Wiki do Caso Leandro Bossi

0 – Extras Episódio 02 [Prelúdio]

Uma coisa que Ivan Mizanzuk sempre fala em entrevistas que concede é que ele era criança nos anos 90 no Paraná. Portanto, vivia o medo de ser sequestrado. Eram muitos os casos reportados, e o do menino Evandro Ramos Caetano foi um que circulou no imaginário de todos.

Quando a imprensa noticiou que um grupo de “bruxos” teria matado um menino em um ritual satânico, era comum as crianças da época pensarem que poderiam ser as próximas vítimas deles.

Era uma época sombria e assustadora. Mas, apesar de toda a repercussão do crime contra Evandro, o caso de criança desaparecida que mais assombrou nos anos 90 era outro, que nunca foi solucionado: o sumiço do menino Guilherme Caramês Tiburtius, em 1991, quando tinha oito anos.

Desesperada, a mãe, Arlete Caramês, fez de tudo para que os moradores do Paraná soubessem que o filho havia desaparecido. Até hoje, esse é um caso sem solução. Mas, com o rosto de Guilherme estampado em tantos cartazes da época, ele acabou se tornando o símbolo daquele medo. E ter consciência disso foi fundamental para Ivan entender outras coisas que ouvira nas fitas que descobriu.

AS FITAS

Vicente de Paula Ferreira, o pai de santo amigo de Osvaldo Marcineiro, também teve sua tortura gravada. Nas gravações, é possível notar que, a cada nova sessão de tortura, os policiais iam ditando o que ele tinha que falar – por exemplo: “fulano já falou isso, agora fala você”.

Na cabeça dos policiais militares, eles estavam fazendo assassinos de criança falarem. Por isso, os torturavam para confessar. Eles tinham certeza do que estavam fazendo. Pouco importava se as confissões não condiziam com o estado do corpo. Os PMs mal sabiam exatamente o que havia nos laudos.

Um trecho das fitas está descrito abaixo:

Vicente: Não, mas aquilo lá foi o Osvaldo que fez.

Interrogador: O que é que ele fez?

Vicente: Abriu assim para tirar.

Interrogador: Hã?

Vicente: Abriu assim para tirar o coração.

Interrogador: Para tirar o coração. O que mais ele tirou de dentro?

Vicente: Tirou o coração, o rim…

Interrogador: O que mais?

Vicente: Tirou quase tudo de dentro dele.

Homem: Entrouxa esse cara para baixo. Entrouxa a cabeça desse homem para baixo, entrouxa a cabeça.

Vicente de Paula faleceu na prisão em 2011.

Ivan Mizanzuk sempre deixa claro um fato: as pessoas acusadas pelo crime do caso Evandro são inocentes. Além disso, todas as confissões são ficções, frutos de dor e desespero, elas não condizem com o estado do corpo de Evandro.

E tudo fica ainda pior quando são observados os outros casos dos meninos desaparecidos no Paraná naquela época. Porque, a partir do momento que os policiais militares acreditaram que tinham prendido uma seita satânica que matava crianças, eles achavam que poderiam também solucionar os outros desaparecimentos. Afinal, em 1992, quando os acusados foram presos, seis crianças haviam sumido no Paraná – uma delas era Evandro.

ERRO NA CONFISSÃO

No meio desses abusos contra os presos, os policiais queriam saber se eles teriam algo a ver com o desaparecimento de Guilherme Caramês Tiburtius, que era até então o caso mais emblemático do estado.

Em uma das fitas é possível ouvir Davi dos Santos Soares, um dos acusados, confessando o caso Guilherme:

Davi: Para a gringa, eu não sei que trabalho que ele fez. Sei que a gringa, na temporada, deu 550 dólares para ele.

Interrogador: Para quem?

Davi: Para o Osvaldo.

Interrogador: Para fazer que trabalho?

Davi: Eu não sei que trabalho, mas eu sei que todo mundo ficou espantado. Poxa, chegou a gringa, fez um trabalho para ela, e ela veio e deu 550 dólares.

Interrogador: Foi no dia que sumiu o Guilherme?

Davi: É, foi perto do Carnaval, né?

Interrogador: É?

Davi: Aham. Mas eu sei que vocês querem saber do Guilherme, né? A informação que eu tenho é essa. Na época que o Guilherme sumiu, essa gringa pediu um trabalho que é mais ou menos parecido com esse da política. É um grande trabalho, acho que deve ser feito assim. Aí receberam aquele monte de dinheiro.

