimento mas foram impedidos por Paulo Brasil, assessor de imprensa da prefeitura. a matéria foi feita de qualquer forma e após isso, por volta das 23:00, ele foi até a casa de aldo abagge pedir explicações sobre o impedimentos, onde encontrou Aldo e Celina Abagge, Paulo Brasil e alguns policiais do Grupo TIGRE.

Como o prefeito não tinha resposta diogenes ameaçou ir por conta própria nos canais de TV contar sobre o caso e sobre a proibição da divulgação. Diógenes afirma que cerca de uma hora após isso apareceu na casa de Evandro: Antonio Costa, Osvaldo, o “Chêro” e se prontificaram a ajudar a encontrar a criança. Após isso Osvaldo e “Chêro” foram com os tios de evandro realizar a busca.

Esse depoimento foi a única vez que ele relatou que esses acontecimentos aconteceram na noite do dia oito de abril, dois dias após o desaparecimento de Evandro. Em todos os outros depoimentos que deu, inclusive no júri e 2004 e 2005, ele disse que isso tudo ocorreu no dia sete de abril. Além disso no seu livro sobre o caso há um capítulo que ele menciona essa declaração feita ao Ministério Público porém alterou a data onde tudo teria ocorrido.

 

DEPOIMENTO DE DAVINA – 11 DE JUNHO DE 1992

Ele afirma que tudo isso aconteceu na noite do dia sete de abril, sendo a primeira vez que essa data aparece em alguma denúncia ou declaração e passou a também ser usada por Diógenes. Uma vez que Diógenes dizia que foi Davina que contou sobre esse evento para ele essa declaração dela pode ter feito ele repensar melhor na data.

Dos sete acusados, quatro foram até a casa da família Caetano: Vicente de Paula, Osvaldo, Davi dos Santos Soares e Beatriz Abagge. Segundo eles essa ida teria ocorrido no dia seis de abril, mesmo dia do desaparecimento de Evandro. Para entender as narrativas precisamos compreender também seus álibis.

 

TERREIRO DA DONA HORTÊNCIA – BEATRIZ

Segundo ela era domingo quando Osvaldo pediu para ela ir até o centro espírita dele no centro de Guaratuba – para ajudá-lo a ir até o centro espírita da Dona Hortência, que ficava longe de Guaratuba – ela diz que na época do desaparecimento de Evandro ela não frequentava mais o local. Na segunda-feira, dia do desaparecimento de Evandro, ela foi para uma reunião em Guaratuba onde passou a tarde, voltou para casa e depois foi para o centro espírita. Todos os acusados que foram até a casa da família de Evandro dizem que antes disso estavam no terreiro da Dona Hortência. Beatriz narra que Carmen Cristofolini chegou até o terreiro relatando o desaparecimento de Evandro e que a família do Evandro chamava por Osvaldo e os demais e pedia orações e foi nesse momento que ela soube do desaparecimento do menino. No depoimento de 1998 ela dizia que foi Davina que foi até lá pedir ajuda. Carmen em seu depoimento confirma que foi ela mesma que fez o pedido.

Beatriz teria ligado para casa e soube que sua filha estava passando mal e ela precisava voltar para casa. Ela levou todas as mulheres que estavam presentes até o centro espírita de Osvaldo e voltou para casa.

 

TERREIRO DA DONA HORTÊNCIA – DAVI E OSVALDO

Vicente narra que nos dias quatro e cinco de abril não estava em Guaratuba e trabalhou como garçom em uma boate e no dia seis de abril teria passado um tempo com o seu filho e voltou para Guaratuba por volta das 18:00 e 18:30, vindo no mesmo ônibus que a companheira de Osvaldo e por volta das 20:00 eles foram até o terreiro da Dona Hortência, acompanhados do grupo de pessoas que citamos no episódio anterior.

Nesse mesmo julgamento Osvaldo também relatou sobre os acontecimentos desse do dia seis de abril, antes de ir para o terreiro ele teria passado o dia com um vereador da cidade, jogando búzios e conversando sobre política.

