Wiki de Altamira

Extras Episódio 07

PÂNICO NA CIDADE

A partir deste episódio, a história do caso dos meninos de Altamira mudará radicalmente. Aqui é preciso relembrar dois eventos importantes: a prisão de Amailton Madeira Gomes no fim de 1992 e a morte do garoto Flávio Lopes da Silva, de 10 anos, em março do ano seguinte. Entre ambos os acontecimentos, mais duas crianças desapareceram na cidade.

Esse dado é frequentemente ignorado e não aparece nos autos com a devida atenção que merece. O processo conta apenas com os registros das ocorrências policiais e não possui abertura de investigação. De acordo com a pesquisadora Paula Mendes Lacerda, que usa esses documentos como fonte, é possível que exista inquérito de apenas um desses meninos.

Os autos indicam que o primeiro caso de criança desaparecida ocorrido após a prisão de Amailton é de Maurício Farias de Souza, de 13 anos. Ele sumiu em 27 de dezembro de 1992, 25 dias depois de o suspeito ser detido.

Já o segundo garoto é Renan Santos de Souza, de oito anos, que desapareceu em 24 de janeiro de 1993. Esse seria o caso que possui inquérito aberto nos autos, mas inconclusivo. Segundo o Comitê em Defesa da Vida das Crianças Altamirenses, até hoje ambos os desaparecimentos permanecem sem respostas.

Após Maurício e Renan, Flávio seria o terceiro menino a sumir em Altamira depois da prisão de Amailton. A diferença é que o seu corpo foi encontrado, o que deu início à investigação policial.

Ou seja, mesmo com o suspeito atrás das grades, os casos continuaram e pareciam ficar cada vez mais frequentes. E não só isso: os registros oficiais sobre as duas vítimas fatais anteriores – Klebson Ferreira Caldas e Flávio Lopes da Silva – indicavam que as emasculações seriam supostamente diferentes dos ataques anteriores.

Os dados coletados pelo Comitê mostram que a situação era bastante complicada na cidade: entre outubro de 1992 e março de 1993, há ao menos cinco relatos de meninos que sofreram tentativas de sequestro. Sobre esses crimes, não há nada nos autos produzidos por autoridades, apenas os relatórios elaborados por familiares das vítimas.

Um exemplo é um documento de 28 páginas, datado de 06 de outubro de 1996, que conta as histórias dessas crianças. Um trecho diz o seguinte:

No dia 22 de Novembro de 1992, pelas 4 e meia da tarde, SFS [inicial da vítima], 13 anos, retornava da escola. Caminhava para casa sozinho, quando um Fusca Branco parou ao seu lado e um dos ocupantes apontou uma arma de fogo para ele, mandando que entrasse no carro e não gritasse, se não ele atiraria. No carro estavam 3 pessoas, todas encapuzadas. Ele ficou no banco de trás junto com um dos homens. Os dois que vinham na frente conversavam, mas ele não conseguiu escutar nada.

O carro deu muitas voltas pela cidade. Quando já tinha anoitecido, o veículo enveredou pela rodovia Ernesto Acioly. Uns 200 metros após a sede da AABB, logo depois da entrada do Bairro da Colina, o carro parou embaixo de uma mangueira. Os dois homens que iam na frente, o motorista e o vestido de soldado, saíram e distanciaram-se ficando fora do alcance visual. Transcorrido algum tempo, alguém chamou: “Negão, vem cá!”. O homem que tinha ficado com SFS saiu do carro indo ao encontro de seus companheiros. O garoto aproveitou o momento para experimentar a maçaneta da porta do lado oposto do motorista. Para seu espanto, estava aberta.

Saiu do veículo. Do lado de fora, viu sua bicicleta encostada no carro. Pegou-a, mas esta caiu. Ele a arrastou um pouco e a seguir montou-a para fugir, descendo a rodovia Ernesto Acioly. Ainda teve tempo de ouvir um dos homens gritando “O menino está fugindo!”. Alguém também disparou um tiro em sua direção, mas ele pedalou desesperadamente, sem olhar para trás e nem parar em lugar algum. Entrou na rua Abel Figueiredo e foi parar na casa da companheira do pai, na rua dos Seis Metros, onde chegou arrastando a bicicleta que, na fuga, tinha furado os pneus e amassado as rodas.

Lá, encontrou um Policial Militar que se prontificou a levá-lo na Delegacia de Polícia.

Nessa época estavam em Altamira, em missão especial relacionada com a matança das crianças, os Delegados Brivaldo Soares e Orion Klautau. SFS e sua mãe informaram o que ocorreu. Três policiais foram juntamente com o adolescente ao local onde ele conseguira fugir. No outro dia, o mesmo acompanhou novamente a polícia até o local.