Porém, há um grande problema nessa confissão: Guilherme não sumiu no Carnaval, tampouco na temporada de verão em Guaratuba. Ele sumiu em Curitiba, em junho de 1991. Esse talvez seja o motivo pelo qual o Grupo Águia da Polícia Militar do Paraná nunca tenha tornado essa gravação pública.

DESAPARECIMENTO DE LEANDRO

É neste momento que entra a história de outro garoto desaparecido em Guaratuba, dois meses antes de Evandro, Leandro Bossi.

O caso de Leandro não foi devidamente investigado na época, mas o que se falava era o seguinte: no dia 15 de fevereiro de 1992, um sábado, ele estaria com alguns amigos na praia central de Guaratuba, acompanhando o show do cantor Moraes Moreira. Seus pais eram separados e não estavam com ele no evento.

O pai, João Bossi, era pescador, e estava em alto-mar na ocasião. Já a mãe, Paulina Bossi, voltava para casa após trabalhar o dia inteiro como camareira no Hotel VillaReal. Ela não sabia que Leandro teria ido sozinho para o show.

A suspeita do Ministério Público do Paraná sempre foi a de que os supostos assassinos de Evandro seriam também responsáveis pelo desaparecimento – e talvez morte – de Leandro Bossi.

Boa parte disso se dava muito por conta dos comentários de várias pessoas. Entre elas, Diógenes Caetano dos Santos Filho, o parente de Evandro que investigou o caso por conta própria.

Abaixo está uma fala dele no júri de 2005, de Airton Bardelli e Sérgio Cristofolini, dois dos sete acusados pela morte de Evandro. Quem faz as perguntas é o juiz Rogério Etzel.

Diógenes: Agora, um fato importantíssimo que envolve o Bardelli, o Sérgio Cristofolini, o Osvaldo e o Vicente, ocorreu na noite de 15 de fevereiro de 1992, no show do Moraes Moreira, em Guaratuba. Esse show estava marcado para começar às 21h, e eu estava lá com a minha esposa e três filhos. […] O show começou depois das 22h.

Juiz: Show de quem mesmo?

Diógenes: Moraes Moreira. E nós estávamos cansados ali, segurando as crianças, já estávamos pensando em ir embora. Nisso, chega o Sérgio Cristofolini com a moto dele naquela contenção que tem do passeio na praia central. Tem dois degraus de 30 cm que impedem o avanço da areia do mar. Ele subiu no passeio com a moto e começou a acelerar, com uma luz alta, e virava o guidão para os lados. Havia uma multidão, e nós estávamos bem na frente, a 10 metros havia o palco. Logo onde estávamos, havia duas torres de canhão laser que projetavam imagens na parede do edifício e havia ali cerca de uma dúzia de crianças brincando de pegar, de rolar na areia. Elas pegavam punhados de areia e jogavam para cima. Quando aquela areia passava pelo feixe de luz laser, aquele espetáculo foi o que manteve a gente ali esperando, apesar do cansaço. […] Enquanto nós deliberávamos de ir embora, percebemos que a luz desapareceu. Quando olhamos, ele estava saindo com um menino loirinho na garupa da moto. Nós não sabíamos que esse menino era o Leandro Bossi. E, quando ele sai em direção ao norte, Praia das Caieiras, a cinco metros de distância, o Bardelli estava com o Caravan grafite dele estacionado também na direção norte. Só que do lado dele e no banco de trás estava o Vicente De Paula e o Osvaldo Marcineiro. Assim que o Cristofolini saiu, o Bardelli saiu atrás.

Juiz: Onde estavam os pais do Leandro Bossi?

Diógenes: O pai é separado da mãe.

Juiz: Quantos anos tinha o Leandro Bossi?

Diógenes: Cerca de oito para nove anos.

Juiz: Ele estava sozinho lá?

Diógenes: A mãe dele era camareira no Hotel VillaReal, e ele vivia com a mãe, não com o pai. E ele era um guri meio solto, inclusive vendia empadinha.

Juiz: Ele estava sozinho?

Diógenes: Estava com uns amigos brincando naquela areia entre o palco e a multidão.

Juiz: A mãe não estava próxima?

Diógenes: A mãe não estava, ele estava sozinho.