Diferente dos outros dois, Davi dos Santos Soares não sabe dizer direito o que aconteceu nas datas de seis e sete de abril, chegando a confundir as datas. Ele diz que no dia seis de abril foi até uma feira de artesanato na cidade de Porto Belo, em Santa Catarina, e só retornou até Guaratuba no dia sete de abril e que no dia nove de abril teria voltado para Santa Catarina. Ele diz que não encontrou com nenhum dos outros réus durante os dias quatro e sete de abril. No dia sete de abril ele teria ficado em casa e, mais tarde, ido até a casa de Andreia. Com esse depoimento ele contraria os álibis dos demais, uma vez que não teria como ele ter ido até o terreiro da Dona Hortência ou na casa da família Caetano na noite do dia seis de abril. Contudo ele lembra de ter ido junto a De Paula realizar a busca e de davina ter feito as oferendas para São Cosme e Damião. No júri de 29 de setembro de 1999 ele teria dito que voltou para Guaratuba no dia seis de abril, por volta das 19:00, e nisso teriam ido até o terreiro da Dona Hortência.

A acusação quer estabelecer que a oração e a busca pela madrugada ocorreram na noite do dia sete de abril, horas depois que o ritual teria ocorrido, enquanto a defesa insiste no dia seis de abril.

 

DIA 6 OU 7 – DIÓGENES CAETANO

No livro de Diógenes podemos ter uma ideia da lógica da acusação em escolher essa data. Ele se refere ao momento que a imprensa foi impedida de falar com a família de Evandro por ordem do assessor de imprensa Paulo Brasil e que por causa disso ele teria ido falar com Aldo Abagge. Diógenes relata que após tentar argumentar com Aldo que seria melhor divulgar o caso o mesmo teria tentado dar uma bofetada nele e que, ao ir embora disse que se até o dia seguinte a imprensa não divulgasse o caso a família de Evandro iria até outra emissora e além do caso também divulgaria o injustificável interesse pela não divulgação.

Segundo ele talvez isso explique porque naquela madrugada Osvaldo e os demais foram até a casa de Evandro e levaram Davina e seu marido até um local muito próximo de onde o corpo foi encontrado. Celina ao ver a comoção das pessoas deve ter imaginado que se achassem logo o corpo os ânimos seriam acalmados, evitando até mesmo a entrada da polícia federal na investigação caso houvesse suspeita de envio para o exterior.

Outra hipótese que justificaria a atitude de Osvaldo seria a previsão que ele fez semanas antes, numa leitura de búzios que anunciava um terrível evento que estaria prestes a ocorrer na cidade e mudaria o rumo da cidade. Nessa época Osvaldo cobrava cinco mil cruzeiros na sua consulta dos búzios, a via de comparação um médico cobrava trinta mil em uma consulta particular. Após ocorrer a tragédia Osvaldo passou a cobrar vinte e cinco mil cruzeiros e duas semanas depois baixou o preço para quinze mil. Se o corpo não fosse encontrado as pessoas não veriam sua previsão acontecer e não estariam dispostas a se consultar com ele ou pagar caro pelos seus serviços.

 

CONFUSÕES

Outro fator essencial para que a acusação estabeleça a ida ao matagal no dia sete para oito de abril. de acordo com a denúncia do Ministério Público o ritual teria começado por volta das 19:30 do dia sete, ao término dela todos os participantes teriam despejado o corpo no matagal onde foi encontrado no dia onze de abril. Então para a promotoria era essencial estabelecer que a procura foi feita do dia sete para o dia oito de abril porque se fosse na madrugada anterior não haveria nenhum corpo ali. parecendo partir do princípio que De Paula e Davi queriam que o corpo fosse encontrado naquela noite como se por acidente ou graças ao seus poderes mediúnicos.

E tudo isso por causa do relato de Davina, que achava suspeito o fato de Osvaldo ou Vicente, tivesse levado ela de madrugada até um local próximo onde foi encontrado o corpo dias depois.

