0 – Extras Episódio 04 [Prelúdio]

Quando Ivan Mizanzuk começou a fazer pesquisas e investigações sobre o caso Evandro, ainda em 2015, era recorrente ouvir sobre uma história estranha: em março de 1993, alguns garotos acharam em Guaratuba, no litoral do Paraná, a ossada de uma criança. Essa ossada, que estava com as roupas de Leandro Bossi, foi encontrada no mesmo matagal onde o corpo de Evandro havia sido jogado quase um ano antes, em abril de 1992.
Em uma situação como essa, na época, um achado desse tipo seria geralmente identificado de dois modos principais: pela arcada dentária ou pelos objetos que estivessem próximos. O exame de arcada dentária não foi possível pois as fichas de Leandro não foram encontradas. Já pelas roupas, havia a possibilidade de identificar a ossada. Porém, em 1993, um ano e um mês após o desaparecimento de Leandro, já havia uma nova tecnologia disponível: o exame de DNA.
Na investigação da morte de Evandro, inclusive, esse tipo de exame teve um aspecto central no desenrolar do caso. O estado do Paraná decidiu que faria com que a ossada encontrada com as roupas de Leandro fosse submetida ao mesmo procedimento. Tendo em vista que a polícia não tinha equipamentos para fazer uma análise dessas na época, o estado contratou os serviços de um conceituado laboratório privado de Minas Gerais, o Instituto Gene – o mesmo que fez a identificação por DNA do corpo de Evandro.
Alguns dos ossos encontrados foram enviados em maio de 1993, junto com amostras de sangue de João Bossi e Paulina Bossi, os pais de Leandro. O resultado só saiu meses depois, em janeiro de 1994. E nele constava o seguinte: a ossada não era compatível com o DNA dos pais de Leandro, e havia sugestões de que ela seria de alguém do sexo feminino.
Laudo de exame de DNA de Leandro Bossi – 1994
Esse resultado foi um espanto na época por dois motivos. Primeiro porque ia contra o exame feito no IML do Paraná, que indicava que a ossada seria de uma criança do sexo masculino. Segundo porque surgia a pergunta: quem teria enterrado um corpo de menina com as roupas de Leandro Bossi no mesmo matagal onde Evandro foi encontrado?
Essa situação forneceu uma nova camada conspiratória para o caso Evandro. Quem ouviu a quarta temporada do podcast deve lembrar do quão polêmico foi o exame de DNA na época. As defesas dos acusados sempre questionaram a identificação feita por DNA porque o material coletado para o procedimento não respeitou os procedimentos da cadeia de custódia – que, na época, sequer previam exames desse tipo. A partir disso, surgiu a discussão de que não daria para ter certeza se o corpo encontrado em abril era mesmo de Evandro.
Com a achada da ossada, e após o resultado do exame de DNA de 1994 afirmando que ela poderia ser de uma menina, a defesa passou a insistir cada vez mais nas estranhezas do caso. Exemplo disso é um comentário do advogado Antonio Figueiredo Basto, no programa Jogo Limpo da TV Independência, em 1995:
“O assassino está em Guaratuba, e vou dizer porquê. A 300 metros do local onde foi achado este cadáver, é uma rua estreitinha, foi achado há um ano e meio uma ossada. Junto com essa ossada, vejam bem, estava jogado lá um calçãozinho do Leandro Bossi, um chinelo e uma mecha de cabelo. Pegaram aquela ossada e disseram: é o Bossi. A mãe reconheceu ali. Mandaram para o IML para DNA. Sabem de quem era essa ossada? Era de uma menina! Uma criança do sexo feminino. Duas questões: quem é essa criança do sexo feminino? Até hoje a polícia do estado do Paraná não se movimentou para descobrir. E segunda questão: quem plantou o calção, o chinelo e a mecha de cabelo sabe onde está Leandro Bossi. […] A pessoa que fez isso está em Guaratuba”.
Ou seja, as defesas diziam: se é uma menina, alguém plantou um corpo lá para tentar incriminar ainda mais os acusados. Só que a pessoa que fez isso não imaginava que a ossada passaria por um exame de DNA. Com tantas desconfianças, a defesa pedia insistentemente que o corpo de Evandro fosse exumado e que um novo exame de DNA fosse feito. Afinal, se não houvesse corpo, não haveria crime.