No transcorrer do seu depoimento na Delegacia de Polícia, os policiais acusavam SFS e o pressionavam constantemente para que contasse a verdade. Diziam também que ele estava querendo acusar um colega, pois um dos investigadores tinha o porte físico muito assemelhado ao bandido que usava a escopeta, só não podendo afirmar que era ele por não ter visto o seu rosto.

No ano de 1994, apareceram em sua residência dois homens brancos, bem vestidos, que se disseram policiais federais e apresentaram-lhe um documento da “juíza”, que seria uma autorização para que o menino fosse com eles até Belém, a pretexto de identificar um dos seus sequestradores entre alguns presos. A mãe achou essa história estranha e não acreditou em tais homens. Tratou de esconder o adolescente numa colônia afastada da cidade.

Esse é o relato de apenas um dos casos de tentativa de sequestro. A ausência deles nos autos pode soar como negligência e, até certo ponto, pode-se dizer que é. Mas alguns fatores precisam ser levados em consideração. Segundo o levantamento que Paula Lacerda fez em sua pesquisa de doutorado, nenhuma dessas situações chegou a ter inquérito policial. Isso porque valia a lógica de que “se o garoto voltou para a casa vivo e inteiro, e a polícia não é confiável, melhor deixar para lá”.

Além disso, não há como ter certeza se esses crimes tinham ligação com os dos meninos emasculados. Afinal, não eram incomuns os relatos de que em Altamira e cidades próximas crianças eram sequestradas para realizar trabalhos forçados em fazendas distantes. Por mais que esse tipo de explicação seja recorrente, ela é também difícil de ser verificada, dada a dificuldade de se mapear os casos de trabalhadores escravizados na região naquele período.

O jornalista Piero Locatelli cobriu por anos o trabalho escravo moderno no Brasil. Com a ajuda de alguns colegas, ele explicou o seguinte: o rapto de crianças em cidades do interior para trabalhos forçados provavelmente acontecia. Essa situação, no entanto, ficava diluída na falta de percepção da época de que o trabalho escravo era, de fato, uma realidade.

Isso pode parecer um absurdo, mas é preciso ter consciência do pensamento predominante no período. O crime de trabalho escravo como conhecemos hoje em dia só passou a existir em 1995. Esse tipo penal foi determinado a partir de histórias como a de Zé Pereira, um trabalhador escravizado que conseguiu fugir da fazenda onde era mantido em 1989. Antes de Pereira e outros fugitivos trazerem à tona as suas condições de vida, muitos acreditavam que essa situação era coisa de um passado distante. Há quem ache isso até hoje.

Essas tentativas de sequestro poderiam ter relação com os casos dos emasculados? Sim. Ou havia a possibilidade de estarem ligadas ao trabalho escravo? Sim. Jamais haverá uma resposta 100% satisfatória.

O fato é que o pânico estava disseminado em Altamira. Entre as mortes de Jaenes da Silva Pessoa e Flávio Lopes – outubro de 1992 e março de 1993 -, cinco garotos sofreram tentativas de sequestro, dois desapareceram e três foram encontrados mortos e emasculados. Isso sem contar os ataques anteriores. Como as autoridades não estavam agindo, as famílias tiveram que se reunir novamente e lutar pelos seus direitos.

O Comitê em Defesa da Vida das Crianças Altamirenses foi fundado em junho de 1993 pelos parentes das vítimas. Mas no fim de março do mesmo ano ele já era bastante atuante, com um núcleo originário intitulado Movimento Contra a Violência e a Favor da Vida. Por conta da presença de lideranças da Igreja Católica e ativistas sociais, como Antônia Melo, por exemplo, seus membros já possuíam contatos com políticos do Pará. Foi por meio dessa relação que os familiares dos meninos conseguiram ser atendidos em alguma medida. Na ocasião, a deputada estadual Ainda Maria, do Partido dos Trabalhadores (PT), tornou-se uma porta-voz dos anseios daqueles que haviam perdido os seus filhos.

A publicação de 1996 elaborada pelo Comitê defende que as investigações da Polícia Civil sempre foram precárias, sem recursos que pudessem possibilitar o esclarecimento dos fatos. Além disso, o relatório afirma que até mesmo os laudos médicos eram extremamente superficiais. Diante disso, a população se convenceu de que somente a ajuda da Polícia Federal (PF) traria a resolução para os casos.

O Comitê, então, passou a lutar por essa demanda junto ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), ao Ministério da Justiça, ao Congresso Nacional e outras instâncias.

Em abril de 1993, o governo federal enviou uma comissão à Altamira para verificar a situação. “Os representantes do Ministério [da Justiça] ficaram estarrecidos ao constatar o desaparelhamento da polícia, a falta de vontade política para elucidar os casos, o desamparo da população, o desespero das famílias, e prometeram a ajuda de Brasília”, diz o documento do Comitê.