Estudando os autos e todos os depoimentos podemos acreditar que Osvaldo os demais acusados foram até a casa da família de Evandro no dia seis de abril, mesmo dia do desaparecimento do menino. o que nos leva a acreditar nisso são os seguintes elementos:

quem sempre reforça que eles foram terça-feira, dia sete de abril, é Diógenes, que diz isso com base no depoimento de Davina e ela mal conhecia as pessoas que foram a casa, chegando a confundir Osvaldo e Vicente. No seu depoimento de 2004, Diógenes afirma que mal ficou na casa da família Caetano na noite do dia seis de abril. Diógenes narra que uma professora da escola ligou para ele por voltas das 17:00 perguntando se Evandro já havia sido encontrado e foi nesse momento que ele soube do desaparecimento e foi até a casa dos pais de Evandro com a sua esposa e teria retornado para sua casa depois de um tempo.

Com exceção do depoimento de Davina ninguém confirma com certeza que estava na casa da família Caetano na noite do dia seis de abril e que os acusados não estiveram lá. Por outro lado muitas pessoas que estavam no terreiro da Dona Hortência afirmam que estavam lá na noite do dia seis de abril e que foram até a casa dos pais de Evandro naquela mesma noite.

É compreensível que datas e detalhes se confundam devido a memória e o tempo passado desde que ocorreram os acontecimentos, sem contar que Davina não conhecia nenhuma daquelas pessoas. Aos olhos da promotoria é provável que esses depoimentos fossem visto com desconfiança, uma vez que as testemunhas eram próximas aos acusados e poderiam estar combinando suas narrativas e há indícios para se acreditar nisso.

 

A DOBRADINHA: OS ÁLIBIS DE OSVALDO, VICENTE E DAVI PARA O DIA SETE DE ABRIL 

Os indícios dizem respeito aos álibis da noite do dia sete de abril, data que o assassinato de Evandro teria ocorrido. E tudo gira em torno dos álibis de Osvaldo, Davi e Vicente e envolve uma dobradinha que eles teriam comido nesse dia. Davi teria ido até a casa do Osvaldo e de lá foram até um barzinho, onde ficaram até a madrugada. Nesse mesmo dia, mais cedo, Osvaldo teria ido até a locadora com seu amigo Paulinho, que morava em Curitiba mas estava em Guaratuba na época e teria ficado hospedado na casa de Osvaldo por uns dias. Osvaldo, Antonio Costa, Vicente, Andreia e Malgareth Costa foram juntos ao bar comer uma dobradinha, com exceção de Andréia que não gostava do prato e comeu um x-salada.

Em resumo esses são os principais pontos para para o álibi dos três homens:

  1. Osvaldo alugou uma fita de vídeo;
  2. A noite, na mesma hora que são acusados de terem assassinado Evandro, teriam ido até um bar comer dobradinha;
  3. Com eles estava um tal de Paulinho, amigo de Osvaldo;
  4. Andreia não gostava de dobradinha e pediu um x-salada.

A promotoria ataca esses pontos na hora da acusação, especialmente através dos esforços do assistente de acusação que foi contratado pelos Caetano na época, o Dr. Carlos Airton Costa.

Sobre a fita de vídeo conforme consta em vários depoimentos de Antonio Costa, que era amigo do grupo, Osvaldo não tinha a ficha na locadora e costumava pedir fitas no seu nome e tal fato foi confirmado pelo dono da locadora na época. Sendo assim não dá para afirmar se de fato Osvaldo esteve na locadora dia sete de abril pois no máximo haveria o registro de um filme alugado por Antonio e uma vez que ele era muito amigo dos acusados poderia estar tentando acobertar Osvaldo. Em seu depoimento o dono da locadora adiciona que Osvaldo às vezes alugava filmes pornográficos, essa informação foi utilizada algumas vezes para atacar Osvaldo, insinuando que ele seria um pervertido.