Os vários pedidos de exumação sempre foram negados pelo juízo. Os motivos eram vários, mas o principal seria o seguinte: as amostras para o exame de DNA de Evandro estavam dentro de um cofre no IML de Curitiba. Se eles quisessem fazer um nome exame, não haveria necessidade de exumação. Bastaria usar o material do cofre. Porém, a defesa argumentava que esses fragmentos foram coletadas sem cadeia de custódia, e a discussão voltava para a estaca zero.
Já a acusação pensava outra coisa sobre a ossada, como é possível notar em uma declaração de Paulo Markowicz, o último promotor que atuou em júri pelo Caso Evandro. Durante entrevista realizada em 2017, Ivan Mizanzuk questionou Markowicz sobre o motivo pelo qual a exumação nunca foi feita:
“Por que o corpo nunca foi exumado? A suspeita muito grande é de que, na verdade, o corpo do Evandro não ficou com um policial cuidando lá o tempo inteiro, guardando o túmulo. Havia essa suspeita, o Celso tinha essa suspeita, de que o corpo lá enterrado não é de Evandro. Então, não íamos concordar com isso porque daí ia dizer que não era, ia acabar com o caso. E por que a defesa não quis fazer exumação com os dentes e o osso aqui? Aqui não queriam, queriam cemitério. Daí apareceu aquele corpo desenterrado, alguém já estava desenterrando corpos, né?”.
O Celso a que ele se refere é o falecido doutor Celso Ribas, o principal promotor deste caso antes de Markowicz assumir a frente.
NOVO EXAME DE DNA
Enquanto a defesa entrava na paranoia de que estariam tentando jogar mais um caso nas costas dos acusados, a promotoria seguia na paranoia de que alguém estaria desenterrando corpos para atrapalhar o processo. E, quando Ivan percebeu tudo isso, ficou com a dúvida principal: quem era aquela menina? Ele entrou, então, em contato com a doutora Patrícia Conceição Nobre Paz, delegada do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), na época em que começou a se aprofundar no caso Evandro.
Como Leandro Bossi nunca havia sido encontrado, o inquérito ainda estava em aberto. Por isso, Ivan comentou com a doutora Patrícia sobre o corpo de menina encontrado no matagal. Essa era uma questão relevante porque o cartaz de crianças desaparecidas na década de 1990 contava com algumas meninas. De repente, poderia ser uma delas.
Cartaz de crianças desaparecidas na década de 1990
A partir daí, a delegada Patrícia passou a procurar essa ossada. Foram meses até encontrá-la. Depois disso, ela tentou fazer o exame de DNA na Polícia Científica do Paraná. Mas os ossos estavam degradados demais, e não foi possível obter um resultado confiável.
Por isso, os fragmentos foram enviados à Brasília, em um convênio com a Polícia Federal. Lá, exames mais precisos poderiam ser realizados através do DNA mitocondrial, que é mais resistente e sempre compatível com o DNA da mãe. Isso foi em maio de 2021. A série do caso Evandro havia acabado de estrear no Globoplay. O pai de Leandro, João Bossi, havia falecido um pouco antes, em abril. Ele nunca chegou sequer a ver a série ir ao ar.
Por causa disso, a Polícia Científica coletou o DNA de dois parentes de Leandro: Ademir Bossi, o irmão mais velho, e Paulina Bossi, a mãe. Além disso, pegou o DNA de parentes de outras crianças desaparecidas na época.
O ANÚNCIO DO NOVO RESULTADO
Mais de um ano se passou. Em 10 de junho de 2022, a Secretaria de Segurança do Paraná realizou uma coletiva de imprensa. Na mesa, estava a doutora Patrícia e alguns membros da Polícia Científica do Paraná. Quem deu a primeira declaração foi Wagner Mesquita, então secretário estadual da Segurança Pública do Paraná:
“Então, no ano passado, foram enviadas para a Polícia Federal em Brasília oito amostras ósseas que estavam na guarda da Polícia Científica relativas às pessoas desaparecidas, às crianças desaparecidas. Da mesma forma, também foi coletado material genético de três famílias, de três mães, dentre elas, a mãe de Leandro Bossi. E agora tivemos o resultado positivo, fazendo o confronto de uma das amostras, que indicou a compatibilidade do material genético para a ossada pertencente a Leandro Bossi, compatibilidade na casa de 99,99% com o material genético coletado da sua mãe, Paulina Bossi. Isso é um avanço importante, é uma resposta que a família e a sociedade aguardam há 30 anos”.