Essa visita foi um marco importante para o processo. A partir dela, um relatório foi produzido em 12 de abril de 1993, assinado por Augustino Pedro Veit, conselheiro do Conanda e atuante no Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Não há no processo uma cópia integral do texto, mas o Comitê colocou alguns trechos na sua publicação. Esse relatório constatava a falta total de assistência pela qual as famílias passavam e o clima de pânico geral em torno da segurança das crianças. Sobre as investigações, Veit dizia:

Em relação às motivações dos crimes praticados, as informações e indícios levam a formular duas hipóteses: Primeira, que os autores sejam portadores de anomalias psíquicas e mentais ou psicopatas. Segunda hipótese é a de que os criminosos tenham ligações com grupos de Magia Negra ou seitas. Neste caso, é bem provável que tais grupos ou seitas sejam de fora do Município.

Esse trecho do relatório é bastante revelador sobre o que era comentado em relação aos crimes na época. Mas o que mais chama a atenção é como já se havia cristalizado a ideia de um grupo de pessoas responsáveis e não de apenas um autor. E, novamente, existe a menção à “magia negra” ou “seitas”. Dessa vez, de forma nada tímida, como era na ocasião em que Amailton foi preso.

Relatório do Comitê de 06 de outubro de 1996

POLÍCIA FEDERAL

Os familiares das vítimas em Altamira já não confiavam na polícia local. A passagem do delegado Brivaldo Pinto Soares Filho acabou por destruir de vez qualquer confiança que a população tinha nas investigações. Por isso, a demanda era de que a Polícia Federal intervisse. A crença, aparentemente, era de que esses agentes não estariam suscetíveis às influências dos poderosos da cidade, que seriam os principais suspeitos.

A partir daqui, não há documentos que comprovem as informações que serão repassadas. As fontes serão algumas matérias de imprensa e uma ou outra pista presente nos autos.

Segundo o Comitê, o relatório de Veit iniciou um movimento no Ministério da Justiça, em Brasília. Na época, o ministro era o Maurício Corrêa, que hoje já é falecido. A publicação dos familiares das vítimas afirma:

Uma primeira missão, sigilosa, de um agente da Polícia Federal, aconteceu de 17 a 21 de Abril de 1993. Na base do relatório desta primeira missão, o Ministro da Justiça, em data de 7 de Maio de 1993, determinou a intervenção da Polícia Federal.

De 25 de Maio a 26 de Junho de 1993, uma equipe de sete agentes da Polícia Federal esteve em Altamira para a primeira fase da Operação: as denúncias do Conselho Municipal dos Direitos das Crianças Altamirenses se revelaram tímidas. A Polícia Federal teve que investigar delitos praticados meses e anos antes, sem laudos periciais sobre os corpos das vítimas e os locais em que foram encontrados, com exames cadavéricos incompletos, superficiais, omitindo dados importantes para o processo investigativo.

Mesmo assim, pela primeira vez, a comunidade altamirense soube o que é uma investigação séria e competente. E deu seu voto de confiança aos agentes que aqui vieram, dispondo-se a colaborar com uma cordialidade que nunca polícia alguma tinha conseguido.

Ou seja, de acordo com o Comitê, o Ministério da Justiça decidiu federalizar o caso e determinou a intervenção da Polícia Federal. Um agente ficou na cidade por cerca de quatro dias em uma primeira fase. Em seguida, sete policiais permaneceram em Altamira entre maio e junho de 1993.

Os familiares das vítimas dizem que esses investigadores foram os primeiros a os acolherem e os ouvirem. Eles receberam um tratamento muito diferente daquele dos inúmeros delegados que passaram pela cidade por tantos anos.

As histórias sobre a atuação dos agentes da Polícia Federal são sempre espantosas. Há relatos, por exemplo, de que eles se disfarçaram de vendedores de picolé por toda a cidade para coletar informações de populares. Outros rumores apontam que esses policiais chegaram a realizar novos exames nos corpos das vítimas e a instalar grampos telefônicos pelo município – principalmente em imóveis de pessoas poderosas.

Não é possível saber, no entanto, o que exatamente a Polícia Federal fez durante esse período por um motivo bem frustrante: o relatório dos agentes não está nos autos. É fato que ele existe. Matérias de jornal da época, por exemplo, sempre o mencionam. Mas por algum motivo inexplicável, o documento sumiu do processo.

O relatório “Operação Monstro de Altamira” tinha mais de 80 páginas e a sua versão mais importante é datada de 24 de setembro de 1993. Se você tem alguma informação sobre o paradeiro do documento, mande mensagem para contato@projetohumanos.com.br.

Apesar dessa ausência, o podcast conseguiu apurar algumas informações sobre o documento: ele possuiu outras versões, uma delas do ano de 1996; as publicações eram provavelmente nomeadas em fases; e tudo indica que serviram como base para o que aconteceu no caso depois da morte de Flávio em março de 1993. Esse relatório foi assinado por um agente da PF que atuava como o chefe da equipe, José Carlos de Souza Machado.