Juiz: E o Cristofolini? Qual a ligação dele com a família, com a mãe, com o menino?

Diógenes: Não, não tem ligação nenhuma.

Juiz: E como é que o menino saiu com ele?

Diógenes: Saiu porque o guri era um guri, assim, de família pobre, pais separados, e ele inclusive vendia empadinha. Não era um guri de rua, mas era bem solto, bem esperto, né?

No júri, o juiz Rogério Etzel e o advogado Haroldo César Nater, que fazia a defesa de Sérgio Cristofolini, chegaram a discutir por causa das falas de Diógenes. 

Neste julgamento, os réus Airton Bardelli e Sérgio Cristofolini foram absolvidos. E isso foi contado em detalhes na quarta temporada do Projeto Humanos.

INFLUÊNCIA DE DIÓGENES

Há várias coisas importantes nas falas de Diógenes para levar em consideração. O Ministério Público do Paraná considera que, se não existisse a declaração de Diógenes no ano de 1992, as prisões e acusações contra os sete réus do caso Evandro jamais teriam ocorrido. Foi ele quem levantou toda a base de informações que levou o Grupo Águia a prender os acusados. Ainda de acordo com esse relato, feito em 2005, Diógenes teria visto Sérgio Cristofolini e outros suspeitos sequestrarem Leandro Bossi no show do cantor Moraes Moreira.

Dois meses depois de Leandro desaparecer em fevereiro de 1992, Evandro sumiu e foi encontrado morto e mutilado após alguns dias. Diógenes passou a investigar e chegou à conclusão de que a criança teria sido morta por uma seita com participação da esposa e filha do prefeito, de alguns pais de santo e outros moradores de Guaratuba.

O primo de Evandro sentia que o Grupo Tigre, da Polícia Civil do Paraná, não estava trabalhando direito, e estaria sendo ludibriado pela família do prefeito. Por isso, em 29 de maio de 1992, ele foi ao Ministério Público do Paraná fazer uma declaração sobre todas as suas suspeitas. Elas foram a base para as prisões dos sete suspeitos feitas pelo Grupo Águia.

Em julho, ou seja, cinco meses após o desaparecimento de Leandro e três meses após o de Evandro, com base na declaração de Diógenes ao Ministério Público, a PM prendeu os sete acusados.

Entender essa sequência de eventos é importante pelo seguinte: nessa declaração, Diógenes em nenhum momento afirmou que viu Osvaldo, Cristofolini, Davi ou Vicente de Paula na noite do sequestro de Leandro Bossi. Leandro sequer foi citado na ocasião.

Diógenes deu o primeiro depoimento em juízo no processo do caso Evandro em 13 de agosto de 1992. A essa altura, o sumiço de Leandro Bossi era bastante citado. Afinal, após a repercussão da morte de Evandro, todo mundo tentava entender se os casos teriam alguma relação. Logo, não seria possível Diógenes dizer que desconhecia o desaparecimento de Leandro.

Perante a juíza de Guaratuba, no momento do depoimento, seria a hora perfeita para dizer “eu vi Sérgio Cristofolini, um dos acusados, sequestrando Leandro Bossi, o menino que desapareceu dois meses antes de Evandro”. Mas ele não fez isso.

Depoimento de Diógenes em juízo em 13 de agosto de 1992

No decorrer dos anos, Diógenes deu uma série de depoimentos e entrevistas para a imprensa. Em todas, citava apenas uma coisa: Leandro Bossi estaria morto, pois o pai de santo Osvaldo Marcineiro teria confessado o crime. Segundo ele, essa confissão foi gravada pelo Grupo Águia da PM e chegou a ir para a TV em uma reportagem do jornalista Gladimir Nascimento, na época no canal Rede OM, que depois virou CNT.

Além dessas entrevistas e depoimentos, Diógenes também tinha o costume de escrever cartas ao promotor Celso Ribas, responsável pela acusação nos júris marcados para o final da década de 1990. Nessas cartas, falava sobre como os acusados teriam relação com o caso Leandro Bossi. Muitas delas estão anexadas ao inquérito de Leandro. 

Mas em nenhuma dessas cartas, em depoimentos ou em entrevistas, Diógenes falava sobre ter visto Leandro ser sequestrado por Sérgio Cristofolini ou os outros acusados. Ele só citava a confissão de Osvaldo Marcineiro que havia ido ao ar pela matéria do repórter Gladimir Nascimento.