Ou seja, a ossada encontrada em março de 1993 era de Leandro Bossi. Sempre foi. Nunca existiu nenhuma menina misteriosa com as suas roupas. A família Bossi passou 30 anos sem respostas, quando poderia já ter alguma. Essa ossada nunca esteve em nenhuma baía de Guaratuba. É mais uma prova de que aquelas confissões do caso Evandro são ficções que não valem nada para a verdadeira solução do caso.
Laudo de exame de DNA de Leandro Bossi – 2022
Depois que Ivan assistiu à coletiva de imprensa, decidiu olhar novamente o laudo de 1994, do Instituto Gene. E tudo ficou mais claro ao reler a conclusão do documento:
Em primeiro lugar, deve ser ressaltado que estudos de identidade feitos a partir de DNA obtido de dentes e ossos são procedimentos delicados que podem ser influenciados por fatores variados, inclusive contaminação das amostras com DNA extrínseco, o que pode levar a falsas exclusões. No GENE são tomadas enormes precauções para evitar contaminações, inclusive com uso de várias preparações de DNA de dentes e ossos distintos. Mesmo assim, resultados negativos, ou seja, nos quais não há correspondência entre os achados com o DNA do cadáver e o DNA das pessoas usadas como referência para a identificação, devem ser tomados com maior cautela do que resultados em que a identificação é positiva.
Ivan conversou com alguns especialistas em DNA para entender tudo melhor, e parte disso já falou na quarta temporada do podcast, nos episódios que se dedicou a analisar essa parte do caso.
O resumo é o seguinte: exame positivo é certeza. Exame negativo pode ser contaminação. Ou ainda, o que é mais provável no caso de Leandro Bossi, pode ser degradação da amostra de DNA analisada. Afinal, o exame da década de 1990 dizia que havia sugestão da ossada ser de uma menina. Isso significa que não encontraram o cromossomo Y, presente apenas em seres do sexo masculino. E não encontraram muito provavelmente porque a amostra estava degradada.
E a contaminação pode ser desde algum microrganismo que tenha na amostra, como uma bactéria do sexo feminino que estivesse ali no meio, até alguma funcionária do laboratório que espirrou na hora do exame. Tudo isso pode gerar um falso negativo, que não é incomum. Falso positivo beira o impossível. Então, relendo o laudo de 1994, é interessante ver como eles mesmos já deixavam claro que exame negativo pode ser uma falsidade. O mesmo não ocorre com resultados positivos.
O resultado de 2022 que confirmou a identidade da ossada de Leandro Bossi fez ressurgir dúvidas sobre o exame de DNA feito no corpo do Evandro em 1992. Algo na linha de “ora, se o laboratório errou na ossada do Bossi, pode ter errado na do Evandro”. Mas Ivan reforça que isso não aconteceu. A análise de Evandro deu positiva e, portanto, é confiável. A de Leandro deu negativa em 1994, e o próprio laboratório afirmou que isso poderia ser um erro. E, agora, a da PF em 2022 testou positivo. Logo, foi um falso negativo e dois exames positivos que, no fim, são confiáveis.
Essa confusão é tão intrínseca no caso Evandro, e agora no caso Leandro Bossi, que na própria coletiva de imprensa houve dúvidas entre alguns repórteres. Afinal, uma das teorias da conspiração da época era de que o corpo encontrado em abril de 1992 em Guaratuba seria na verdade de Leandro, e não de Evandro. O que significaria que as amostras que estavam no IML identificadas no cofre como sendo de Evandro seriam, na verdade, de Leandro.
Confira abaixo a transcrição de um trecho da coletiva, que ocorreu em junho de 2022. Quem pergunta é o repórter Marcelo Rocha, da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), afiliada da Globo no Paraná:
Repórter Marcelo Rocha: Boa tarde. Marcelo Rocha, da RPC. Vou fazer a pergunta à mesa, uma coisa que não me ficou clara ou talvez eu tenha perdido. Essa ossada que estava em poder das autoridades de Segurança Pública e que foi enviada para exame é a ossada que foi encontrada no bairro Carvoeiro do lado do corpo do Evandro na época das investigações? Ou é uma ossada diferente dessa? Que ossada é essa e onde ela estava?
Wagner Mesquita: Marcelo, a Polícia Científica mantinha amostras, né? Uma dessas amostras era da ossada do menino Leandro Bossi, ou aquela ossada que se supunha talvez ser.
Repórter Marcelo Rocha: Mas é essa a que eu me referi na pergunta, secretário?