O motivo pelo qual o relatório não está nos autos é um mistério. Em teoria, a PF não poderia atuar em crimes de homicídio que ocorrem em apenas um estado. A lei que disciplina a atuação da instituição em casos dessa natureza só surgiu em 2002 – nove anos depois de os agentes terem ido à Altamira.

Isso não significa que a Polícia Federal deixava de investigar crimes estaduais no período. Essa conduta, porém, poderia gerar problemas para a montagem do processo. Nesse contexto, a impressão é que alguém tomou a decisão de deixar que os agentes federais fizessem um trabalho mais profundo e livre, oferecendo até mesmo proteção a testemunhas, algo que a Polícia Civil não teria condições de realizar. A ideia, então, seria repassar todas as informações coletadas para o estado, que faria tudo correr oficialmente no órgão que de fato tinha competência para atuar. Dado o cenário em Altamira, se isso aconteceu, seria quase um ato de desespero em busca de soluções.

Essa decisão não teria sido fácil e nem mesmo rápida. A presença da PF na cidade não era escondida e chegou a ser divulgada pela imprensa. Uma matéria do jornal O Globo de 10 de junho de 1993 evidencia, por exemplo, uma série de erros que teriam sido cometidos pela Polícia Civil e, consequentemente, a necessidade de novas investigações:

Os crimes estão acontecendo desde 1989, mas a polícia de Altamira ainda não identificou os culpados. A deputada Aida Maria (do Partido dos Trabalhadores) informou que a população teme dar qualquer informação à polícia desde que o vigia Luiz Arcanjo de Moraes, de 49 anos, foi torturado após ter descoberto o cadáver de um dos meninos mortos.

Um dos suspeitos presos pela polícia, Rotílio Rosário, foi torturado e morto no quartel da Polícia Militar, segundo a deputada, o que aumenta o terror da população. Outro suspeito, Amailton Madeira Gomes, está preso em Belém. Mas, depois da prisão, houve outros crimes.

O deputado Aldir Viana, do PSDB, informou que as circunstâncias em que os assassinatos foram cometidos levam a crer que os crimes são praticados por mais de uma pessoa. O número de mortos também deve ser maior do que o de cadáveres já encontrados. Aida disse que os órgãos genitais e os olhos são arrancados dos corpos com bisturi, com uma técnica muito apurada, o que a leva a acreditar que é um trabalho profissional, executado por um médico ou veterinário.

O deputado federal Paulo Rocha (PT-PA), que acompanhou os deputados estaduais, afirmou que na próxima semana terá o resultado das investigações preliminares já feitas na área pela Polícia Federal. Eles querem agora que um grupo especial da PF siga até a região, para encerrar as investigações. Para o deputado, as polícias e a Justiça da região não são confiáveis.

Matéria do jornal O Globo – “Magia negra pode ter matado meninos em sacrifício no Pará”

Aparentemente, esse grupo especial da PF mencionado pela reportagem nunca chegou a acontecer. De acordo com o Comitê, os agentes já estavam em Altamira desde 25 de maio e encerrariam seus trabalhos em 26 de junho.

SUSPEITOS E TORTURA

Antes de avançar nas investigações, é preciso fazer um comentário sobre os suspeitos citados na matéria do jornal O Globo. Como já dito anteriormente no podcast, os detalhes do episódio envolvendo Luiz Arcanjo de Moraes não aparecem em nenhum momento no processo. Apenas reportagens de imprensa registraram as torturas que ele sofreu.

Depoimento de Luiz Arcanjo de Moraes

O ponto importante é que o caso do vigia não foi o primeiro. Antes mesmo de Amailton ser preso no fim de 1992, houve dois outros suspeitos. Um deles, Juarez Alves Araújo, de 54 anos, também era vigia. Pelos autos do processo, não se sabe muita coisa sobre ele. Mas há uma matéria impressa do jornal O Liberal, de 24 de setembro de 1992, afirmando que o homem havia sido detido por ter estuprado uma menor de idade. Isso ocorreu cerca de uma semana antes de Jaenes ser assassinado em outubro. A prisão de Juarez gerou enorme comoção em Altamira e inflou os ânimos da população, que queria linchá-lo. Ao que tudo indica, a linha de investigação que via o vigia como um potencial suspeito no caso dos emasculados não avançou muito e logo foi descartada.

Matéria do jornal O Liberal – “Vigia estupra e mata menina”

O outro suspeito anterior a Amailton era o andarilho Rotílio Francisco do Rosário, já mencionado no episódio 03. Ele foi detido no dia 8 de janeiro de 1992, uma semana após o desaparecimento de Judirley da Cunha Chipaia.