Sobre a ida ao bar temos que focar no depoimento de 28 de julho de 1992, que os acusados prestaram para Anésia Edith Kowalski uma vez que é onde esse álibi aparece pela primeira vez. Nesse mesmo depoimento Davi, Vicente e Osvaldo dizem que estavam no bar com um grupo de pessoas, entre eles um professor chamado Tristão da Silva Miranda e Paulinho, amigo de Osvaldo, que se chama Paulo Molenta. Numa declaração obtida pelo Dr. Airton Costa datada de 15 de setembro de 1992 o professor Tristão afirmava que nos dias seis e sete de abril ele estava lecionando em outra cidade em Santa Catarina e que, portanto, não poderia estar em Guaratuba.

Há uma declaração do dono do bar, datada de 16 de setembro de 1992, obtida pelo Dr. Airton Costa. Nela ele afirma duas coisas que complicaram a vida dos acusados: na noite do dia sete de abril o bar teria fechado cedo, por volta das 20:00 por conta da ausência de clientes; e que o prato chamado de dobradinha era servido única e exclusivamente às quartas-feiras.

Na caso de Paulinho há um depoimento dele datado de 21 de setembro de 1992, ele afirma que não tinha nada a falar contra Osvaldo e De Paula e que nunca participou do terreiro deles, que recebeu a visita dos advogados do réu que lhe pediram para testemunhar em juízo e afirmar que no dia sete de abril esteve em Guaratuba com Osvaldo e De Paula em um bar. Paulinho não aceitou dizer isso, uma vez que não esteve lá, e não foi procurado para falar sobre os fatos por nenhuma outra pessoa além dos três advogados. Os três ainda procuraram o homem mais algumas vezes, inclusive apelando para os seus sentimentos ao dizer que Osvaldo estava muito ferido, mas ele não aceitou fazer a falsa afirmação em juízo.

Em outro momento ele cita que os advogados pediram para ele o contato de outro Paulo, de sobrenome Maciel, que também era o círculo de umbanda de Osvaldo e De Paula. Pelo lado da acusação seu depoimento daria a entender que os réus estavam tentando fabricar um álibi e do lado da defesa daria a entender que Paulinho estaria sendo ameaçado e com medo de falar ou, até mesmo, que esse nem era o Paulinho certo.

Não dá para afirmar com certeza mas há um momento do processo que leva a acreditar que em algum momento do processo o advogado de defesa de Osvaldo e Davi tentou arrolar como testemunha o Paulo Maciel, que foi citado por Paulinho Molenta. Será que Osvaldo confundiu os dois Paulos? Onze dias antes do depoimento prestado por Molenta, Antonio Costa citava sem seu seu depoimento que o Paulinho que estava com eles se chamava Paulo Maciel. Em 13 de novembro de 1992 Luiz Carlos Maister, um dos advogados de defesa dos homens, entrou com pedido de abertura de inquérito contra Paulo Molenta, alegando falso testemunho, uma vez que diversas testemunhas confirmaram terem visto ele porém sem especificar seu sobrenome. Em 28 de junho de 1993 a advogada Stela Maris pediu afastamento do caso alegando motivos de saúde. Foi designado um novo advogado, o Dr. Magnus Victor Kaminski. E nesse mesmo mês, logo que ele assumiu, ele pediu que Paulo Maciel testemunhasse mas o Ministério Público recusou o pedido, alegando que ela já havia prestado seu depoimento.

Andreia afirma que noite do dia sete de abril, Beatriz e Antonio saíram logo após o término das oferendas, por volta das 19:00 e logo após isso Osvaldo, Davi, De Paula também saíram. Ela afirma não acompanhado os réus até o bar e soube a menção ao bar por meio de um telefonema de uma pessoa não identificada mas que dizia estar no presídio do Ahú, onde os réus estavam presos, a pessoa pedia roupas no nome do Osvaldo e dizia que ele pediu para ela lembrar que esteve com ele no bar comendo dobradinha e x-salada naquele mesmo dia.