Wagner Mesquita: Desculpa…
Repórter Marcelo Rocha: Porque havia uma ossada ao lado da ossada do Evandro. Ela foi recolhida na época…
Wagner Mesquita: Então, eu gostaria só de deixar bem claro, assim, que o trabalho do Sicride é voltado à localização de pessoas desaparecidas. Em relação à materialidade e autoria da morte ocorrida 30 anos atrás, a Polícia Civil nesse momento está solicitando cópia do inquérito de 30 anos atrás. A informação que nós temos é que ele está arquivado pelo Ministério Público de Guaratuba. A Polícia Civil está diligenciando nesse sentido, nesse momento, para receber cópia para ver que impacto o trabalho do Sicride tem no trabalho de investigação da morte do menino Leandro Bossi. Então, deixando bem claro, o objetivo nesse momento é o trabalho do Sicride, que é uma delegacia especializada na localização de pessoas desaparecidas. E esse caso, o desaparecimento, é resolvido com o resultado positivo do DNA.
Repórter Marcelo Rocha: Tudo bem, secretário. Mas o que a gente quer saber é o seguinte… O que eu pelo menos quero saber é o seguinte: a ossada estava em poder das autoridades de segurança. Ela foi em algum momento encaminhada para esse exame, que constatou que ela é compatível com a mãe do Leandro. Essa ossada, antes de estar com as autoridades de segurança, estava onde? Quem recolheu? Onde ela estava?
Wagner Mesquita: Todos os restos… Todo o material que é coletado fica sob custódia da Polícia Científica.
Repórter Marcelo Rocha: Não, não. Onde a ossada foi coletada? Em que região?
Wagner Mesquita: Onde foi coletada é um auto de arrecadação feito naquele inquérito. São situações diferentes. A arrecadação foi feita dentro do inquérito do homicídio 30 anos atrás, que consta do inquérito. Eu não tenho como adiantar uma informação que consta no inquérito de 30 anos atrás. Então, primeiro, nós estamos dando o trabalho… O objetivo aqui é finalizar o trabalho da criança desaparecida. Agora nós vamos solicitar o acesso ao inquérito da morte, em que aí sim você vai ter o laudo de arrecadação, o laudo de perícia que foi feito no local de morte. Essas informações vão estar naquele inquérito de 30 anos atrás, que está arquivado no Ministério Público. Então, eu só vou ter condição de te responder essa pergunta quando tiver acesso ao inquérito.
Repórter Marcelo Rocha: Então, hoje, nós não sabemos onde originalmente a ossada foi encontrada? Essa informação vai ser trazida depois da análise do inquérito a que o senhor se refere, é isso?
Wagner Mesquita: Essa informação consta do inquérito policial da morte do menino Leandro Bossi, que está arquivado há 30 anos no Ministério Público em Guaratuba. Então, a pergunta que foi feita vai ser respondida com base no inquérito, que nós solicitamos o acesso agora.
De acordo com Ivan Mizanzuk, esse foi o grande problema daquela coletiva de imprensa. Sim, era importante falar à população que houve uma identificação 30 anos depois, em um crime tão conhecido no Paraná. Por outro lado, com exceção da doutora Patrícia, ninguém entendia muito bem o caso. O secretário Wagner Mesquita não soube responder ao repórter de onde vinha aquela ossada.
CONCLUSÕES
Então, esclarecendo: a ossada examinada era a mesma que, por anos, acreditou-se ser de uma menina. Os fragmentos ósseos de Leandro permaneceram em um cofre do IML, com muitas pessoas achando se tratar de uma menina não identificada, e que nunca teve inquérito próprio aberto. Essas amostras foram ignoradas nas três décadas que se passaram. Já aquelas pertencentes a Evandro estão em outro cofre, também no IML. São dois corpos diferentes.
Leandro Bossi, desaparecido em 15 de fevereiro de 1992, está morto. Evandro Ramos Caetano, desaparecido em 6 de abril de 1992, dois meses depois, está morto.
O corpo de Evandro foi encontrado primeiro, cinco dias após o desaparecimento, no dia 11 de abril de 1992. A ossada de Leandro foi encontrada 13 meses depois dele desaparecer, no dia 4 de março de 1993. Mas só foi devidamente identificada em junho de 2022 – mais de 30 anos depois. Os dois meninos eram loiros, com olhos claros, tinham idades próximas e foram achados no mesmo matagal, cerca de 300 a 400 metros de distância um do outro.
Para Ivan, essa identificação foi muito dura, pois, apesar de achar uma possibilidade remota, ele queria acreditar que Leandro Bossi poderia estar vivo. Essa esperança se foi naquele mês de junho de 2022.