Rotílio foi apontado como um possível autor porque, em 07 de janeiro, havia estuprado uma garota de 19 anos próximo ao local onde o corpo de Judirley foi encontrado. A vítima o denunciou na delegacia e, no dia seguinte, ele acabou preso. Por se tratar de um delito de natureza sexual, cometido justamente naquela área, ele se tornou o principal suspeito no caso dos meninos emasculados. Nos depoimentos que prestou, confessou o abuso contra a garota, mas negou os demais crimes.

Interrogatório de Rotílio Francisco do Rosário

Para as famílias das vítimas, o caso de Rotílio é considerado mais um capítulo de ações desastrosas da Polícia Civil e serve também como exemplo de como a morte de Judirley é um ponto importante da história.

Até então, havia ao menos quatro casos que se destacavam: José Sidney, o primeiro a ser atacado e conseguir escapar com vida, em julho de 1989; o Segundo Sobrevivente, emasculado em novembro de 1989; Wandicley Oliveira Pinheiro, que também sobreviveu após o ataque em setembro de 1990; e Ailton Fonseca do Nascimento, que desapareceu em maio de 1991 e teve a sua ossada encontrada em junho. Devido ao estado avançado de decomposição, não era possível atestar se Ailton teve ou não os órgãos sexuais retirados. Judirley era, então, o primeiro garoto que havia sido achado morto e emasculado, o que gerou muita revolta na cidade.

O delegado de Altamira na época era Carlos Augusto Mota Lima. Devido à grande repercussão do assassinato do garoto indígena, o coordenador da Polícia Civil do Pará, Rafael Bezerra Neto, decidiu enviar uma equipe de Belém para acompanhar o caso. Em 06 de janeiro de 1992, três dias após o corpo de Judirley ser achado, esses investigadores chegaram em Altamira. Um deles era o delegado Bertolino Neto.

Esse foi o grupo responsável pela prisão de Rotílio. As matérias de imprensa da época dão detalhes sobre o morador de rua, sempre com fortes declarações de Bertolino, que dizia que o “monstro de Altamira” havia sido detido. As descrições do suspeito feitas pela própria imprensa afirmam que ele era um homem de 47 anos que vivia em condições imundas. De acordo com as reportagens, ele mancava de uma perna, não tinha o dedão do pé esquerdo, estava sempre bêbado e acompanhado de uma garrafa de cachaça. Tinha uma cicatriz no rosto produzida por um facão, se alimentava de ratos e insetos, era leproso e provavelmente comia os órgãos genitais de suas vítimas. Ou seja, os jornais descreviam um monstro. Havia até mesmo charges dele na época, bastante caricatas.

Em 14 de janeiro de 1992, Rotílio morreu no quartel da Polícia Militar do município, onde estava preso. Quem o encontrou sem vida dentro da cela foi uma enfermeira que levava remédios para tratar a hanseníase que o acometia. O médico legista Armando Aragão, que fez os laudos de várias vítimas, examinou o corpo do suspeito. No dia seguinte, lia-se nas manchetes de jornais: “Morre o monstro de Altamira”. A causa da morte, de acordo com a análise de Aragão, seria “edema pulmonar agudo e cirrose hepática”.

Reportagens sobre a morte de Rotílio

Até hoje, muitas pessoas que vivenciaram ou acompanharam os casos dos meninos não acreditam que Rotílio tenha realmente falecido de cirrose. Esse evento acabou por criar uma nova camada de desconfiança no trabalho da polícia, mesmo que a prisão do andarilho tenha sido feita por uma equipe de Belém. O fato era que um suspeito foi detido, morreu em circunstâncias estranhas e os casos continuaram acontecendo. Por isso, a população também passou a não confiar no médico legista da cidade. Afinal, se ele estivesse inventando uma história para livrar a polícia de abusos contra um preso, não seria ele também capaz de esconder detalhes sobre poderosos envolvidos nos crimes?

Não há nos autos, no entanto, nenhuma declaração apontando diretamente essa desconfiança no doutor Aragão. Anos mais tarde, ele mesmo se tornaria um político conhecido na cidade. Nas eleições de 2008, concorreu a vereador e venceu. Em 2012, foi reeleito e chegou a ocupar o cargo de presidente da Câmara Municipal. Por isso, não seria surpreendente se alguém acreditasse que o médico faria laudos “questionáveis” porque tinha interesses. Essa afirmação pode até ser compreensível, mas não existe nenhum indício de que é verdadeira.

O curioso é que o laudo de necropsia de Rotílio não fala em cirrose, como a imprensa noticiou. No documento, realizado com o auxílio do médico José Maria Feitosa, o legista afirma que o suspeito possuía vários ferimentos e detalha como alguns órgãos estavam bastante comprometidos. O perito finaliza: “os elementos que conseguimos coligir durante o exame foram insuficientes para esclarecer a causa da morte”. Esse dado, bem diferente do que foi divulgado pelos jornais, não chegou à população.