DOZE ANOS DEPOIS

Por causa disso, Ivan sempre se questionou quando foi a primeira vez que Diógenes disse ter visto Leandro Bossi ser sequestrado pelos acusados do caso Evandro. De acordo com os registros que encontrou, a primeira vez que ele falou sobre isso foi em 2 de dezembro de 2003, em um inquérito da Polícia Federal que investigava o desaparecimento. Ou seja, ele só deu essa informação quase 12 anos depois do início do caso.

Coincidentemente, ele comenta sobre isso exatamente no período em que a imprensa está cobrindo o julgamento de Valentina de Andrade em Belém, sobre o caso dos meninos emasculados de Altamira – a quinta temporada do Projeto Humanos.

Já a reportagem de Gladimir Nascimento, aquela que teria a confissão de Osvaldo Marceneiro sobre Leandro Bossi, nunca foi anexada em nenhum inquérito ou processo. A antiga Rede OM, atual CNT, não possui arquivos daquela época, o que tornou impossível verificar se ela existiu de verdade.

Mas, nas fitas que Ivan descobriu e publicou no episódio 25 do caso Evandro, ele obteve a confirmação. De fato, havia uma confissão do pai de santo Osvaldo Marcineiro sobre Leandro Bossi.

A TORTURA PARA CONFESSAR

Os sete acusados do caso Evandro foram presos no início de julho de 1992. Na primeira semana das prisões, os jornais do Paraná chegaram a divulgar que, na cadeia, alguns dos suspeitos teriam confessado que também mataram Leandro Bossi.

Eram sete presos. Beatriz Abagge e Celina Abagge, filha e esposa do prefeito de Guaratuba, negavam os crimes e diziam ter sido torturadas. Airton Bardelli e Sérgio Cristofolini, os últimos dois presos, também. Os únicos que ainda “confessavam” alguma coisa eram os pais de santo Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula Ferreira, e o artesão Davi dos Santos Soares. Esses três homens sofreram incontáveis agressões e demoraram muito para terem advogados de defesa.

De acordo com os jornais da época, a confissão sobre a morte de Leandro Bossi teria vindo de um desses três homens. 

Diário Popular – “Sacrifício Satânico”

Diário Popular – “Monstruosidade em Guaratuba: Macumbeiro é preso e conta a história”

Diário Popular – “Estes são os bárbaros”

Diário Popular – “Policiais vasculham áreas em Guaratuba!”

Diário Popular – “Favetti revoltado com as bruxarias!”

Diário Popular –  “Secretário: Bruxos serão soltos em praça pública”

Diário Popular – “Barbarismo em Guaratuba: Secretário diz que confissão condena!”

Diário Popular – “A confissão dos satânicos”

Diário Popular – “Ritual de magia negra em Guaratuba: O que contaram a esposa e a filha do prefeito!”

Poucos dias após a veiculação dessas matérias, na hora de prestar depoimento para a polícia, os três presos passaram a dizer que, na verdade, tinham sequestrado Leandro Bossi e o entregado para uma “loira, gringa e gorda” no aeroporto de Guaratuba; e que isso teria sido feito a mando de Celina, esposa do prefeito. Contudo, existe muita diferença entre assassinar e sequestrar.

Então, o delegado responsável pelo caso Leandro Bossi, Luiz Carlos de Oliveira, foi interrogá-los. E, neste momento, o pai de santo Osvaldo Marcineiro lhe revelou que estava sendo torturado e forçado a contar aquelas histórias. O doutor Luiz Carlos, então, lhe disse para contar a verdade. A partir daquele dia, Osvaldo passou a falar sobre as torturas e a negar os crimes.

Poucos dias depois, em audiência com a juíza responsável, a doutora Anésia Edith Kowalski, todos afirmaram ser inocentes e que foram torturados para confessar. Nessa confusão, a tal fita de confissão de Osvaldo Marcineiro nunca foi anexada no processo. De alguma forma, porém, foi parar na imprensa.

Ivan não encontrou a matéria de Gladimir Nascimento, mas obteve a gravação sobre Leandro nas fitas que descobriu e publicou em 2020 na temporada do caso Evandro. Confira a seguir a descrição dos trechos específicos:

Interrogador: Onde que foi feito isso?

Osvaldo: Foi na… Na… Próximo à Baía.

Interrogador: Vocês mataram ele ali?