E foi mais doloroso ainda saber que o pai de Leandro, João Bossi, não pôde ter ao menos essa resposta. Em 2017, Ivan teve uma longa conversa com João Bossi.
“Eu gostaria que os órgãos competentes criassem vergonha na cara. Me perdoem, mas são 25 anos de espera. Não 25 dias. Me deem uma resposta. Está morto? Aonde? Como? Eu vou dormir em paz. Mas essa resposta eu quero. Pode vir Polícia Federal, pode vir Interpol. Eu não tenho medo de ninguém. Eu só quero a minha resposta. ‘Teu filho está em tal lugar ou está morto’. Acabou”, desabafou ele na ocasião.
Nessa conversa, estava presente também Ademir Bossi, o filho mais velho de João. “Nós aguardamos a resposta sobre o Leandro Bossi. Por favor. Tem a minha mãe que está triste, a minha mãe também está acabada. O meu pai está acabado. A minha família está acabada. Foi acabada a nossa família. Por favor, tenha piedade”, afirmou.
O DNA de Ademir Bossi também foi usado na testagem para a identificação da ossada. A amostra foi coletada em 2021. Em fevereiro de 2022, Ademir faleceu aos 46 anos. Meses depois, vinha a confirmação de que as amostras eram de Leandro.
Assim como o seu pai, Ademir morreu sem ter essa resposta. E foi assim que, no ano de 2022, Paulina Bossi perdeu seus dois únicos filhos.
O novo resultado de DNA não foi apenas doloroso. Essa identificação também deixou Ivan intrigado. Afinal, agora se tinha uma certeza: o corpo de Leandro foi deixado em um local muito próximo ao de Evandro. Isso é uma pista nova, é mais um indício forte de que os casos podem estar relacionados. Por outro lado, há uma dose de frustração, já que o homicídio de Leandro já está prescrito. Isso quer dizer que a Polícia Civil não vai investigar o assassinato dele.
Quando Leandro desapareceu, João já estava separado de Paulina há alguns anos e tinha uma nova esposa. Nesse novo casamento, ele teve outros filhos. Ivan, então, entrou em contato com os irmãos de Leandro e perguntou se eles gostariam que o caso fosse investigado. Eles responderam que sim e agradeceram a disposição.
Desde que a série do Caso Evandro foi ao ar em 2021 na Globoplay, os membros da família Bossi lançaram a campanha “Onde Está Leandro Bossi?”. Essa hashtag inundou timelines das redes sociais e mostrou que muita gente se importava com a sua história.
Em junho de 2022, quando veio a confirmação da morte de Leandro, essa pergunta infelizmente foi respondida.
Foi então que Ivan começou a se mexer. Passou a rever anotações antigas, arquivos e inquéritos que tinha guardado. Ele procurava por coisas que talvez tivesse deixado passar.
E foi nesse esforço que a pergunta lançada pela família Bossi nas redes sociais adquiriu
um sentido mais profundo.
CAMPANHA DE DESAPARECIDOS
Se você estiver passando por uma situação de desaparecimento de um amigo, conhecido, vizinho ou familiar, é importante saber que existe uma ferramenta disponibilizada pela Polícia Científica, o Banco Nacional de Perfis Genéticos.
O objetivo dessa iniciativa é comparar os perfis genéticos armazenados, para tentar relacionar suspeitos a locais de crimes. Além disso, também identificar pessoas desaparecidas por meio de confrontos com perfis genéticos de familiares.
O banco nacional faz regularmente comparações entre perfis em âmbito interestadual e encaminhados de outros países por meio da Interpol. A coordenação está a cargo da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, composta por 22 laboratórios de genética forense distribuídos pelo Brasil.
Em 2021, foi feita a Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas. No Paraná, por exemplo, a Polícia Científica disponibilizou todas as suas instalações e coordenou a coleta de mais de 170 amostras de familiares.
Uma campanha que, de fato, pode ajudar a esclarecer casos de desaparecimentos. Paulina e Ademir Bossi, mãe e irmão de Leandro, fizeram a coleta do material genético, que foi enviado à PF. Esse movimento permitiu que, mesmo após tantos anos, finalmente viesse a identificação do menino.
Para saber mais detalhes sobre a campanha, como é o procedimento, quem pode participar, e outras dúvidas frequentes, a população pode acessar o site do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Nele, há também os endereços das unidades da Polícia Científica do Brasil aptas a realizarem a coleta do material genético.