Laudo de necropsia de Rotílio

CORTES CIRÚRGICOS

Em relação às confusões do processo, tudo indica que o caso de Judirley é o momento em que aparece pela primeira vez a narrativa de que os cortes nos meninos seriam cirúrgicos.

Em uma reportagem do jornal A Província do Pará, de 24 de janeiro de 1992, o pai da vítima, José Marialves Chipaia, dava uma declaração sobre Rotílio. Ele nunca acreditou que o morador de rua era o responsável pela morte de seu filho.

Por ser indígena da etnia Xipaya, Marialves recorreu na época à ajuda da Fundação Nacional do Índio, a FUNAI, para que providências fossem tomadas. Ele foi auxiliado pelo administrador regional da instituição, Júlio César de Moraes, que deu entrevista à matéria:

Os cortes nas genitais das crianças não são coisa de bandido com baixo nível intelectual, mas de peritos, tal a precisão com que são feitos. Por isso é que a opinião pública acredita que haja uma verdadeira máfia assassinando crianças para, supostamente, exportar seus órgãos geniais para laboratórios no exterior’, afirma o administrador regional da FUNAI.

Matéria do jornal A Província do Pará – “O monstro está vivo”

Se já havia pessoas afirmando que os cortes eram cirúrgicos já no assassinato de Judirley, no início de 1992, a base da narrativa seriam os crimes contra os sobreviventes. Os primeiros exames de sanidade física realizados nos meninos, contudo, datam de 13 de janeiro daquele ano – ou seja, anos após os ataques que sofreram e exatamente no período em que Rotílio estava preso. Esse é um detalhe importante porque, na ocasião, os sobreviventes já haviam passado por cirurgias reparadoras. Logo, não há como ter certeza, com base na documentação oficial, de como estavam os cortes quando eles foram atacados.

Sobre isso, nos autos do processo há uma carta escrita à mão do doutor Lourival Barbalho, cirurgião que conduziu o tratamento dos garotos. Ela é datada de agosto de 2003, mais de 10 anos depois do início dos atendimentos:

Declaro que o segundo sobrevivente foi atendido por mim ainda todo envolvido por uma lama tipo tabatinga que o salvou da morte, pois funciona como hemostático.

A lesão que provocou a emasculação total me pareceu ter sido feita por pessoa com habilidade suficiente para produzir uma lesão linear e não contusa.

Essa última descrição não parece ser exatamente a mesma coisa que uma pessoa “com habilidade cirúrgica”. Um açougueiro ou um caçador, por exemplo, também teriam condições de causar esse tipo de lesão.

Carta escrita por Lourival Barbalho

Na falta de exames de corpo de delito, encontra-se nos autos relatos na imprensa. Um exemplo é uma matéria do Jornal O Liberal, de 18 de novembro de 1989, que narra o ataque ao Segundo Sobrevivente. Segundo o texto, após levar o garoto para o mato, o agressor tirou um lenço do bolso, onde havia uma navalha escondida. Ele, então, obrigou a vítima a tirar a roupa e cortou os órgãos genitais dela com um único golpe.

Matéria do jornal O Liberal – “Garoto emasculado pelo maníaco”

Matéria do jornal Diário do Pará – “Tarado ataca e mata 3 crianças em Altamira”

Já no caso de Judirley da Cunha Chipaia, o exame de necropsia foi realizado em 08 de janeiro, após exumação. Ele havia desaparecido no primeiro dia do ano e seu corpo foi encontrado 48 horas depois. Tudo indica que, por estar em avançado estado de decomposição, não há detalhes no laudo sobre as características do corte. O documento apenas afirma: “observamos a amputação completa de pênis e bolsa escrotal”.

Ainda em relação ao menino indígena, os familiares sempre afirmaram que o cadáver possuía buracos causados por tiros. Sobre isso, o laudo assinado por Aragão descreve que o garoto apresentava três marcas arredondadas, que não chegaram a penetrar a pele: na coxa, acima do supercílio e na mandíbula. Além disso, havia outras duas feridas com perfuração, presentes no lado esquerdo do pescoço e nas costas. Todas as lesões mencionadas tinham um centímetro de diâmetro. O legista dizia, no entanto, que não havia sido encontrado nenhum vestígio de projétil de arma de fogo. Ele não soube detalhar que tipo de instrumento poderia causá-las. No fim, isso jamais ficou totalmente esclarecido.

Ata de exumação de Judirley da Cunha Chipaia

Em entrevistas que concedeu na época, Aragão afirmava que os cortes não possuíam necessariamente qualidades cirúrgicas, mas que eram feitos com um objeto bastante afiado. É possível que isso passasse a impressão a leigos de que os ferimentos eram precisos o suficiente a ponto de serem feitos por profissionais da saúde. Os documentos dos inquéritos iniciais não condizem, porém, com essa informação.