Osvaldo: Sim, senhor.

Interrogador: E daí?

Osvaldo: Foi jogado na Baía.

Interrogador: Onde mais ou menos ali?

Osvaldo: Ah, aí o Sérgio colocou na frente da moto, e não sei bem onde é que ele jogou, mas foi perto da Baía, um pouco antes do ferry-boat, por ali.

Interrogador: Vocês colocaram ele dentro de alguma coisa?

Osvaldo: Foi colocado ele dentro do saco.

Interrogador: Saco do quê?

Osvaldo: Acho que era saco de… De…

Interrogador: Acho que não

Osvaldo: Era saco. Um saco, eu não sei o saco. Um saco preto.

Interrogador: Tá. Estava você…

Osvaldo: Estava eu, o De Paula, o Sérgio e o Davi.

Interrogador: Quem que matou o guri?

Osvaldo: O Davi que estrangulou ele, e o De Paula… Não sei se foi cortado… O De Paula cortou a parte da veia dele.

Interrogador: E daí, o que fizeram?

Osvaldo: Só foi cortado.

Interrogador: Tá, e o sangue vocês pegaram?

Osvaldo: Não, foi jogado com tudo. Sacrificado com o corpo para abrir os caminhos no mar.

Agora, em outro corte:

Interrogador: Qual era o objetivo desse sacrifício?

Osvaldo: Esse era para abrir os caminhos da gente, do trabalho, para o Sérgio, para o Davi. Era para abrir os caminhos.

Interrogador: Como que era o nome dessa criança?

Osvaldo: Era… Leandro… Leandro Bossi… “Bóris”.

Interrogador: Quantos anos, mais ou menos, tinha essa criança?

Osvaldo: Uns 10, 11 aninhos, não sei bem a idade dele.

Interrogador: Com que roupa ele estava vestido?

Osvaldo: Com uma calça e uma camisetinha meio listrada.

Interrogador: Que horas eram quando vocês pegaram ele?

Osvaldo: Olha… Eu não tenho certeza, acho que era umas seis horas da tarde.

Interrogador: Antes de começar o show ou depois do show? Esse show foi de dia ou de noite?

Osvaldo: Acho que foi na hora do show sim. Na hora que estava começando o show.

Interrogador: Você lembra qual era o artista?

Osvaldo: Quem era o…?

Interrogador: O artista.

Osvaldo: Acho que era o… Não tenho certeza porque eu não assisti o show. Acho que era Alceu Valença, não tenho certeza.

Então, nesse ponto, Diógenes estava falando a verdade. Havia realmente uma fita de confissão de Osvaldo. E nela, assim como o primo de Evandro sempre afirmou, Osvaldo dizia que ele, Davi, Vicente de Paula e Sérgio Cristofolini teriam sequestrado Leandro Bossi no dia do show, o matado e jogado o corpo na Baía de Guaratuba.

Por anos, essa era a crença de muitos. Diógenes chegou a escrever cartas para uma série de políticos e autoridades, pedindo para que buscas fossem feitas na Baía de Guaratuba, pois ele acreditava que o corpo ainda podia estar lá. Essa procura nunca chegou a acontecer de fato, mas as autoridades tentaram.

Na década de 2000, vários estudos foram realizados entre Ministério Público, delegacias, Corpo de Bombeiros e a Marinha para analisar a viabilidade de se buscar o corpo naquele local, que teria sido supostamente jogado lá em 1992. Os orçamentos para a operação giravam na casa das centenas de milhares de reais e, no final, a opinião geral dos especialistas era de que, se um corpo realmente foi deixado ali há tanto tempo, dificilmente ainda se encontrava no local. Logo, as buscas na Baía de Guaratuba nunca foram realizadas.

Por décadas, então, a crença de Diógenes e de muitas autoridades do estado do Paraná era a seguinte: os acusados do caso Evandro mataram Leandro Bossi, chegaram até a confessar em fita cassete, mas a gravação da confissão se perdeu e não havia elementos contra eles nesse caso.

Essa era apenas uma das várias suposições que existiam nessa história. Nunca houve nenhum corpo jogado na Baía de Guaratuba. O pânico era generalizado. Uma verdadeira caça às bruxas ocorria no estado do Paraná em 1992. E por algum tempo, na busca por satanistas, a polícia acreditou que tinha localizado uma bruxa de verdade.