A única autoridade que afirmou de forma contundente que esses cortes não seriam de profissionais foi o próprio doutor Aragão, em laudo enviado à época ao delegado Brivaldo. Na ocasião, o investigador perguntou se as lesões causadas em Jaenes da Silva Pessoa tinham características profissionais, e o legista respondeu que não. Mas a palavra do médico aparentemente já não ganhava mais confiança entre os familiares das vítimas.

Laudo enviado por Aragão à Brivaldo

NOVA PISTA

Durante o mês de fevereiro de 1993, ocorreram os depoimentos da fase de juízo a favor e contra Amailton Madeira Gomes. Após a morte de Flávio Lopes da Silva, em março, o processo ficou sem nada de novo por um bom tempo. A exceção é o depoimento em juízo de Gilberto Denis da Costa em 06 de maio, negando tudo o que havia dito contra Amailton.

Uma semana mais tarde, no dia 13, a defesa do filho de José Amadeu Gomes anexou mais de 100 declarações de moradores de Altamira dizendo que ele era uma pessoa idônea.

Enquanto o caso contra Amailton estava parado, outras coisas aconteciam em paralelo. Essa era uma nova fase que se iniciava com a investigação da Polícia Federal. Não demorou muito até uma nova pista aparecer: é uma carta de 02 de junho de 1993 escrita à mão por uma conselheira tutelar de Macapá, capital do estado do Amapá, a cerca de 400 quilômetros ao norte de Altamira. Seu nome era Sueli de Oliveira Matos.

O texto está anexado aos autos e possui sete páginas de escrita, acrescidas de duas de desenhos, que funcionam como um mapa mental. Ela possui conteúdo explícito sobre temas que envolvem violência sexual contra menores e sua leitura não é recomendada para pessoas sensíveis.

Nela, Sueli conta que atendeu o caso de Carlos Alberto dos Santos Lima, um rapaz de 25 anos que pedia ajuda para solicitar a guarda do filho que mora em Altamira. A mãe da criança, ex-esposa do jovem, tinha apenas 13 anos de idade. Na carta, ela é chamada de “Maria”, mas esse não é o seu nome verdadeiro – que foi ocultado também no podcast por se tratar de uma menor.

O homem lhe disse que conheceu Maria quando ela tinha 11 anos e ele era da Polícia Militar. Durante uma “batida”, ele parou o veículo onde ela estava com alguns “marginais” e a levou para a delegacia. Lá, manteve relações sexuais com a criança. “Ela não era mais moça e, depois que transaram, ele deveria morar com ela”, diz a carta.

O policial comentou com Sueli que passou a amar a menina, mas ela “não se comportava como esposa e sempre ficava dando bola para outros rapazes”. Sempre que estava com raiva, ele trancava a garota no quarto e, em várias ocasiões, chegou a agredi-la.

Em Altamira, era conhecido como “o justiceiro” por onde passava, pois, segundo ele, colocava ordem na cidade. Em 1991, teria sido transferido para Santarém por ter cometido um homicídio. Grávida, Maria se mudou com ele e juntos moraram também em Monte Alegre antes de voltar para Altamira.

Só retornaram tempos mais tarde, depois que o filho já havia nascido e os ânimos no quartel da PM se acalmaram. O policial voltou a trabalhar, mas não tinha mais o respeito dos colegas, o que o deixava com muita raiva. Ele, no entanto, não servia apenas à polícia, mas também atuava como segurança.

Em certo momento, Maria desistiu de conviver com o marido, mas a sua vontade não foi respeitada. Ele invadia a casa dos pais dela, onde morava, e a buscava na marra. O policial dizia que todos os seus problemas eram resolvidos com o revólver. “Ele é apaixonado por arma e gosta de atirar. Acha um esporte prazeroso”, escreve Sueli na carta.

Além de detalhar as atividades sexuais com Maria, ele contou à conselheira que chegou a torturá-la após um caso de ciúme. Comentou também que tinha atração pela irmã da ex-esposa, uma menina de 11 anos, com quem manteve sexo oral uma vez em que Maria não estava em casa. Ele disse que não a forçou a nada, apenas tinha um revólver na cabeceira da cama.

Segundo a carta, Carlos estava em Macapá há cerca de seis meses, morando na casa de um sargento e trabalhando como atendente em um bar. Às noites, se sentia depressivo. Entrava, então, em um quarto e ficava no escuro, tomando uma cerveja e escutando música. Ele disse ainda que a sua perspectiva de vida estava em Maria e, se ela não o aceitasse de volta, a mataria.

Diante de todos os absurdos que Carlos falava, um em específico merece destaque:

Carlos me disse que hoje estava preocupado com seu filho, pois disse que em Altamira ele era segurança do Tadeu, dono de posto de gasolina em Altamira, propriamente numa localidade chamada Mutirão, e que o Tadeu era o mandante de tirar os “piu-piu” dos meninos.

Ele me perguntou se eu já sabia dessas coisas. Eu disse que não. Aí ele continuou e disse que em Altamira algumas pessoas achavam que o mandante era um médico. Só que ele disse que ninguém desconfiava do Tadeu, pois ele apenas mandava o médico tirar os “piu-piu” dos meninos. Falou que o médico usava éter e que amarrava os meninos para tirar os órgãos.

Aí eu perguntei o porquê se tirava os órgãos dos meninos. Ele disse: você está perguntando demais. Aí eu me calei.

De acordo com Sueli, o policial apresentava um desequilíbrio grande. Ao mesmo tempo em que sorria muito, também falava sério com facilidade. Estava sempre preocupado com as horas e, quando mencionava o seu revólver, fazia o gesto e o som do tiro. Era um rapaz moreno e ainda usava o cabelo com o corte de soldado.

O relato da conselheira sobre a conversa que teve com o ex-policial militar Carlos Alberto Santos Lima, o A. Santos, é chocante.

Sobre a esposa de Carlos, não há muitas informações nos autos do processo. Existem alguns depoimentos que confirmam algumas coisas que Sueli relata na carta, mas nada muito substancial. O que aconteceu com Maria e seu filho é um mistério e uma angústia.

Para o caso em si, o mais importante era o trecho em que Carlos Alberto citava as suas atividades em Altamira. Especificamente sobre o fato de que ele fazia bicos como segurança e que teria trabalhado com um homem chamado “Tadeu”, dono de um posto de gasolina. Ele seria o mandante dos casos de crianças mortas e emasculadas na cidade. De acordo com a polícia e o Ministério Público, Tadeu era, na verdade, José Amadeu Gomes, pai de Amailton.

Carta de Sueli Oliveira Matos

No decorrer do processo, Sueli prestou alguns depoimentos. Em todos, seus relatos são bastante consistentes com o conteúdo da carta. Em um deles, ela explica o que fez com a correspondência.

A conselheira tutelar era muito amiga do padre Bruno Sechi, de Belém do Pará, importante liderança religiosa e ativista social mencionado no primeiro episódio. Ele foi um dos fundadores do Movimento República de Emaús, que atua até hoje na causa pela garantia dos direitos dos menores.

Diante disso, o movimento que se percebe é o seguinte: no dia 2 de junho de 1993, Sueli conversou com Carlos Alberto e escreveu a carta. Em seguida, talvez no mesmo dia, entrou em contato com o padre Bruno e provavelmente lhe enviou o texto que escreveu. Ele, por sua vez, estava em contato com as lideranças em Altamira, especialmente o padre Sávio Corinaldesi. Durante o esse período, como já citado, havia uma equipe da Polícia Federal no município. Essa equipe deve ter tido contato com a carta de Sueli.

Isso seria a explicação para uma situação específica: o primeiro depoimento oficial da conselheira ocorreu no dia 02 de julho de 1993, ou seja, um mês após escrever a carta. Essa declaração aconteceu na capital Belém diante do delegado Fábio Caetano, da Polícia Federal do Pará. Nessa época, ele já era ou estava prestes a se tornar superintendente da PF no estado.

Depoimento de Sueli para a Polícia Federal

Depoimento de Sueli em juízo

Essa movimentação merece destaque por dois motivos: primeiro porque, de acordo com os relatos do Comitê, a equipe de agentes da PF já havia saído de Altamira no dia 26 de junho. Ou seja, no mês seguinte, eles já não estavam mais trabalhando. Segundo, nessa época, a Polícia Civil já estava de volta no caso. Dessa vez, com um novo delegado.

O nome dele era Éder Mauro Cardoso Barra. Hoje, é mais conhecido apenas como Éder Mauro e é deputado federal pelo estado do Pará desde 2015. Atualmente está em seu segundo mandato.

A investigação que ele conduziu é assunto para o próximo episódio.

MAPA DOS CRIMES

Para acessar o mapa dos crimes atualizado, clique aqui.

O mapa indica os locais onde as vítimas sobreviventes foram resgatadas (verde), onde os corpos das vítimas fatais foram encontrados (amarelo) e onde os desaparecidos foram vistos pela última vez (roxo). Os locais são aproximados. Também são informadas a idade que os meninos tinham e as datas dos crimes.

Como às vezes há divergências em detalhes entre o que está em documentos policiais e judiciais e o que o Comitê em Defesa da Vida das Crianças Altamirenses indica, foram priorizadas as informações que estão em autos processuais. Já nos casos em que não existem registros oficiais, os dados do Comitê são utilizados. Há ainda casos apontados pelo Comitê cuja localização é desconhecida, portanto, não são apresentados neste mapa.

O mapa exibe a geografia atual de Altamira. Na época do caso dos emasculados, alguns aspectos eram diferentes.